Para salvar a Portuguesa, novo Canindé deve sair do papel ainda neste ano

A Portuguesa espera fechar ainda neste ano com a iniciativa privada o projeto de modernização do Canindé que vai representar a salvação financeira do clube. Existem três grupos de investidores interessados no projeto imobiliário que vai reduzir a capacidade do Canindé de 27 mil para 15 mil pessoas e explorar comercialmente o terreno de 110 mil metros quadrados. Os projetos, ainda não concluídos, sugerem um conjunto residencial, um hotel ou um centro de comercial. A parte social do clube será mantida, mas também reduzida e verticalizada. “Esperamos uma boa notícia para 2015 e queremos implementar esse projeto no ano que vem”, disse Jorge Gonçalves, presidente da Portuguesa.

Fontes ouvidas pela reportagem informam que o projeto já poderia ter saído do papel. Um grupo de investidores norte-americanos decidiu diminuir o passo das negociações depois da perda do grau de investimento do Brasil na classificação de crédito da Standard and Poor’s. Decidiram esperar alguns sinais de recuperação da economia brasileira antes de assinar a papelada.

Além disso, a diretoria decidiu alugar o ginásio poliesportivo para uma igreja evangélica, mas fez questão de colocar uma cláusula de devolução imediata em caso de necessidade. O clube vive momentos de ansiedade e expectativa.

O otimismo da diretoria, no entanto, esbarra em algumas questões jurídicas. A dívida do clube é de R$ 160 milhões. São R$ 60 milhões de causas trabalhistas e condenações em processos cíveis e cerca de R$ 100 milhões de tributos federais, estaduais e municipais. Na esfera federal, o clube estuda aderir ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) para refinanciar as suas dívidas. Os cálculos iniciais mostram prestações mensais de R$ 200 mil. Os diretores acharam a parcela muito pesada.

Para garantir o pagamento dos débitos com ações trabalhistas devidas pelos clubes nas últimas duas décadas, a 59.ª Vara Trabalhista de São Paulo penhorou e tornou indisponível um terreno de 42 mil metros quadrados da sede social do clube. A penhora foi determinada pelo juiz Maurício Marchetti que reuniu oito processos em uma única ação. A soma totalizou R$ 47 milhões (esse valor pode subir se surgirem novas ações). Em maio, a Lusa recorreu, mas foi derrotada.

Qualquer negociação referente às áreas de administrativas e de lazer (o estádio não está incluído) terá de ser resolvida nos tribunais. No caso das ações, o clube tenta diminuir o valor das condenações. No caso do leilão do Canindé, o clube recorreu de novo para ganhar mais tempo. Resumidamente, isso significa que os investidores terão de fazer um depósito inicial para a Portuguesa começar a resolver esses papagaios.

Em outra ponta da negociação, está a Prefeitura de São Paulo, que possui uma área de cerca de 33 mil metros quadrados em comodato com o clube. O poder municipal considera positiva a modernização do estádio para iniciar o processo de revitalização da região do Tietê. A ideia é promover na zona norte o desenvolvimento que aconteceu nos arredores do rio Pinheiros.

O principal chamariz do campo da Portuguesa é a localização. Ele está ao lado da Marginal Tietê, uma das principais vias de São Paulo, próximo ao Terminal Rodoviário Tietê, o maior da América Latina, e das estações de metrô Armênia e Tietê e até do aeroporto Campo de Marte. Além disso, o estádio possui ligação direta com o aeroporto de Cumbica, ampla rede hoteleira, além de hospitais e três shopping centers.

O Canindé ficou grande demais para a Portuguesa. Construído quando o clube tinha mais de 100 mil sócios – hoje são pouco mais de três mil -, as instalações são subutilizadas e o custo de manutenção é muito alto. A diretoria calcula que o rombo mensal é da ordem de R$ 200 mil.

Com isso, a ideia é demolir parte do estádio e fazer uma arena multiuso para gerar mais receitas. Mais ou menos o que acontece com Allianz Parque, sede dos jogos do Palmeiras, mas que recebeu neste sábado o show do cantor Rod Stewart. Ela também seria bem menor, com capacidade entre 12 mil e 15 mil. “Quando formos disputar um título, vamos jogar no Pacaembu ou na Arena Corinthians”, disse o presidente, sem perder o bom humor apesar da crise.

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