O Brasil em baixa

O mundo inteiro já sabe que o futebol brasileiro converteu-se num tenebroso balcão de negócios.

Pela primeira vez, em muitas Copas, a seleção brasileira não está entre as favoritas do Mundial. Na Ásia como na Europa fala-se na França, na Argentina, na Itália; fala-se até na Inglaterra que chegou ao Japão abalada pela contusão de seu maior ídolo, o meia atacante David Beckham.

O desprestígio da seleção brasileira não decorre apenas da trajetória sombria nas eliminatórias. O desgaste do nosso futebol é, principalmente, imoral. A imprensa européia chega a comparar o despudor da cartolagem brasileira com a máfia que domina o futebol turco. Por sinal, o primeiro adversário do Brasil, nesta Copa.

O presidente Fernando Henrique correu mundos ao longo de seus dois mandatos. Encontrou-se com chefes de estado, com chefes do governo. Certamente, o protocolo das visitas presidenciais jamais contemplou o tema futebol.

Imagino que, por zelo diplomático, os anfitriões do nosso presidente sempre evitaram tocar no assunto que, de uns anos pra cá, tornaram-se constrangedores. Afinal, o mundo inteiro já sabe que o futebol brasileiro converteu-se num tenebroso balcão de negócios.

Presidente Fernando Henrique, o futebol brasileiro, seja por seus clubes, seja por sua seleção, sempre foi o embaixador da nação brasileira.

Bola cheia de dólares

Quem pensa que Ronaldinho é o jogador mais bem pago do mundo vai ficar sabendo, agora, que o dono da bola, mesmo, se chama Zinedine Zidane, do Real Madri e da seleção francesa. O atacante franco argelino abre a lista dos 20 milionários do futebol feita pelo semanário ?France Football?. Entre salários e contratos publicitários, Zidane tira, pouco mais de um milhão de dólares por mês. Considerando que o moço joga oito partidas por mês, teremos a amena cifra de cerca de 131 mil dólares por partida. Considerando que cada partida dura 90 minutos, chegaremos a 1.500 dólares por minuto. É bem verdade que essa conta decai um pouquinho quando o juiz dá dois ou três minutos de acréscimo no tempo de jogo. Por ser um homem desprendido, Zidane não cobra nada pelos minutos adicionais…

Ronaldo, em dois anos de estaleiro, acabou perdendo o lugar de honra no bonde da fortuna. Agora, é quinto lugar, abaixo de Beckham, Batistuta e do japonês Nakata. O rendimento anual de Ronaldo é de oito milhões, 574 mil e 600 dólares. Isso dá cerca de 700 mil dólares por mês. Nada mal pra quem ficou dois anos sem chutar uma bola.

A galeria dos milionários do futebol europeu contempla o inglês Beckham com a entrada anual de nove milhões, 579 mil dólares. O terceiro da lista é Batistuta, que aparece na casa dos mesmos nove milhões de Beckham, abaixo, apenas, 186 mil dólares. O nome mais surpreendente da lista é o do japonês Nakata. Trata-se de um bom jogador, nada mais que isso. O segredo do rapaz é marketing. O futebol italiano, na camisa do Parma, transformou Nakata num produto pra agradar o mercado japonês de televisão e de licenciamento de produtos.

A lista chega a 20 jogadores. Além dos cinco citados, freqüentam o clube dos ricos os seguintes jogadores, aqui relacionados pela ordem do faturamento anual: Vieri, Raul, Recoba, Figo, Campbell (do Arsenal), Del Piero, Owen, Rivaldo, irlandês Keane, Totti, o francês Tierry Henry, McManaman, Veron, Maldini e o ucraniano Sevtchenko. A receita anual de Rivaldo, 13o da lista, é de seis milhões, 882 mil dólares. Ganha, por mês, no Barça, quase 600 mil dólares. Se não é a glória no paraíso europeu, é bem mais do que a soma do que ganham (e não recebem) os cinco jogadores mais bem pagos do futebol no Brasil.

Sofrimento colorido

Sofre o torcedor brasileiro, amante daquele futebol em que dois paralelepípedos ou um par de sandálias serviam como baliza e par ou ímpar era definitivo para a escalação dos times, com a ausência de um meia com visão ampla, talento infinito, habilidade desconcertante. Mas o padecimento não é apenas verde e amarelo. Em outros tons, por motivos diferentes, sentem arrepios os franceses e os italianos. Os atuais campeões mundiais estão apreensivos com a fisgada de Zidane. A fisionomia de tensão da maior atração desta Copa do Mundo se espalhou na França e tem como coadjuvantes todos os que gostam de futebol. O comportamento da França sem Zidane é uma incógnita. O jogo azul, vermelho e branco se concentra neste talento que faz o mundo se curvar.

E os italianos com Totti? Centro do esquema montado pelo defensivista Trapattoni, ele ainda não é uma certeza. Vai entrar em campo, mas não existe a convicção de que será o mesmo Totti do Roma; o mesmo Totti que encanta Zico – opinião que não pode ser desprezada quando o assunto é futebol. É a mesma dúvida que atormenta os ingleses. Todos os dias, eles bebem nos pubs por David Beckham. Terá tempo de se recuperar após aquela tentativa de assassinato sofrida num jogo do Manchester contra o La Coruña? Enquanto isso, a Argentina – integrante número dois do rol dos favoritos – vive situação inversa a do país. Na seleção, o clima é de tranqüilidade e o tom das entrevistas sereno, próprio de quem olha o horizonte e sabe que o navio chegará no porto na hora e dia marcados. “E Portugal?”, perguntará o leitor; “E a Alemanha?”, indagará o Kaiser. A primeira terá que mostrar que saiu da adolescência e a segunda, acho, está pensando em como preparar a festa na sua casa, daqui a………quatro anos.

Colaboraram Andréa Escobar e Paulo Cesar Vasconcellos

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