Bastidores do clássico

Nervosismo em campo, cartola sozinho e desespero da torcida

Vila Capanema, uma e meia da tarde. O ambiente de clássico entre Paraná Clube e Atlético começa bem antes da bola rolar. E bem antes mesmo desse horário. As torcidas se concentram – tem gente que chega de manhã na sede das organizadas. A Polícia Militar se prepara. Os técnicos da televisão soltam quilômetros de cabos que servem para fazer a transmissão sair do Durival Britto, passar pela RPC e chegar com qualidade digital nas nossas casas. Quando a tarde chega, está tudo organizado. Hora de esperar torcidas e times.

Portões ainda fechados, um setor das sociais está lotado. É a hora da “preleção” do comandante da operação da PM no estádio. Dá até vontade de ouvir as recomendações, mas alguns olhares enviesados sugerem que o melhor caminho é seguir em frente. Poucos torcedores entravam, a maior parte chegaria em comboio. Perto das 14h, os vestiários estavam prontos, esperando os boleiros chegarem.

E desde o primeiro passo de um atleticano, as vaias eram ouvidas. Abafavam inclusive a “vitrola do Casinha”, o sistema de som que executa uma série de músicas antes da bola rolar, intercaladas com o hino do Paraná. Os times estavam no estádio, logo aconteceria o aquecimento. Enquanto o mecenas do Tricolor, Carlos Werner, acompanhava do gramado, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, esperava sozinho num camarote. Minuto de silêncio em homenagem ao grande Edgard Felipe, narrador da rádio CBN que faleceu no sábado (23) após lutar por meses contra um câncer. Palmas para ele, que vai deixar saudade. Tudo pronto. Vai começar o jogo.

Um jogo quente em todos os sentidos. E que ferveu a cabeça do árbitro Leonardo Sigari Zanon. Ele parou o jogo para hidratação dos atletas. Foram dois minutos e meio de parada. Mas depois ele se perdeu nas contas e a etapa inicial quase chegou aos 52 minutos. E ao apitar, foi cercado pelos paranistas, que pediram pênalti de Léo em Válber. “Claro que foi”, reclamou o meia. “A gente precisa jogar a bola na área”, disse André Lima.

O atacante era um dos mais nervosos em campo. Anderson Uchôa também, Léo também, Rafael Carioca também. Era um nervosismo só também nos bancos. De um lado, Paulo Autuori com a tensão contida de um sujeito contido. De outro, Claudinei Oliveira chegando a levar um tombo de tanto reclamar da arbitragem. Nas arquibancadas, havia um misto de empolgação e desespero. Eram os pênaltis chegando. Nadson, o melhor dos tricolores e autor do gol, não estava mais em campo. Nikão, o cobrador oficial do Furacão, também não.

Depois da agonia dos pênaltis, em que quase fechou o tempo no meio do campo, a festa era dos atleticanos, que cruzaram o gramado para comemorar com a torcida. Enquanto os paranistas eram aplaudidos (à exceção de Nei e Lúcio Flávio), os atleticanos deixaram aos poucos o campo, ouvindo todos os xingamentos possíveis dos torcedores. Walter, Hernani e Otávio não se abalaram. Nikão provocou. Weverton pediu mais. Era o contraste da tristeza tricolor e da alegria rubro-negra. Eram seis e meia da tarde. Fim de clássico na Vila Capanema.

De joelhos! Veja a opinião de Mafuz sobre o Atlético!