Motta Ribeiro defende moralização na FPF

Escândalos, denúncias, processos, muita confusão… Um dia foi possível dissociar a Federação Paranaense de Futebol (FPF) dessas palavras. Aos 74 anos, Luiz Gonzaga da Motta Ribeiro é memória viva de uma outra realidade para o futebol do Paraná.

Único ex-presidente que sobreviveu às duas décadas de reinado de Onaireves Moura, Motta Ribeiro não se conforma com a atual situação da entidade. Fiel ao estilo que marcou sua administração, diz que é urgente que os clubes se unam para recolocar a FPF nos eixos.

Vinte e cinco anos depois, Motta Ribeiro não tem nenhuma pretensão de voltar ao cargo. ?Cada um tem a sua época. A minha já passou?, afirma. Em seu escritório no cartório do 9.º Tabelionato, Motta Ribeiro recebeu a reportagem da Tribuna, para uma entrevista em que não faltam sugestões para que a FPF deixe de lado as encrencas com o Fisco e com a Justiça e volte a freqüentar apenas as páginas esportivas.

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Tribuna – A FPF vive hoje uma situação caótica, com o presidente afastado, respondendo a diversos processos e mergulhada em dívidas. Em sua opinião, o que precisa ser feito para mudar isso?

Motta Ribeiro – Primeiro é necessário se desfazer do Pinheirão, para pagar a dívida. Hoje, ela é impagável. A FPF não precisa de estádio. No meu mandato, suspendi todos os recebimentos relativos à venda de cadeiras e não fiz nada no Pinheirão.

Tribuna – Em sua época como presidente, já existiam muitas dívidas?

Motta Ribeiro – Pelo contrário. Quando saí, deixei dinheiro em caixa. A FPF sempre teve caixa em alta. Na época, quando os clubes precisavam de um empréstimo bancário, a federação avalizava, pois tinha crédito. E nunca um clube deu o cano na FPF.

Tribuna – Como as coisas chegaram a essa situação?

Motta Ribeiro – Não sei o que o Moura fez para chegar nesse ponto. Não acompanhei de perto.

Tribuna – Além de pagar as dívidas, o que o próximo presidente precisa mudar na FPF?

Motta Ribeiro – É preciso separar o profissional do amador. Tem que existir a federação de futebol profissional e a das ligas amadoras, independentes. A Liga de Araucária não pode ter o mesmo peso de Atlético, Paraná e Coritiba. Os interesses não são os mesmos. Eu tentei fazer isso, mas não houve tempo.

Tribuna – De que maneira essa convivência entre amador e profissional atrapalha a FPF?

Motta Ribeiro – Se isso não mudar, as coisas vão continuar sempre assim. Quem quer dirigir a FPF começa a ganhar as ligas amadoras. Não é só o Moura que fez assim. O Millani (José, ex-presidente) já usava muito isso. E tem que acabar com a reeleição. Não é aceitável que uma pessoa permaneça mais de 20 anos na presidência.

Tribuna – O senhor, como ex-presidente, tem algum relacionamento com a atual diretoria?

Motta Ribeiro – Não, estou afastado do futebol. Mas não sou desafeto do Moura. Ele foi eleito com esforço meu, que ajudei muito na campanha.

Tribuna – Como surgiu essa decisão de apoiar o Moura?

Motta Ribeiro – Ele havia sido um grande presidente do Atlético e eu, como atleticano, ajudei. Para mim, foi uma grande decepção. Ele era um nome promissor. Mas depois, enveredou pela política. Eu acho que não pode misturar, fazer da federação uma escada eleitoral.

Tribuna – De que maneira a atual situação da FPF prejudica o futebol do Paraná em âmbito nacional?

Motta Ribeiro – Está faltando força política. No meu tempo, o Paraná era muito forte junto à CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF). Hoje, estamos desamparados. Por motivos políticos, o Atlético não pôde jogar a final da Libertadores em Curitiba (em 2005). Na época em que o Coritiba foi rebaixado (em 1989, no tapetão), também faltou representatividade.

Tribuna – Essa falta de prestígio junto à CBF também é culpa do Moura?

Motta Ribeiro – A situação poderia ser outra. Em 1985, o Medrado Dias (João Maria, parnanguara que foi dirigente do Vasco da Gama, do Rio) era candidato à presidência da CBF, contra o Otávio Guimarães. Eu era o primeiro vice-presidente na chapa. O Moura estava conosco, inclusive lançou a candidatura do Medrado aqui em Curitiba. Mas na hora, virou a casaca. A eleição terminou empatada e o Otávio ganhou porque era mais velho. Se o Moura tivesse votado com a gente, teríamos ganho. Mas ele votou contra. Por quê? Isso só ele sabe.

Tribuna – Depois de tanta confusão, parece que o Moura está realmente deixando a FPF. O que deve ser feito agora?

Motta Ribeiro – Tem que haver um consenso entre os clubes. Os governos estadual e municipal têm que participar. Na minha época, participavam ativamente, colaborando politicamente, pressionando a CBF… Mas tem que ter credibilidade. Não dá para pedir para o governador indicar o Pinheirão para a Copa do Mundo. É uma maluquice.

Tribuna – Qual o perfil ideal para o próximo presidente?

Motta Ribeiro – Tem que ser uma pessoa que tenha credibilidade. É preciso prestígio pessoal e político. Indiferente que seja ligado a algum clube ou não. Provavelmente deve ser, pois quem gosta de futebol sempre tem seu clube.

Tribuna – O senhor acha que é possível uma candidatura de consenso?

Motta Ribeiro – Parece difícil. Quando os clubes se unem, conseguem resolver as coisas. Mas aqui é todo mundo brigado. Se introduzem interesses pessoais, e assim não dá certo. Sempre houve rivalidade. Mas hoje há inimizade. Assim não chegamos a lugar nenhum.

Administração marcada pela diplomacia

A diplomacia foi a tônica do mandato de Luiz Gonzaga da Motta Ribeiro frente à FPF. A construção da sede da entidade, no Tarumã, e a divisão do título estadual de 1980, entre Colorado e Cascavel, foram os episódios que mais marcaram sua administração, entre 1977 e 1982.

Dez anos antes de assumir a FPF, Motta Ribeiro viveu o momento mais difícil da história do Atlético. Foi presidente entre 1966 e 1967, ano em que o clube terminou o Paranaense na última colocação. O Rubro-Negro só não foi rebaixado porque o sucessor de Motta Ribeiro, Jofre Cabral e Silva, comandou uma verdadeira revolução, virou a mesa e manteve o time na 1.ª divisão.

Quando foi eleito presidente da FPF, em janeiro de 1977, Motta Ribeiro encontrou um imenso abacaxi para descascar. O campeonato do ano anterior, que deveria ter acabado em agosto, estava suspenso desde então, pois Atlético, Colorado, Londrina e Coritiba não se entendiam sobre a fórmula de disputa do quadrangular final.

Ao contrário de seu antecessor, Esperidião Feres, Motta Ribeiro mostrou serenidade e agilidade para resolver a questão. Após dez meses de paralisação, o torneio recomeçou em março de 1977.

E terminou com o hexacampeonato do Coxa.

No ano seguinte, Motta Ribeiro acertou a realização de um amistoso entre a seleção brasileira e a seleção do Paraná, em Curitiba. Mais de 53 mil torcedores foram ao Couto Pereira e propiciaram a renda que permitiu à FPF construir sua atual sede administrativa, ao lado do Pinheirão, que na época estava com as obras suspensas.

Mas a grande polêmica ainda estava por vir. Em 1980, o quadrangular final do Paranaense chegou à última rodada com Colorado e Cascavel brigando pelo título.

O time da Vila Capanema, local da decisão, precisava de uma vitória por cinco gols de diferença. O Boca abriu 2 a 0 no 1.º tempo e o Cascavel, que já tinha dois jogadores expulsos, iniciou um cai-cai para encerrar a partida. Três atletas deixaram o campo ?contundidos? e o jogo teve que ser encerrado.

As duas equipes foram declaradas campeãs.

Motta Ribeiro deixou a FPF em 1982, quando deu lugar a Haroldo Alberge, o último presidente antes da era Moura.

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