Máfia do apito senta no banco dos réus

Treze árbitros e dirigentes serão protagonistas de um dos mais longos e esperados julgamentos da história do futebol paranaense. Os acusados de integrar a ?máfia do apito? sentam-se a partir das 13h30 de hoje no banco dos réus do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense de Futebol (TJD-PR), tentando se defender do envolvimento num escândalo que a cada dia produz novas revelações de falcatruas, conchavos e corrupção.

Todo o imbroglio teve origem num depoimento do então presidente do Conselho Deliberativo do Operário, Silvio Gubert, que falou ao canal ESPN Brasil que o pagamento de R$ 2 mil a um certo ?Bruxo? garantiria uma ?ajudinha? nos jogos da Série Prata. A entrevista aparentemente inocente desencadeou uma série de revelações, que colocaram em dúvida a condução da Série Prata, Série Ouro e futebol amador nos últimos cinco anos, pelo menos.

Através da imprensa, depoimentos diretos ou cartas ao TJD, várias pessoas ligadas ao futebol paranaense engrossaram a lista de denúncias. Meteram a boca no trombone Evandro Rogério Roman, que entregou seis apitadores supostamente envolvidos com o esquema; o árbitro José Francisco de Oliveira (Cidão), que acusou o diretor-admnistrativo da FPF Johelson Pissaia de comandar a corrupção; um ex-jogador do Engenheiro Beltrão, que acusou a direção do time de comprar árbitros para subir à Série Ouro; e o presidente do Prudentópolis, João Alberto Ituarte, que acusou a FPF de prejudicá-lo por ter se recusado a financiar a ?máfia?.

Algumas destas e muitas outras ?bombas? foram para as mãos do auditor do TJD Octacilio Sacerdote Filho, que em 20 dias ouviu acusados, acusadores e testemunhas. O relatório gerou as 13 denúncias oferecidas pelo procurador Davis Bruel, e promessas de ?limpeza? no esporte local. O auditor disse ter encontrado indícios de cinco crimes tipificados pelo Código Penal, entre eles estelionato, extorsão e formação de quadrilha, e juntado provas ?mais do que suficientes? para comprovar a existência da ?máfia do apito? no Paraná.

O Tribunal prometeu levar o escândalo à Promotoria de Investigação Criminal (PIC), mas até agora o Ministério Público não recebeu cópia do inquérito.

O resultado e os desdobramentos do julgamento de hoje podem determinar o futuro do comando do futebol paranaense. O escândalo pôs em xeque a atual gestão da FPF, pela acusação de envolvimento de membros importantes da diretoria e de ex-diretores de árbitros – indicados pela cúpula da entidade – na chefia da máfia. Além disso, defensores e testemunhas prometem trazer novidades estarrecedoras durante o depoimento. Até agora, o presidente da FPF, Onaireves Moura, manteve-se fora do centro da denúncias.

Pela gravidade do tema, o TJD dispensou a Comissão Disciplinar e fará o julgamento diretamente no tribunal pleno, composto por nove auditores e pelo presidente Bortolo Escorsim. Todos os suspeitos de integrar o esquema de corrupção estão sujeitos à eliminação do futebol. O resultado, que pode ser anunciado somente amanhã, é passível de contestação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Valdir de Souza também é denunciado em outros casos

O Tribunal de Justiça Desportiva encerrou o inquérito do caso ?bruxo? suspeitando que a atuação da máfia do apito não é recente, na Série Prata do atual Campeonato Paranaense, como deixou escapar o presidente do Conselho Deliberativo do Operário, Sílvio Gubert, em gravação para a ESPN. A Série Ouro também poderia ter sido aviltada, tanto que o TJD solicitou todas as escalas e classificações dos campeonatos depois de 2000. Os auditores não estão muito errados. Algumas novas denúncias comprovam que se o ?bruxo? não funcionou especificamente na primeira divisão, ele atuou em várias competições da Federação, desde simples jogos das ligas, passando pela Taça Paraná e Série Prata.

Pelo menos uma história comprova a existência de acertos no apito há mais de oito anos. O ex-árbitro Nelson de Souza conta que foi vítima de tentativa de suborno de Valdir de Souza, que comandou a Comissão Estadual de Arbitragem até o final do mês de agosto. Na época, Valdir era árbitro e presidente da liga de Franscisco Beltrão, que representa a equipe do Dois Vizinhos. Esta jogaria com o Vila Fanny, pela Taça Paraná, em Dois Vizinhos. Souza apresentou ao árbitro o cartão de Nelson Orlando Lemkhuln então diretor da Comissão de Arbitragem e tentou subornar afirmando que ?era interesse do pessoal lá de Curitiba? (Federação Paranaense) que o Dois Vizinhos levantasse a Taça Paraná, ?pra tirar um pouco o título da capital?.

Nelson de Souza achou estranho o ?interesse? da FPF e se ofendeu com a tentativa. Ele apitou o jogo normalmente, vencido pelo Vila Fanny, mas seu auxiliar, Lourival Policiuke, foi atingido por uma pedrada, vindo a cair no chão. A foto foi capa de um jornal da capital, na sua edição de segunda-feira. O árbitro denunciou o fato a Nelson Lemkhuln, que pediu um relatório à parte. Feito o relatório, Valdir de Souza foi posto na ?geladeira? por dois anos por Nelson Orlando. Isso explica porque o seu filho, Nelson de Souza Júnior, atual árbitro do quadro da FPF, não vinha sendo escalado pela atual comissão, dirigida por Valdir de Souza e Antônio Carvalho, o Carvalhinho.

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