Leão provoca argentinos

Para Émerson Leão, a melhor defesa é o ataque. Na véspera da final da Copa Libertadores da América o técnico do Santos preferiu o estilo agressivo ao contemporizador. E mostrou não ter medo nem apreço por argentinos, apesar de tê-los enfrentado muitas vezes como jogador e como técnico. “Você está me perguntando do que eu gosto no futebol argentino? Olha, não gosto nem de analisar argentino.”

Leão ridicularizou a pressão que possa existir no estádio do rival, lançou dúvidas sobre Jorge Larrionda, o uruguaio escalado para apitar o jogo de volta (dia 2 de julho, na Vila Belmiro) e mandou um aviso duro a quem pensa em vencer o jogo usando pressão. “Nossa torcida vai estar atenta e não ficará insensível no jogo da volta.” O treinador mencionou a fama dos argentinos de sempre valorizarem o que têm para falar sobre a possível dificuldade de jogar na Bombonera. “Eles gostam de comprar uma coisa por dois reais e dizer que vale dez. Valorizam o que têm e por isso ficam falando da pressão do estádio deles. A Bombonera é igual à Vila, só que um pouco maior. E o São Caetano não ganhou do Santos na Vila? Não dou importância a isso, não.”

Leão prefere outro discurso para falar do campo em que o Santos joga hoje. “Os meus jogadores sabem que fazem parte de um time de elite. Todo mundo quer ver um time de elite jogar. E nós temos de encher os estádios jogando sempre da mesma forma. A Bombonera é apenas mais um palco onde vamos jogar. Temos apenas de mostrar o nosso futebol, sem ligar para o adversário.” Depois, lembrou-se de duas finais da Copa Conmebol contra times argentinos: 97, quando dirigia o Atlético, contra o Lanús, e 98, quando estava no Santos, contra o Rosário Central. “Fora de campo fui agredido, mas meus times venceram. Se eles quiserem repetir esse comportamento, é bom se lembrarem que tem jogo de volta aqui, na semana seguinte. E a nossa torcida vai estar atenta. Pressão como em Medel-lín, tudo bem. Pressionaram e depois aplaudiram o Santos, como o América de Cali aplaudiu o Boca, mas violência, não. Violência vai ter troco.”

Leão mostrou-se preocupado com a arbitragem. Não de hoje, mas do jogo de volta. “Se a Conmebol escalou o (Oscar) Ruiz, só posso pensar que ele apitará corretamente, mas fico preocupado com o juiz do último jogo. Ele já apitou quatro jogos do Boca na Libertadores e isso é preocupante.” Na verdade, Jorge Larrionda apitou três jogos do Boca, que ganhou dois, contra Paysandu e Cobreloa, e perdeu do Medellín.

Bianchi, o carrasco de times brasileiros

Não existe um são-paulino com mais de 20 anos que não se lembre da fatídica final da Libertadores de 1994 em que o time perdeu o tricampeonato para o Vélez Sarsfield. Nem algum palmeirense que tenha esquecido as duas derrotas seguidas para o Boca Juniors, na final de 2000 e na semifinal de 2001. E existe um personagem que participou desses três capítulos da história do futebol sul-americano: Carlos Bianchi, o carrasco dos brasileiros, que pode fazer mais uma vítima em 2003.

O treinador, de 54 anos, hoje comandante do Boca, é um dos mais badalados da Argentina. Não é para menos. Seu currículo é de causar inveja em qualquer técnico do mundo. Entre outras conquistas, ganhou seis vezes o campeonato argentino, três Libertadores e dois mundiais.

Bianchi, que estreou no futebol profissional como atacante do Vélez em 67, tem história para contar também como jogador. Em 69 disputou um amistoso contra o Santos, de Pelé, e seu time venceu por 5 a 0. “É uma das grandes lembranças minhas do futebol, fiz os cinco gols do jogo.”

Muitos defendem que seja o comandante da seleção argentina na Copa de 2006, mas, por enquanto, a Associação de Futebol da Argentina não dá indícios de que vai chamá-lo.

Seus times normalmente têm como principal característica a forte marcação e os contra-ataques. Em Buenos Aires, durante entrevista coletiva, Bianchi disse, ontem, apostar numa final equilibrada. E rasgou elogios ao Santos.

“É uma equipe que joga um bom futebol, é um verdadeiro representante do Brasil.”

La Bombonera pulsa

“Dale Boooca… e Dale Boooca”. Esse grito de guerra o jovem time do Santos terá de enfrentar por várias vezes hoje no La Bombonera, na primeira partida da final da Libertadores. O estádio do Boca Juniors tem uma acústica especial que amplifica o som e fere o ouvido e a ?alma? dos adversários.

A movimentação dos torcedores, que saltam, cantam e dançam durante o tempo todo do jogo, é tamanha que o estádio estremece. “La Bombonera não treme, pulsa”, alerta um cartaz colocado há anos ao lado do campo e mostra uma doce poesia do que é uma verdade irrefutável. O gramado do La Bombonera treme de verdade.

Há pelo mundo estádios muito maiores do que o do Boca, com capacidade para 57.395 pessoas, mas é muito difícil encontrar algum que receba um baile com movimentos tão telúricos de seus torcedores e contenha tamanha ressonância.

Não há uma razão científica para explicar o “pulsar” desse estádio, inaugurado em 25 de maio de 1940. Alguns especialistas dizem que o campo treme e tem o som amplificado, não pelo fervor de seus fanáticos torcedores, mas por causa das arquibancadas extremamente inclinadas, quase mesmo sobre o campo de jogo. “No La Bombonera não joga qualquer um”, diz o goleiro o Abbondanzieri, do Boca. “Faremos o Santos sentir a pressão.” Será realmente uma prova de fogo para os meninos da Vila.

Voltar ao topo