Juan Pablo Montoya deixa de novo a Ferrari para trás

Pela segunda vez consecutiva neste ano, Juan Pablo Montoya desbancou a favorita Ferrari num treino de classificação. O colombiano da Williams larga hoje na pole-position para o GP do Canadá, oitava etapa do Mundial de Fórmula 1. E foi uma daquelas poles de piloto, não de carro. Montoya encontrou uma volta perfeita nos 4.361 m do circuito Gilles Villeneuve, fazendo o tempo de 1min12s836. Foi o único piloto a andar na casa de 1min12 no sábado frio e nublado de Montreal. Michael Schumacher, líder do campeonato, ficou em segundo, a 0s182 do rival.

Montreal – Na segunda fila, também uma Ferrari e um Williams: Rubens Barrichello em terceiro, com Ralf Schumacher em quarto. Desse quarteto sai hoje o vencedor da etapa canadense, salvo alguma surpresa excepcional. “Espero que meu controle de largada funcione bem desta vez”, falou o colombiano, admitindo que em Monte Carlo o dispositivo o deixou na mão. “Hoje eu consegui uma volta muito boa e estamos numa boa posição para a corrida.” Schumacher, por sua vez, tentou tranquilizar os torcedores da Ferrari. “Estamos muito mais competitivos aqui do que no ano passado. Nosso acerto para a corrida é muito bom”, garantiu o alemão.

Montoya soma agora seis poles na carreira, três nesta temporada (as outras foram em Hockenheim, Spa e Monza/2001, e Interlagos e Mônaco/2002). Ele é o vice-líder do Mundial com 27 pontos, ao lado de Ralf, 33 atrás de Schumacher. Barrichello, o terceiro no grid, ficou satisfeito com o resultado. “Eu bati nos treinos livres e tive pouco tempo para andar com o carro de tanque vazio. Diante dessas circunstâncias, foi bom”, falou o brasileiro, que parte ao lado do desafeto Ralf Schumacher na segunda fila. “A tática na largada é sai da frente que atrás vem gente”, brincou o piloto.

A maior surpresa no grid foi a presença de Giancarlo Fisichella, da Jordan, em sexto. O italiano sempre anda bem no Canadá, onde terminou seis vezes na zona de pontos. Os outros brasileiros da F-1 não foram bem. Felipe Massa, da Sauber, reclamou de um problema de diferencial, depois de óleo na pista e depois da chuva para justificar o 12.º lugar no grid. Seu companheiro, Nick Heidfeld, ficou em sétimo. “Foi frustrante”, reconheceu Felipe. Enrique Bernoldi parte em 17.º. O GP do Canadá, com 70 voltas, começa hoje às 14h de Brasília.

“Jamais serei um Fangio”

Montreal – Michael Schumacher está próximo de conquistar seu quinto título mundial, façanha até hoje só alcançada pelo argentino Juan Manuel Fangio, nos anos 50. Mas o alemão foi sincero ao comparar a F-1 de hoje com a de meio século atrás. “Jamais serei um Fangio”, disse o piloto da Ferrari. “O que ele conseguiu é incomparável. É preciso ter muito respeito pelo que faziam os pilotos da época dele. O que fazemos hoje não chega nem perto.”

Recordista de quase tudo na categoria (vitórias, voltas na liderança, pontos acumulados, melhores voltas e vitórias e pontos numa única temporada estão entre as marcas absolutas que ele já estabeleceu), Schumacher ocupa a liderança do Mundial com confortáveis 33 pontos de vantagem sobre Ralf Schumacher e Juan Pablo Montoya, a dupla da Williams.

Michael diz que bater Fangio não é seu objetivo. “O maior desafio da minha carreira era conseguir um título para a Ferrari, o que eu fiz em 2000. Daí para a frente, só me preocupo em ter prazer de correr e competir. Enquanto eu tiver prazer, continuo. O número de vitórias ou de títulos que vierem em decorrência disso não tem importância”, garantiu.

Quando fala de respeito ao que Fangio e seus contemporâneos fizeram nas pistas, Schumacher se refere basicamente à coragem de pilotos que não usavam cinto de segurança, que corriam em pistas delimitadas por postes ou montes de feno, à beira de precipícios ou com o público a poucos metros do asfalto. Capacetes? Não existiam; eram toucas de couro com óculos para proteger os olhos de pedriscos e outros detritos que os carros da frente atiravam para trás.

A tecnologia aplicada nos carros daqueles tempos e aquela usada hoje é, de fato, incomparável. Em comum, os F-1 de meio século atrás tinham, com os atuais, o fato de usarem quatro pneus e as velocidades assombrosas. Sim, já há meio século era possível atingir mais de 300 km/h, mas sem pneus aderentes, sem áreas de escape, sem célula de sobrevivência, sem aerofólios. Tudo na raça. “Esses caras eram machos de verdade”, disse uma vez Emerson Fittipaldi, depois de pilotar uma Mercedes da década de 50 em Hockenheim.

Fangio, morto em 1995 aos 84 anos, chegou tarde à F-1, quando já beirava os 40. Fizera carreira, nos anos 30 e 40, nas provas de longa distância com carreteiras em estradas de terra na Argentina. Quando chegou à Europa, dominou a F-1 enquanto correu. Foram apenas 51 GPs em nove temporadas, entre 1950 e 1958, cinco títulos, 24 vitórias e 48 presenças na primeira fila, entre outros números espetaculares.

Schumacher, que nunca viu Fangio correr, é sábio quando se afasta das comparações. Aqueles que acompanharam ao vivo as aventuras do argentino garantem que ninguém jamais será capaz de fazer o que ele fazia ao volante de um carro de corrida. Fangio virou lenda. Schumacher, para muitos, também já é. Mas os mitos esportivos só passam a sê-lo quando encerram suas carreiras ou quando morrem. Michael não quer ser uma lenda viva. “Quero apenas me divertir correndo”, sentencia. (FG)

Voltar ao topo