Futebol feminino brasileiro pede socorro

Rio – A jogadora Marta, eleita pela Fifa semana passada como a  melhor do mundo em 2006, pediu mais investimentos para o futebol feminino. Na opinião da atacante, mais recursos deveriam ser aplicados para que a modalidade possa se tornar sustentável no Brasil.

?A esperança é a última que morre e eu não desisto nunca. Vamos tentar conquistar algo para o futebol feminino. Tenho muitas amigas que hoje estão sem clube, mas não tenho como ajudar a todas. Aqui no Brasil temos condições de ter uma Liga. Porque não investir no futebol feminino??, indagou a atleta do Umea, da Suécia, com quem tem contrato até o final da próxima temporada.

Marta recebeu o prêmio pelo terceiro ano consecutivo em que foi para a final. Em 2004, ficou em terceiro lugar e em 2005, em segundo. ?Já imaginava que isso poderia acontecer, mas foi muito rápido. Quando fui premiada, muitas coisas passaram pela minha cabeça. Quando comecei, jogava no meio de um monte de homens e ouvia coisas desagradáveis. Busco ajuda na minha família?, destacou a alagoana de Dois Riachos, medalha de prata com a seleção brasileira nas Olimpíadas de Atenas, na Grécia, em 2004.

País perde posições no ranking

Genebra – Se Marta chegou ao topo e conquistou o título de melhor jogadora de futebol do mundo em 2006, a seleção brasileira não apresenta o mesmo rendimento no ranking da Fifa. Em lista divulgada na última sexta-feira, o Brasil caiu duas posições na classificação, terminando o ano apenas na sexta posição. O ranking de seleções femininas da Fifa é liderado pela Alemanha, que, em 2006, sofreu apenas uma derrota nos 13 jogos disputados. As alemãs são seguidas pelos Estados Unidos e Noruega.

A Suécia, país onde Marta joga por uma equipe local, vem na quarta colocação e é considerada o lugar com a liga nacional mais competitiva do mundo. Na quinta posição está a Coréia do Sul, superando o Brasil.

A seleção brasileira é mantida pela CBF, mas se já alerta que não terá como continuar com essa situação os clubes não oferecem condições para que o futebol feminino possa se desenvolver. O que a CBF teme é que, quando a atual geração envelhecer, a renovação será difícil e o time poderá cair de produção.

Marta fica mais um ano na Suécia

Maceió – Marta revelou que vai continuar jogando no Umea, da Suécia, embora tenha convite para jogar em outros clubes da Europa e Estados Unidos. ?Renovei contrato com eles por mais um ano. Portanto vou continuar no clube até o final da temporada de 2007?, afirmou a melhor do mundo, que descansa em sua cidade natal, Dois Riachos, no sertão alagoano (a 180 quilômetros de Maceió).

Marta dedicou o troféu de melhor jogadora à mãe, Dona Tereza, sua grande referência de luta, de persistência e humildade, aos amigos de infância, às colegas do CSA (time de futebol feminino que defendeu em Dois Riachos) e da seleção brasileira, além dos moradores da sua cidade natal. ?Tenho muito orgulho de ter nascido aqui e estou muito satisfeita com a forma carinhosa com que fui recebida de volta na minha cidade?, afirmou a jogadora, que retorna para Estocolmo, na Suécia, no início de 2007.

Novo símbolo mundial

Zurique – Cobiçada por clubes de vários países e até para se tornar embaixadora da ONU, Marta e seus assessores montam um plano para transformá-la na nova imagem globalizada do futebol feminino nos diversos mercados. A situação internacional da jogadora, de 20 anos, contrasta com a realidade brasileira, onde nem mesmo um campeonato nacional consegue ser organizado. ?O Brasil é o País do futebol masculino. Não o País do futebol feminino?, atacou a número 1, que é obrigada a viver literalmente em dois mundos bem diferentes quando se trata de sua profissão.

Vida de estrela

Marta joga desde os 17 anos no Umea da Suécia, país onde o campeonato nacional é considerado o mais competitivo do mundo. Lá, vive a vida de uma verdadeira estrela, ainda que dificilmente fosse reconhecida se caminhasse pelas principais ruas das cidades brasileiras. Sua fama chamou a atenção dos agentes de Ronaldo que, há poucos meses, assinaram um contrato com a jogadora. ?Estamos montando um plano para desenvolver a imagem da jogadora?, afirmou Fabiano Farah, seu assessor, que admite a negociação com empresas para que utilizem a imagem de Marta.

Apenas nas últimas semanas, a atacante recebeu quatro propostas diferentes para mudar de clube, inclusive dos Estados Unidos e Alemanha.

?CBF discrimina mulheres?

São Paulo – As declarações do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de que a carência do futebol feminino no Brasil se deve à falta de interesse dos clubes, revoltaram Romeu Carvalho, presidente do Saad, o mais tradicional time feminino do País. ?A CBF não cumpre sua função de organizar um campeonato nacional. E são clubes, mesmo sem apoio, que ainda mantém o futebol feminino. A CBF discrimina mulheres?, disparou o dirigente.

Segundo ele, nem mesmo cuidar da seleção brasileira – o que Teixeira diz ser a função de sua entidade – a CBF faz direito. ?Depois da Olimpíada de Atenas, a seleção só voltou a disputar competições oficiais neste ano, no Sul-Americano?, criticou Carvalho – foram quase dois anos e meio sem atividades, que custaram, entre outras coisas, a perda do título continental para a Argentina, na primeira derrota do Brasil na competição.

Calendário

Kleiton Lima, técnico do Santos, não acha estranho que times tradicionais tenham deixado de investir em times femininos. ?Em 1997, quando foi realizado o primeiro Paulista, todos os grandes tinham equipe. E por que não têm hoje? Porque não há calendário definido.?

As competições atuais são amadoras, como a Taça Brasil. A disputa, realizada pela Liga Nacional de Futebol, foi decidida na última quarta-feira, entre Duque de Caxias (RJ) e Botucatu (atual campeão paulista), em Jaguariúna (SP). O jogo terminou em 2 a 2 no tempo normal e o Botucatu venceu por 4 a 3 nos pênaltis.

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