Flávio ganha a “chance da vida” no Paraná

Para Flávio, 2003 será o “ano do resgate”. Com a saída de Márcio, o técnico Caio Júnior já antecipou a intenção de lançá-lo como novo titular da camisa 9. Posição que ele já ostentou na campanha o último título conquistado pelo clube, campeão do Módulo Amarelo da Copa João Havelange. Flávio pretende apagar o ano que termina da memória, período em que esteve muito mais no departamento médico do que em campo. O jogador não vê a hora de novamente ser chamado de “artilheiro”. Afinal, desde que retornou do Vitória da Bahia, ele só conseguiu marcar um gol com a camisa tricolor.

“É melhor esquecer tudo isso e colocar na cabeça que 2003 será um grande ano”, dispara o atacante. Revelado nas categorias de base do clube, Flávio, pode-se dizer, teve uma ascensão relâmpago. Em 2000, começou a Copa JH no banco de reservas, ainda com Ary Marques no comando do time. Foi com ele que Flávio começou a entrar em uma briga mais intensa com Márcio pela condição de titular. Ary deu lugar a Geninho e Flávio foi mantido no ataque. Porém, ao longo de toda a primeira fase houve um constante rodízio entre os centroavantes.

Flávio, na primeira etapa da competição, fez somente dois gols – contra Americano (1×0) e Londrina (3×0) – e só ganhou a posição definitivamente após a segunda fase. Quando marcou um gol decisivo diante da Anapolina, pelas oitavas-de-final (2×0), ganhou a preferência do técnico Geninho e não decepcionou. Fez um gol por etapa e ajudou o tricolor a garantir o título nos jogos frente a Bangu (quarta-de-final), Remo (semifinal) e São Caetano (final). “O time deslanchou e eu subi com a equipe, que jogava fácil”, lembra. Após comemorar o módulo amarelo, o clube ainda avançou para a “fase quente” da JH, com a presença das equipes de elite e que compunham o grupo azul.

A pontaria de Flávio continuava certeira e ele marcou um golaço frente ao Goiás (3×0), em pleno Serra Dourada. Também na outra etapa, ele deixou sua marca, só que na derrota para o Vasco (1×3), que acabou determinando a eliminação da equipe. Em resumo, Flávio participou de 23 jogos (15 deles como titular) e marcou oito gols. Pouco depois, era negociado com o Vitória. O clube baiano fez uma parceria com o Paraná, adquirindo 50% de seus direitos federativos. Flávio até começou bem em Salvador, mas não conseguiu se firmar. Tanto que seis meses depois retornaria ao Paraná.

Aqui chegando, o obstáculo tinha nome: Márcio. O atacante aproveitou a chance e não decepcionou. Assumiu a condição de titular e deu poucas oportunidades ao “rival”. “Minha intenção era voltar a brigar pela camisa 9 no ano seguinte, mas deu tudo errado”, lembra. No início da Sul-Minas, Flávio até começou um jogo e teve participação em outros dois. Mas aí começaram os problemas acentuados de pubalgia, que culminariam com uma cirurgia.

O jogador ficou parado de fevereiro a agosto e nesse período ainda teve que ser operado uma segunda vez, pois ao voltar aos treinos houve uma complicação. No campeonato brasileiro, Flávio esteve no banco de reservas na maioria dos jogos. Porém, só começou uma partida – diante do Paysandu – e entrou em outras quatro. “Foi um ano ruim, mas que já passou”. Flávio aposta no bom trabalho realizado na primeira fase da pré-temporada e garante estar animado com a possibilidade de voltar a comemorar gols. “É o momento de dar a volta por cima”, finalizou.

360 dias de sofrimento

Irapitan Costa

No fio da navalha. O Paraná Clube viveu em 2002 uma crise financeira sem precedentes. O reflexo imediato foi o constante risco de rebaixamento no campeonato brasileiro, após um primeiro semestre relativamente razoável. Discriminado pelo Clube dos 13 na divisão das cotas de tevê, o clube se viu sem receita para cobrir sequer os gastos com o departamento de futebol e no final – após o alívio da permanência na elite nacional – precisou reestruturar seu elenco, reduzindo gastos e apostando na categoria dos garotos revelados em suas categorias de base, como Fabinho, Waldir e Dennys.

O Paraná fechou a temporada sem títulos. No início do ano a aposta era na seqüência do bom trabalho que desenvolvera o técnico Paulo Bonamigo no ano anterior. E a “largada” da equipe foi animadora, com três vitórias e apenas uma derrota, nas quatro primeiras rodadas da Copa Sul-Minas. O time contava com duplas entrosadas nos três setores: André e Ageu, na zaga, Hélcio e Marquinhos, no meio-de-campo, e Maurílio e Márcio, no ataque. O time parecia embalar com a estréia vitoriosa na Copa do Brasil (3×1 sobre o Bragantino, no interior paulista), mas a partir daí a equipe começou a sofrer alterações e veio a queda de rendimento.

Principalmente na Sul-Minas, onde o time somou apenas 19 pontos em 15 jogos (aproveitamento de 42%) e ficou distante da classificação para a fase decisiva. Paralelamente a isso, o Tricolor se superava na Copa do Brasil e ia avançando na competição nacional. Após eliminar o time de Bragança Paulista, em apenas um jogo, superou também o Guarani e o Botafogo, chegando à disputa de uma vaga para as semifinais. Contra o Alvinegro carioca fez seu melhor jogo, em mais um show tricolor no Maracanã (3×1), mantendo sua invencibilidade, até então, no Maior do Mundo. Porém, no jogo da volta, em Curitiba, perderia o artilheiro Márcio por quase dois meses, devido a uma lesão muscular.

Sem seu “ponto de referência” na área adversária, o Paraná não segurou o Corinthians, em São Paulo (3×1) e mesmo vencendo em casa (1×0) “naufragou” mais uma vez nas quartas-de-final. Com a desclassificação, a saída de Bonamigo se concretizou. Há tempos ele estava cotado para assumir o rival Coritiba. Além dele, seus auxiliares também se foram e o Tricolor optou por uma solução caseira: Caio Júnior foi promovido dos juniores e Omar Feitosa contratado para ser os eu auxiliar-técnico. A dupla dirigiu o time em três amistosos e nos seis jogos do superparanaense. Foram sete vitórias, um empate e apenas uma derrota. A “mancha” ficou justamente para esse revés. A goleada por 6×1 para o Atlético, custou o título da competição.

A imagem foi parcialmente recuperada com um placar também significativo: 4×1 no jogo da volta. Assim, Caio Júnior foi confirmado como o técnico da equipe na excursão para a Ucrânia, em pleno período de Copa do Mundo. Em sua segunda incursão por gramados estrangeiros, o time deixou sua marca no Leste Europeu, com três vitórias e um aproveitamento máximo. Destaque para o jovem Dennys, de 17 anos, e Ronaldo. O meia veio para substituir Marquinhos, que ser transferiu para o Flamengo, e marcou dois dos quatro gols da equipe no exterior.

Novo comando

No retorno ao Brasil, a diretoria decidiu trazer um treinador experiente para o Brasileirão, mas mantendo Caio Júnior e Omar Feitosa como assistentes. A opção foi Otacílio Gonçalves, que largou a “aposentadoria” para retornar ao clube com o qual conquistou o título brasileiro da segunda divisão, em 1992. Nisso, o Paraná ainda perdia Hélcio e Ageu, emprestados a Atlético Mineiro e Portuguesa, respectivamente. O zagueiro André ganhou liminar na Justiça do Trabalho e abandonou o clube, fazendo com que a diretoria – às pressas – saísse à busca de reforços para a defesa.

Vieram o lateral Bosco, os zagueiros Cristiano Ávalos, Rodrigão e Fávio Luís e mais o volante Leandro. Sem dinheiro, o clube ainda se viu obrigado a emprestar Lúcio Flávio para o Coritiba por não poder arcar com os salários do atleta. O novo grupo fez dois amistosos – derrota para o Juventude e vitória sobre o Império Toledo – antes da estréia no campeonato brasileiro, frente ao vice-campeão das Américas, o São Caetano. O time passou no “teste de fogo” e arrancou com vitória (2×1). Otacílio Gonçalves, com seu estilo ofensivo, fez o Paraná realizar bons jogos, como as goleadas sobre Palmeiras (5×1) e Flamengo (3×0), mas não conseguiu impedir a instabilidade da equipe nos jogos fora de casa.

Foram sucessivas derrotas e somente uma vitória (diante do Inter) até o fim da “escrita” no Maracanã. O revés diante do Fluminense – 3×2 – foi a gota d’água e Otacílio foi demitido, após 15 jogos (quatro vitórias, dois empates e nove derrotas). A essa altura, o clube já havia trazido os zagueiros Weligton e Roberto, que terminariam o ano como titulares. A diretoria chegou a sondar outros técnicos – Abel Braga e Lula Pereira – mas acabou apostando apenas na efetivação de Caio Júnior. Mesmo com o time continuando instável fora de casa, o treinador tornou o time “guerreiro” e no final veio a compensação.

Com quatro vitórias e um empate em casa e mais um pontinho fora – na última rodada, em Florianópolis – o Tricolor “salvou” seu ano, assegurando a permanência na primeira divisão, apesar na melancólica 22a. colocação – mas à frente de Portuguesa, Palmeiras, Gama e Botafogo, que caíram para a segundona. Restou ao torcedor o alento de vibrar com esta fuga do rebaixamento como se fosse um “título” em um ano de “vacas magras” e inúmeros problemas administrativos, onde processos na Justiça do Trabalho ganharam mais repercussão que a atuação do time dentro das quatro linhas.

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