Fifa estuda tecnologia para diminuir erros de arbitragem

Ana Paula de Oliveira anula dois gols do Botafogo  em lances polêmicos na semifinal da Copa do Brasil. O trio comandado por Leonardo Gaciba invalida tento legal do Paraná e marca pênalti inexistente em favor do São Paulo no confronto pela 4.ª rodada do Brasileirão. Elvécio Zequeto e assistentes validam gol em impedimento que dá empate ao Figueirense e afasta o Botafogo da briga pela ponta do Nacional. Erros e mais erros que despertam desconfiança, causam prejuízos e ressuscitam as propostas de introduzir a tecnologia a serviço do futebol.

Por enquanto, a forma de combater as falhas no apito normalmente é a punição aos juízes – apesar de alguma falta de critério, pois Gaciba foi o único a passar ileso nos três casos acima. Mas a seqüência de equívocos e alguns episódios de corrupção, como os registrados recentemente no Brasil (caso Edílson) e Alemanha, reforçam a possibilidade de medidas mais efetivas.

A própria International Board, o organismo que define mudanças nas regras do futebol, contrariou seu famoso conservadorismo ao aprovar experimentos mais sérios com o chip instalado na bola. O dispositivo determina com precisão se ela cruzou ou não a linha do gol em lances duvidosos. ?Chegamos a um momento crítico. Há um consenso geral de que é hora de dar um passo à frente?, declarou a agências internacionais o chefe-executivo da Liga Inglesa, Brian Warwick, que recebeu o 121.º encontro da comissão de regras do futebol, no último mês de maio.

?Só não é possível substituir o ser humano?

O chip já foi testado no Mundial Sub-17 do Peru, em 2005. A Federação Inglesa já se dispôs a testar o sistema desenvolvido pela companhia Hawk-Eye, usado atualmente no tênis e no críquete, em jogos de juniores e amadores.

Evoluções como esta agradam em cheio os principais alvos das críticas. ?Não vejo como fugir da tecnologia. Fifa não é muito fã disso, mas terá que se render à necessidade mercadológica?, acredita o árbitro paranaense Evandro Rogério Roman. O presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Paranaense, Afonso Vítor de Oliveira, também aprova equipamentos que decidam lances indiscutíveis, como se a bola entrou no gol ou saiu do campo. ?Só não é possível substituir o ser humano em lances de interpretação de regra?, salienta.

Outro equipamento testado com sucesso é o ponto eletrônico para comunicação entre assistentes e árbitros, já implantado no Campeonato Paulista. O trio pode trocar informações no calor da partida e evitar aqueles segundos de indecisão normalmente provocam confusão. ?Todos que usaram aprovaram. Seria importante que a Fifa efetivasse o sistema?, diz Héber Roberto Lopes, do quadro da entidade internacional.

De qualquer forma, para os árbitros a sucessão de marcações incorretas decorre principalmente da maior exposição. ?Hoje, em cada partida há 15 ou 20 câmeras. Por isso os erros aparecem mais. Mas realmente a arbitragem brasileira não vive um grande momento. Cabe a nós árbitros investir em treino e aprimoramento para reduzir os erros?, acredita Héber.

Ponto eletrônico, spray…

A introdução da tecnologia é só uma das medidas já estudadas para minimizar os erros de arbitragem no futebol. Duplas de apitadores e a profissionalização da atividade estiveram em pauta, mas até agora nenhuma mudança importante virou lei.

Em 2000, a Federação Paulista adotou dois árbitros em jogos do torneio, a pedido da Fifa. Cada um cuidava de uma metade do gramado e não poderia interferir no trabalho do outro. A idéia não vingou. ?Não funciona. Se a bola está perto do meio-campo há confusão. Hoje um árbitro com bom preparo físico acompanha todos os lances de perto?, rebate o chefe da Comissão de Arbitragem da FPF, Afonso Vítor de Oliveira. Já a profissionalização é tema recorrente no meio e tem o apoio da Fifa. Árbitros reclamam por serem a única categoria envolvida com o futebol que segue no amadorismo.

Na última semana, a Federação Paulista implantou um programa de aulas práticas para árbitros, uma espécie de semiprofissionalização. Mas, no País, há relutância para criação da carreira de árbitro de futebol profissional, pelos altos custos. ?Seria uma avanço importante. Uma proposta até chegou ao Senado, mas já esbarrou na indefinição sobre quem pagaria a conta?, diz Héber Lopes, do quadro da Fifa. Uma pequena evolução inventada no Brasil obteve sucesso – o uso do spray para demarcar a distância da barreira em cobrança de faltas. Mas a Fifa ainda não abraçou a idéia.

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