Felipão faz balanço final, já em tom de despedida

Yokohama, Japão (AE) – A entrevista do técnico Luiz Felipe Scolari, ontem, em Yokohama -a cidade onde o Brasil vai disputar a final da Copa do Mundo, no domingo, contra a Alemanha -assumiu um tom de despedida. O treinador aproveitou a conversa com os jornalistas – a última antes da decisão – para reafirmar a idéia de “família” que acredita ter conseguido imprimir à seleção.

Ele elogiou o grupo de jogadores e disse que não está mais contando os dias que faltam para acabar a Copa. Disse que quer “aproveitar o tempo” que ainda terão juntos.

Para reforçar a idéia de “família”, o técnico disse que pretende chamar Émerson -cortado na véspera da estréia por contusão – para ficar com a seleção nestes últimos dias. Além disso, pediu uma ajuda ao tetracampeão Carlos Alberto Parreira. O treinador do Corinthians deverá conversar com os jogadores após o treino de amanhã.

Felipão previu dificuldades no jogo de domingo e arriscou algumas projeções para o futuro. Lembrou que a partir de segunda-feira estará “desempregado”, já que seu vínculo com a CBF estará encerrado. Apesar disso, afirmou gostaria muito de voltar a disputar mais uma copa. “É um palco maravilhoso”, disse.

Leia alguns dos principais trechos da última entrevista coletiva de Felipão, antes da final da Copa do Mundo.

Família – Luiz Felipe Scolari acredita que a idéia de família que tentou imprimir à seleção foi um sucesso. “Não estamos mais contando os dias que faltam para o jogo e para a final da Copa, mas sim os dias que ainda temos para viver juntos” , disse ele, ao comentar o fato de o grupo ser desfeito a partir de segunda-feira. Para reforçar essa idéia, decidiu que vai pedir a seus auxiliares que tragam Emerson de volta. Cortado na véspera da estréia por contusão, o capitão será levado para o Japão para acompanhar os últimos dias da copa, junto com a delegação. “Ele faz parte do grupo”, resumiu Felipão.

Time – O treinador não quis confirmar o time que começa a partida contra a Alemanha, mas deixou praticamente certo que será o mesmo que começou a partida contra a Inglaterra pelas quartas-de-final. Isso significa que o Brasil começa a final de domingo com Marcos; Lúcio, Roque Junior e Edmílson; Cafu, Gilberto Silva, Kléberson, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos; Ronaldo e Rivaldo.

Arbitragem – Felipão elogiou muito a indicação do árbitro italiano, Pierluigi Collina para dirigir a final. Para o treinador, a escolha não poderia ter sido melhor: “Ele não é bom. Ele é muito bom. É espetacular. Os atletas estão satisfeitos, a CBF está satisfeita, eu estou satisfeito com indicação”, disse.

Futuro – O técnico da seleção lembrou que a partir de domingo será mais um desempregado no Brasil, nas admitiu que estará aberto à propostas, seja de clubes brasileiros ou estrangeiros. Deixou a impressão de que também gostaria de dirigir alguma seleção estrangeira, mas, especialmente, deixou claro que pode perfeitamente continuar com a seleção brasileira. “A minha situação acaba no domingo, dentro do que já havia sido combinado com a CBF”, disse. “A partir de segunda estou desempregado, mas se aparecer alguém que quiser me contratar, estou disposto a discutir. A Copa do Mundo é uma coisa diferente. Pretendo voltar a outra como técnico. É um palco maravilhoso. Só que não quero pensar nisso agora. Depois da Copa quero ficar pelo menos sete dias completamente isolado”, avisou.

Final – Felipão disse que espera muita dificuldade na final. “A Alemanha é uma seleção fria, calculista, que eu respeito muito. Trata-se de uma seleção grande, tricampeã do mundo. Feito a gente (Brasil) veio de uma situação difícil nas eliminatórias”, referindo-se ao fato de os alemães terem se classificado na repescagem.

Preparação física – “Não há mais quase nada a fazer do ponto de vista físico. Nem mesmo na parte técnica”. Ao comparar a final com uma prova de vestibular, ele disse. “Temos apenas que recapitular algumas matérias: definir algumas coisas de posicionamento e ajeitar a parte psicológica na última palestra, preparando os jogadores para o jogo histórico que vai ser este Brasil x Alemanha.

Pressão – “Eu não quero pressão sobre os jogadores. Estou dizendo a eles que não estarão mortos se não forem os primeiros. Para mim eles já são campeões. Quero apenas que eles sintam vontade de jogar futebol”.

Para Felipão, os jogadores não precisam de mais motivação. “A maior motivação é ver as imagens do Brasil. Crianças, velhos e jovens torcendo pra gente. Não há motivação maior que o povo brasileiro”.

Clima de festa – O treinador disse não estar preocupado com o clima festivo que tomou conta da concentração nas últimas horas, com muitos torcedores brasileiros e parentes de jogadores. “Os jogadores não serão contaminados pelo clima de já ganhou. Todos eles respeitam muito a Alemanha. Mas como eu posso isolar a seleção num hotel com mais de mil quartos?”, pergunta ele.

Beckenbauer – Sobre a declaração de Franz Beckenbauer de que a Alemanha poderia ter vantagem na parte física na hipótese de o jogo ser decidido na prorrogação, Felipão foi categórico. “Ele não conhece o potencial físico da nossa equipe. Não tenho medo de prorrogação e não é nisso que a Alemanha vai levar vantagem. Nossa seleção está 100% fisicamente”, garantiu.

Ballack – A respeito da ausência do meia Ballack, a principal estrela do time alemão, Felipão foi cauteloso. “Não podemos achar que vai ficar mais fácil. A gente perdeu o Émerson na véspera da estréia e aí apareceu o Gilberto Silva, que hoje é um dos grandes nomes do nosso time. Como aconteceu com a gente pode acontecer com eles”, ponderou. “A performance de Gilberto estatisticamente, se não é a melhor do time, é a segunda. As vezes o futebol nos reserva surpresas. Um atleta que deveria ficar no banco de reservas, assume um posto que seria do capitão e se transforma num dos melhores da Copa”.

Erros – Felipão diz que mudaria pouca coisa na preparação do time para a Copa. “Se tivesse tido mais tempo, gostaria de ter formado o grupo muito antes. Apenas isso.

Lúcio, sem cerimônia

Yokohama, Japão

(AE) -Lúcio é o único “alemão” da seleção – e portanto quem conhece mais de perto o adversário da final de domingo. O zagueiro é titular do Bayer Leverkusen, que o contratou depois dos Jogos de Sydney, e reencontrará, no duelo em Yokohama, cinco de seus companheiros de clube. Nem por isso se sente constrangido por enfrentar rivais com os quais voltará a conviver, logo após o mundial, na rotina do dia-a-dia.

“Neste momento, não conta nada de amizade”, pondera. “Respeito os alemães, sou amigo de vários deles, mas agora estamos de lados opostos”, afirma, com a autoridade de ter sido um dos poucos titulares de Felipão que não ficou fora de nenhuma das seis partidas anteriores na competição. Além dele, Marcos, Cafu, Gilberto Silva, Rivaldo e Ronaldo jogaram todas.

Lúcio terá pela frente meio time do Leverkusen. Ramelow, Neuville, Schneidere o goleiro Butt são velhos conhecidos. Assim como o meia Ballack, que fica fora por acúmulo de cartões. Ausência que pode pesar contra a Alemanha. “Será ruim para eles”, admite. “Mas bom para nós”, reconhece, com concisão e sem polêmica.

O técnico Rudi Voeller também é da “casa”. O ex-centroavante da Roma e da seleção alemã, campeão do mundo em 1990, está ainda muito ligado ao Bayer Leverkusen, clube do qual é dirigente licenciado. Ele foi um dos responsáveis por sua contratação, assim que se revelou no Inter de Porto Alegre, e só deixou o Bayer, pelo menos temporariamente, para assumir o comando da Alemanha, em situação de emergência.

“O Voeller mostrou que conhece muito de futebol”, elogia. “Porque teve dificuldade e montou um time forte, pegador”, revela.

Seleção muda de rotina

Edmundo Leite

Yokohama, Japão

(AE) – O dia seguinte à classificação para a final da Copa do Mundo foi de descanso para a seleção brasileira. Ao contrário do que sempre faz, Felipão optou por não realizar treinamento com os reservas e levou todos os jogadores para relaxamento na piscina ao fim da tarde. A mudança da rotina começou logo após a partida contra a Turquia. Depois de darem entrevistas, os jogadores deixaram o estádio de Saitama para jantar no hotel e logo depois, na madrugada de ontem, já viajavam para Yokohama, onde no domingo disputam a final contra a Alemanha. O deslocamento, de pouco mais de uma hora , foi feito de ônibus.

Com a chegada de madrugada, os jogadores puderam dormir até a hora do almoço e ficaram descansando até o fim da tarde, quando saíram para o trabalho de piscina.

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