Felipão analisa jogo de estréia

As faltas perto – ou dentro – da área da seleção preocupam Felipão. A ponto de o treinador ter pedido na segunda-feira fitas da partida contra a Turquia com imagens fechadas em jogadas mais delicadas que tiveram a participação de seus atletas. A solicitação foi feita a representantes da TV Globo e o material servirá para alertar para os riscos de o time ser punido com pênalti ou mesmo com expulsão, provocados de forma desnecessária.

O interesse de Felipão surgiu depois de ter participado de programa da emissora, ainda no calor da vitória de virada contra os turcos. O técnico viu vários lances que poderiam ter chamado a atenção do trio de árbitros e ficou interessado em analisá-los na concentração. A intenção é a de apontar alternativas para anular pressão adversária sem desgaste adicional.

Critérios de arbitragem foram tema de palestra do ex-juiz Arnaldo César Coelho, na semana passada. A comissão técnica não quer expor os jogadores a punições por atitudes fúteis. Por isso, tem dado atenção também ao comportamento em campo. O único cartão amarelo, na estréia, foi para Denílson, por reclamação. A intenção é que nem isso aconteça.

Reservas do Brasil em campo

Dia após jogo é de folga – não para os reservas da seleção brasileira, que tiveram de amargar um treino logo na manhã desta terça-feira em Ulsan. Os titulares tiveram apenas um trabalho de exercícios e relaxamento na piscina do hotel onde o time fica concentrado. Apesar do grupo reduzido à metade para ir treinar no campo, o ritual é sempre o mesmo: cordão de isolamento para a saída do hotel e batedores escoltando o ônibus até o centro de treinamento que fica a dois quilômetros, na Universidade de Ciências de Ulsan.

Mesmo os jogadores que entraram durante o jogo contra a Turquia – Denílson, Vampeta e Luizão – tiveram que ir. A comissão técnica – incluindo Felipão – também estava toda lá. Mas como as principais estrelas ficaram no hotel, poucos foram que se dispuseram a ir ver os reservas trabalharem sob a orientação do preparador físico Paulo Paixão e depois do auxiliar técnico Murtosa. Felipão ficou apenas observando e até aproveitou para entrar no bosque que cerca o campo e onde iam parar as bolas chutadas para fora nas simulações de finalizações.

Com o recente corte de Emerson por causa de uma contusão num treino recreativo, o início de um “dois toques” na metade do campo causa uma certa expectativa. Quando Denílson então vai ao chão após uma dividida e levanta massageando a perna, houve até quem pensasse que poderia se tratar de um novo problema para Felipão. Mas era apenas manha de quem sabe que, mesmo na reserva é o centro das atenções do time. Não demorou, logo estava jogando normalmente. O atacante deu outros “sustos’ à comissão técnica, mas nada que preocupe Luiz Felipe – que não gostaria de perder mais um dos seus “amuletos’.

Treino encerrado, os cadetes que fazem a segurança correm para montar o cordão de isolamento até o caminho aos vestiários, apesar de quase ninguém ter ficado até o fim para acompanhar ou falar com os reservas. Mas todo o rigor na segurança não significa falta de gentileza. Sem ter como voltar para o hotel, os repórteres que ficaram no local ganharam uma providencial carona no furgão da polícia.

Capello critica “recreativo”

O técnico Fabio Capello criou incidente diplomático com seu colega Luiz Felipe Scolari. O italiano que treina a Roma criticou o fato de Emerson ter atuado no gol no treino de domingo à noite, no Estádio Munsu. A brincadeira custou uma luxação ao volante, o tirou do mundial e mereceu comentário pouco lisonjeiro de seu chefe no clube.

“Não permito esse tipo de coisa em nossos treinos”, disse Capello a jornalistas italianos. “É uma imprudência, pois há riscos de que ocorram incidentes como o que atingiu Emerson”. O treinador ainda teve tempo de conversar com seu jogador, deu-lhe apoio e disse que o espera, até a metade de julho, para iniciar a pré-temporada para 2002-2003.

O palpite não foi bem recebido por Felipão. O brasileiro abordou o assunto apenas em conversa com italianos, depois de entrevista para a imprensa nacional, e mostrou desapontamento. “Sempre tratei bem o Capello e ele me criticou no primeiro problema que apareceu”, lamentou. (AG)

Um dia de folga, sem comprar nada

Muitos jogadores da seleção ganham em dólar, euros ou outras moedas fortes. Mas não é fácil arrancar dinheiro do bolso deles. Pelo menos do grupo que foi na tarde de ontem passear em shoppings de Ulsan.

Rivaldo, Roberto Carlos, Rogério, Kaká, Juninho Paulista foram alguns que aproveitaram o dia de folga para conhecer centros comerciais locais, passearam, olharam, perguntaram preços e voltaram com mãos vazias.

“As coisas aqui estão muito caras”, reclamou Rogério Ceni, um dos poucos que ainda recebem salários em reais. O goleiro do São Paulo deteve-se com alguma curiosidade nas seções de informática e de cds de um dos “paraísos das compras” dos coreanos, admirou a qualidade dos produtos, mas não se atreveu a gastar sua diária. “Pensei que estivesse mais em conta.” Rogério divertiu-se, mesmo, ao testar o som de violão no departamento de música. Sob olhares curiosos de garotinhos coreanos, com os quais tentava conversar em inglês, dedilhou músicas do Pink Floyd, conjunto que estava no auge nos anos 60, quando ele ainda nem havia nascido. Dedilhou com afinação e mereceu elogios até do paciente vendedor, que torcia por fechar uma boa fatura. Mas contentou-se com autógrafo.

O goleiro circulou à vontade, ao contrário de Rivaldo e de Roberto Carlos. Ambos mal conseguiam desvencilhar-se dos seguranças colocados a sua disposição. O meia do Barcelona principalmente circulava rápido pelos andares do shopping e parava muito pouco. Com algum enfado, mal prestava atenção ao fascínio que provocava em meninos e nas atenciosas atendentes. Rivaldo, assim como Ronaldo, é dos jogadores mais conhecidos do Brasil.

Os momentos de alguma descontração ocorreram na “Casa de España”, restaurante e ponto de encontro criado especialmente para atender a turistas, jornalistas, dirigentes e jogadores espanhóis também hospedados em Ulsan, na primeira fase da Copa.

Rivaldo, Roberto Carlos e Juninho Paulista visitaram o local, mas apenas os dois últimos deram entrevista. Juninho falou a respeito da volta ao Atlético de Madrid (“Fico contente porque não esqueceram de mim”), Roberto Carlos comentou a vitória do Brasil (“Jogamos bem, mas podemos melhorar”) e Rivaldo só falou amenidades com alguns conhecidos e posou para fotos.

Como não há muitas opções de lazer para estrangeiros em Ulsan, também parte da delegação turca foi bater pernas no shopping. Os rivais do dia anterior não se cruzaram. O que foi até bom, porque os europeus ainda estavam inconformados com a derrota e com a mãozinha dada pelo juiz Young Joo Kim.

Futebol empresarial

Se o futebol apresentado na Copa do Mundo não é um espetáculo, pelo menos a estrutura apresentada é de fazer inveja a qualquer clube brasileiro. Foram construídos estádios até onde não tem futebol. Na visão empresarial deles (coreanos e japoneses), o importante é dar lucro. Para tanto, é preciso instalações de primeira para cativar o torcedor, ou melhor, o cliente de futebol. Cadeiras numeradas, praças de alimentação e gentileza dos funcionários são apenas a obrigação. Quem vai ao estádio ainda pode assistir ao jogo em telões de ótima resolução, tem todas as informações da partida e segurança total.

Por aqui, até o Atlético – que é visto como clube vanguardista, ainda fica muito longe. Tem um CT que precisa ser incrementado, um estádio a ser concluído e dificuldades para manter os craques. Mesmo assim, ainda é o exemplo a ser seguido. Os métodos aplicados pelo clube esbarram na baderna generalizada do futebol brasileiro e, com isso, não consegue firmar os contratos desejados para ir mais à frente.

As desculpas para a improvisação são várias. Da recessão econômica até a falta (?) de educação do brasileiro. Tudo vira motivo para adiar o inevitável: a profissionalização dos clubes. Enquanto os dirigentes amadores (e sugadores) estiverem no comando, o brasileiro terá que conviver com alguns dos maiores times do mundo (sim, os brasileiros estão entre os melhores) disputando Caixões 2002 em estádios caindo aos pedaços. As ferramentas para se começar a mudar a situação estão nas mãos do governo. A lei de responsabilidade fiscal no esporte pode e deve expulsar os aventureiros do futebol. Enquanto isso não acontecer, não adianta nem sonhar com Brasil 2010.

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