Diretor alemão do Água Santa prega ‘nova mentalidade’ na base

“Não teve nada a ver com os 7 a 1”, já responde o alemão Thomas Federspiel, diretor de futebol do Água Santa, sobre o motivo de o clube de Diadema tê-lo contratado. “Esqueça esse jogo, a reputação do futebol alemão já era boa”, afirmou ao Estado de S. Paulo. Federspiel trocou o cargo de olheiro do Bayer Leverkusen no Japão para comandar o futebol do Água Santa. Chegou em outubro, quando o elenco para a disputa do Paulistão já estava sendo montado. Por isso, seu foco foi acompanhar de perto as categorias de base. E é aqui, segundo ele, que o Brasil precisa mudar. “Um técnico da base não pode pensar que o sucesso é ganhar o jogo no fim de semana ou o campeonato”, disse. Confira abaixo entrevista com o dirigente.

Como o Água Santa contratou você como diretor de futebol?

O Wilson Farias, irmão do presidente, me enviou um e-mail e fez um convite. Isso foi em junho do ano passado. Eu já o conhecia há mais ou menos três anos. E ele queria apresentar um projeto. Respondi brincando, e disse que se um dia quisessem contratar um diretor alemão, poderiam me procurar. Mas eu disse brincando, porque estava bem empregado no Japão como observador do Bayer Leverkusen. Dois dias depois, eu recebi um e-mail do Paulo Faria, do presidente, que levou a sério e me convidou para conhecer o clube.

Valeu a pena trocar um clube alemão por um clube pequeno de São Paulo?

Pensei muito. Mas eu queria fazer algo diferente do que ir atrás de jogadores. Queria um trabalho onde pudesse reunir minhas experiências em três mercados diferentes. Trabalhei na Alemanha, na América do Sul, e no Japão. Queria juntar isso um único trabalho só. Aí veio a proposta do Água Santa e vi que era interessante. O presidente me deu autonomia para implantar a nova metodologia de trabalho a médio e longo prazo.

Como era seu trabalho no Japão?

Trabalhei quase 20 anos no Bayer Leverkusen. Os primeiros cinco anos como técnico da base na Alemanha. Depois, passei a trabalhar com a captação e observação de jogadores, primeiro no mercado sul-americano. Fiquei no Brasil de 2002 a 2013. Mas nos últimos anos o mercado brasileiro mudou bastante.

O que mudou?

Primeiro, a qualidade caiu muito. Segundo, o valor dos jogadores aumentou. Os jogadores de segundo linha tem um salário alto, multas altas. E nesse contexto, entraram os novos ricos europeus (clubes) e começou uma corrida por jogadores que nem valiam tanto, mas que custavam 15, 20 milhões de euros. O Bayer Leverkusen não era tão poderoso assim, o mercado ficou menos interessante do que era. Por isso decidimos explorar o mercado asiático.

O que um alemão, um estrangeiro, pode trazer de novo para um clube brasileiro?

Pode-se mudar muita coisa. Por exemplo: a forma de treinar. Treinar menos tempo e mais intensidade. Ou começar a investir mais em treinos individuais e aspectos disciplinares. Outro exemplo: um técnico da base não pode pensar que o sucesso é ganhar o jogo no fim de semana ou o campeonato. Isso não é sinônimo de sucesso. Sucesso é fornecer jogadores para o time profissional. Implantar isso é um desafio, já percebi. Mas a Alemanha passou por isso há 15 anos.

A quais questões de disciplina você se refere?

O jogador brasileiro, não todos claro, brincam muito. Quando tem que se concentrar, ele tem dificuldade. Não sabe dividir entre a brincadeira e a hora de trabalhar sério. Treinar não é brincar com bola.

Como tem sido a experiência com os jogadores da base, você tem alguma ‘cartilha’ ou recomendações?

Lógico que temos regras no alojamento do clube. Nada exagerado. Mas parece que aqui no Brasil se dá muito destaque a isso. Não quer jogador com boné, brinco ou fone de ouvidos gigantes. Quero que eles pensem e se destaquem só pelo futebol.

Caçula no Campeonato Paulista, o Água Santa pode ser rebaixado neste domingo. Acredita que é possível permanecer na elite do Estadual? A campanha foi pior do que vocês imaginavam?

A campanha foi razoável, mas nada mais do que isso. Não estamos livres de ser rebaixados, mas ainda depende só de nós. Vamos jogar em casa e podemos sim permanecer. O primeiro objetivo do Água Santa era permanecer, talvez buscar uma classificação para disputar a Série D. Não dá mais, mas se permanecer será muito bom.

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