Dezoito anos depois, o Coxa está novamente na Libertadores

Lima, Peru – Enfim, chegou a hora. O Coritiba entra em campo a partir das 20h35 (17h35 em Lima) para a primeira partida oficial fora do País em dezoito anos. É a estréia na Copa Libertadores da América, contra o Sporting Cristal, no Estádio Nacional.

Como era de se esperar, jogadores e comissão técnica esperam com ansiedade o início da competição, até porque muitos chegam com algo a provar na capital peruana.

Talvez quem mais tenha a provar seja o treinador Antônio Lopes. Dos técnicos do futebol brasileiro, ele é o único que tem a possibilidade de conquistar neste ano a Libertadores pela segunda vez.

E é provável que o “Delegado” tenha percebido a sua importância na campanha do Coritiba. Ele foi o mais procurado pela imprensa local nos treinos e no hotel – até porque Aristizábal não veio. Mas, ainda em Curitiba, Lopes deu uma declaração importante, principalmente quando se vê um grupo de jovens tomando conta do time. “A responsabilidade é minha, eles estão tranqüilos. Eu é que tenho que responder por eles”, resumiu.

Além dele, passam por um teste – daqueles – os jogadores que formaram a base do Cori nos últimos dois anos. Fernando, Reginaldo Nascimento, Adriano e Roberto Brum estão desde o início do ?projeto Libertadores?, que pode ser datado de 2002, quando Giovani Gionédis assumiu o clube. “A gente está ansioso”, confessa Fernando. “E é natural, porque um trabalho de dois anos está frutificando, e nós estamos aqui para acompanhar e participar deste momento”, completa o goleiro.

São jogadores reconhecidos pela crítica nacional, mas que ainda precisam do “algo mais”, que Luís Mário e principalmente Aristizábal já têm. Brum, em conversas francas, admite que seu sonho é chegar à seleção brasileira com seu ex-treinador no Fluminense. Nascimento busca a projeção nacional, enquanto Adriano luta para manter vivo o interesse de clubes europeus, que querem levá-lo após a Libertadores.

Também está colocado em avaliação o audacioso processo de renovação de valores no Alto da Glória. Afinal, no time titular (ver matéria na página 12) estão – além do ?experiente? Adriano – Miranda, Ricardo e Laércio. Isso sem contar os que ficarão à disposição de Antônio Lopes, como Danilo, Márcio Egídio, André Nunes, Pepo e Lira. É quase a metade do grupo que viajou até Lima, o que reforça a iniciativa da direção em trabalhar com jovens valores.

No final das contas, o Coritiba entra hoje em seu grande teste. Não vai adiantar apenas chegar na Libertadores – os críticos nacionais dizem que o Coxa será a grande decepção do torneio. A partir de agora, o clube joga o seu plano de reabilitação, e cada vitória servirá para mostrar que o time não chegou na América por acaso. E que pretende aparecer por muito tempo.

Lopes garante Coritiba ofensivo no jogo de estréia

Lima –

Pelo menos no que diz o técnico Antônio Lopes, é uma opção ofensiva. Sem tempo para realizar trabalhos de fôlego em Lima, o comandante coxa confirmou o time que treinou no sábado, ainda em Curitiba, como o que vai estrear pelo Coritiba na Libertadores.

Será uma tentativa de aliar juventude e experiência, força e qualidade, empenho e categoria. A maior dificuldade para que tanta coisa dê certo é justamente a falta de treinos.

Lopes preferiu explorar os treinos de sábado porque sabia que não teria como exigir muita coisa dos jogadores. “É muito perto do jogo, e nós tivemos o desgaste da viagem. Não adianta ficar arrancando nada agora”, justifica o treinador, que apenas acompanhou o trabalho regenerativo de domingo, e ontem comandou um treino leve com bola no estádio Nacional, local do jogo contra o Sporting Cristal.

Ficou então resumido a dois treinos a possibilidade de entrosamento deste ?novo? Coritiba que entra em campo no final da tarde em Lima. “Nós temos que compensar isso com muita disposição”, avisa o atacante Luís Mário, que é, em tese, um dos mais prejudicados com as alterações. Isso porque, além de ganhar novo companheiro (Laércio, que entra no lugar de Bruno), ele vê toda a estrutura ofensiva modificada.

A começar pelas alas. Por mais que se pedisse, a entrada de Adriano na direita é uma das mais profundas alterações do Cori. Mesmo com Ricardo (dos suplentes, o que mais se assemelha ao titular nas características) na esquerda, o foco do jogo alviverde muda por completo. Com isso, exigir-se-á mais de Luís Carlos Capixaba, que já andava sobrecarregado na armação.

Até porque o objetivo confesso de Lopes é justamente reforçar o setor ofensivo. “Nós precisamos ter mais opções na frente. Com dois alas ofensivos, nós vamos ter jogadas fortes pelos lados e muita velocidade na frente”, comenta o técnico, citando também Luís Mário. Dentro dessa avaliação fica também implícita uma necessidade de jogar nos contra-ataques. “O campo é grande, e se acertarmos essa jogada vamos dar um grande passo para a vitória”, garante o “Papaléguas”.

A experiência de quem já esteve lá

 

Lima

– O Aeroporto Internacional Jorge Chávez é novo para muitos da delegação do Coritiba. Afinal, há dezoito anos o time não disputa a Libertadores, e dos vinte jogadores que viajaram para o Peru, apenas Luís Carlos Capixaba e Luís Mário jogaram a competição. O “Papaléguas” é um dos dois únicos membros do grupo coxa que estiveram em Lima ­ o outro, o auxiliar Eudes Pedro, não só já esteve na capital peruana como marca hoje seu nome na história do futebol paranaense.

Eudes é, a partir de hoje, o único profissional que participou de três Libertadores pelos nossos clubes. “É uma honra ter essa primazia. Ainda mais agora, trabalhando no Coritiba, com uma estrutura fantástica e com uma comissão técnica de muita qualidade”, comenta o auxiliar de Antônio Lopes, que estava na comissão do Atlético em 2000 e 2002.

E ambas as campanhas ­ a primeira interrompida pelos pênaltis, a segunda no vexame da derrota por 5×0 para o América de Cáli ­ trazem lições para o Coxa. “Na primeira, tudo era novo, o que parece muito com o nosso momento. E isso fez com que o time entrasse com muita motivação, tanto que vencemos o primeiro jogo”, relembra.

Primeiro jogo que, por sinal, foi na mesma Lima que recebe o Coxa. Na ocasião (16 de fevereiro de 2000), o Atlético venceu o Alianza por 3×0 em pleno estádio Alejandro Villanueva, usando um providencial ?abafa? planejado pelo técnico Osvaldo Alvarez. Em dez minutos, o Rubro-negro já vencia, com gol de Luisinho Netto, e assustara tanto os donos da casa que o jogo ficou resolvido em seu início.

Da outra passagem atleticana pela Libertadores, Eudes lembra os problemas. “O elenco já era mais tarimbado, conhecia a competição e era campeão brasileiro do ano anterior. Essas coisas fizeram o time entrar menos mobilizado”, conta o auxiliar. Isso fez com que o Atlético caísse na primeira fase da competição.

Além das lições, Eudes Pedro revê desde domingo as peculiaridades de Lima. A principal delas, a quase ausência de chuvas (ver matéria), passa como brincadeira para os amigos. “Quando eu falo disso, as pessoas não acreditam”, diz. Luís Mário, que jogou pelo Grêmio, também rememorou ao chegar na capital peruana. “É estranho ver as casas sem os telhados, apenas com o teto”.

O camisa 10 do Cori na Libertadores recorda também do peculiar trânsito da cidade. “Ninguém respeita nada, não há sinais e o comando fica para os guardas, que ficam em uns pedestais”, afirma Luís Mário. Coisas típicas de Lima, que se somam à expectativa pelo início do jogo. “Eu sempre busco conhecer a cultura dos lugares onde vou. Mas, neste momento, o que interessa é o jogo, e eu estou muito motivado para conseguir a vitória”, finaliza o atacante. (CT)

A cidade onde (quase) nunca chove

Lima

– Lima é realmente uma cidade diferente. A capital do Peru é tipicamente uma metrópole “terceiro-mundista”, com todos os defeitos que a caracterização apresenta, mas é também uma cidade de estranhos hábitos e de uma grande peculiaridade: quase não chove. E isso faz com que a paisagem urbana seja única na comparação com cidades do mesmo tamanho.

Por causa dos acidentes naturais a sua volta (Andes de um lado, Oceano Pacífico de outro), Lima acaba ficando ?emparedada?, formando-se uma capa climática que impede as chuvas. Não que elas não venham. “Quando estive com o Atlético, choveu pela primeira vez em dez anos”, conta o auxiliar técnico Eudes Pedro.

Daí a ausência de telhados ­ quem os tem, coloca-os apenas por questão estética. As casas e prédios têm apenas os tetos, sem qualquer proteção extra. “É muito estranho”, resume o atacante Luís Mário, ?experiente? na cidade, já que esta é a sua segunda passagem por Lima. Para quem chega de avião, ou atravessa a cidade de ônibus, a primeira impressão que se tem é de estranheza.

Tirante a falta de utilidade dos telhados, Lima traz em suas ruas as memórias da colonização espanhola (era chamada pelos espanhóis, que a fundaram em 4 de agosto de 1821, de “cidade dos reis”) e da influência inca. Os monumentos e prédios tombados pelo patrimônio histórico se concentram no centro, ficando muito próximos do hotel em que o Coritiba está concentrado.

Mas, para ter um panorama do caos da cidade, nem é necessário sair do hotel. O trânsito no centro é enrolado, a pobreza toma conta da população e o ambiente acaba ficando parecido com Rio e São Paulo, que podem ser comparadas a Lima, que tem mais de oito milhões de habitantes.

A moeda, criada no governo de Alberto Fujimori, é o ?nuevo sol?, ou apenas ?sol?. Para comprar um dólar, são necessários NS$ 3,48. Como comparação, um real vale NS$ 1,19 ­ ainda valorizado, mas não como na passagem do Atlético por Lima (em 2000), quando o real ainda vivia na ?bolha? cambial. (CT)

Brasileiro perde o lugar

Lima

– Sobrou para o brasileiro. Não se sabe se há alguma vinculação ao fato de o Coritiba ser o adversário, mas o Sporting Cristal não terá o atacante Sérgio Júnior entre os titulares. Sérgio, que teve passagem pelas categorias de base do Fluminense, jogando inclusive ao lado de Roberto Brum, era titular até a metade da semana. Mas a entrada de Carlos Orejuela na partida contra o Alianza animou o técnico Wilmer Valencia, que acabou optando por ele no trabalho de domingo.

Os principais destaques do time estão no meio-de-campo. O volante Jorge Soto é titular da seleção peruana (é inclusive um dos jogadores de ?confiança? de Paulo Autuori), e o armador Henry Quinteros é o grande ídolo da torcida. Ele era dúvida até anteontem, mas a participação no treino – tanto dele quanto de Nolberto Araújo – facilitou a vida de Valencia.

COPA LIBERTADORES

1.ª Fase – 1.ª Rodada

Local: Nacional (Lima – Peru)
Horário: 17h35 (20h35 em Curitiba)
Árbitro: Gustavo Brand (VEN)
Asistentes: Rafael Torrealba (VEN) e Rafael Yánez (VEN)

SPORTING CRISTAL
X
CORITIBA

Sporting Cristal

Delgado, Prado, Villalta, Rodríguez, Moisela, Araújo, Zegarra, Soto, Quinteros, Bonnet, Orejuela. Técnico: Wilmar Valencia.

Coritiba


Fernando, Adriano, Miranda, Esmerode, Ricardo, Reginaldo Nascimento, Roberto Brum, Luís Carlos, Capixaba, Eder, Luís Mário, Laércio. Técnico: Antônio Lopes.

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