Desconhecido nocauteia Tyson

Washington, EUA – Chegou ao fim a era Mike Tyson no boxe. O mais jovem campeão mundial dos pesos pesados – título conquistado em 1986, aos 20 anos – foi derrotado no início da madrugada de ontem no ringue do MCI Center, em Washington, diante de 15.472 espectadores, pelo desconhecido irlandês Kevin McBride, um pugilista de terceira categoria.

Após sofrer uma queda no sexto assalto, o córner de Tyson impediu seu retorno para o sétimo. Além do peso pelos quase 39 anos – que serão completados no próximo dia 30 – o ex-Iron Man pagou por todas as transgressões que cometeu dentro e fora dos ringues.

"É o fim. Estou acabado. Não tenho mais estômago para isso. Não ponho mais o coração em meus combates. Não quero faltar com o respeito ao esporte que amo. Sinto pelos fãs que pagaram para me ver. É hora de mudar minha vida e ser um pai que cuida dos filhos. Me sinto com 120 anos", afirmou Tyson, sereno na entrevista coletiva.

Em nenhum momento diante do quase amador McBride – um gorducho valente por causa de seus 1,98 metro e 122 quilos -, Tyson lembrou o boxeador que assombrou o mundo há duas décadas. Desesperado com a falta de velocidade e com os braços e pernas "presos", passou a utilizar os cotovelos e a cabeça para tentar minar o adversário. Até uma chave-de-braço foi usada para machucar o braço esquerdo do irlandês. E merecia ser desclassificado no quinto assalto, quando abriu o supercílio esquerdo do adversário com uma cabeçada. Mas o árbitro Joe Cortez, talvez com dó, preferiu fazer vistas grossas. "Estava desesperado. Queria ganhar", admitiu o antigo campeão.

A queda de Tyson nos últimos segundos do sexto assalto foi deprimente. Após receber um upper, ele caiu sentado, com a cabeça entre a primeira e a segunda cordas. Lentamente, tentou se levantar, lembrando a cena de sua primeira derrota, em 1990, no Japão, para James Buster Douglas.

Na hora da queda, dois dos três jurados davam vantagem para Tyson: 57 a 55. E um dava pontuação igual para McBride. Extenuado, ele não voltou para o sétimo round. "Não queria mais lutar. Sabia que seria nocauteado. Estava cansado", revelou o norte-americano.

E o que Tyson fará daqui para frente? Comentarista de TV técnico ou voluntário em projetos assistenciais. Com tendência à depressão, sem amigos e repleto de dívidas, o pugilista mais temido da história do boxe corre risco. Ninguém quer que siga o exemplo de Sonny Liston, um de seus ídolos, que, exatamente aos 38 anos, apareceu morto em 1970.

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