Brasileirão 2011

Com janela fechada, clubes têm seus elencos definidos

Na segunda-feira passada, a janela de transferências para o mercado nacional se fechou. Com isto, os clubes de todas as divisões do Campeonato Brasileiro estão com seus elencos definidos e não poderão mais contratar ninguém para esta temporada. O que gera alívios em uns, que não perderão mais seus destaques, e desespero em outros, que precisam reforçar seus elencos, mas terão que se contentar com o que têm em mãos.

Entretanto, contratações não significam exatamente reforços no Trio de Ferro. O Coritiba, para este ano, trouxe apenas 11 peças, das quais somente duas são titulares no momento (Emerson e Jonas) – os demais são remanescentes do ano passado. Enquanto isso, Atlético e Paraná Clube foram às compras sem se preocupar com o bolso e estão longe de terem alcançado o time ideal.

Allan Costa Pinto
“El Morro” García: contratação foi a mais cara da temporada.

O Furacão trouxe para seu elenco 28 novos atletas, mas poucos se firmaram. Alguns, casos do goleiro Edson e do zagueiro Hugo, sequer chegaram a entrar em campo. De todos que desembarcaram no CT do Caju, 12 já fizeram as malas e respiram novos ares. O Atlético também proporcionou a contratação mais cara do futebol paranaense: o uruguaio Santiago “El Morro” García, qu custou R$ 7 milhões, mas ainda não vingou.

Já o Tricolor vive uma situação ainda pior. Nada menos do que 51 jogadores foram contratados ao longo do ano – quase cinco equipes diferentes. Assim como no rival, muitos não estão mais na Vila Capanema. Vinte deles foram embora mais cedo, o que justifica também o alto número de rotatividade no elenco. Praticamente quatro times foram montados: o que iniciou a temporada, o que se formou para o segundo turno do Estadual, o que começou a Série B e o atual. Os últimos, inclusive, chegaram na semana passada. “É um número alto realmente, mas normal para o Paraná. O Paraná este ano fez uma equipe para o Paranaense, que não deu certo, e contratou novamente para a Série B. Então é lógico que o número vai ser alto. Só que os problemas financeiros fazem a gente contratar mais, poque trazemos jogadores para testes, que assinam só por três meses e se não dão certo vão embora”, explicou o presidente paranista Aramis Tissot.

Gangorra

Esta diferença nas contratações é o que pode explicar o momento de cada clube no ano. Enquanto o Coxa foi campeão paranaense, vice da Copa do Brasil e ainda sonha com uma vaga na Libertadores, o Atlético briga desesperadamente contra o rebaixamento para a Série B e o Paraná, que já amargou uma queda no Paranaense, revertida no tapetão, despencou na tabela da Série B, depois de almejar o retorno à elite.

Para o vice-presidente Vilson Ribeiro de Andrade, a escolha alviverde não necessariamente é a mais certa, mas acredita que atualmente é o melhor caminho para se colher resultados. “Isso faz parte de um planejamento. Não há fórmula mágica para se fazer futebol. Contratar muito ou pouco não lhe dá garantias de resultado. O que eu acho é que montar um plantel(sic) com planejamento e manter contratos longos te dão mais chances de ter sucesso. Não quer dizer que isso vai dar certo, mas acredito que a possibilidade é maior”, afirmou.

E o coirmão é usado como espelho para Aramis Tissot, que não acredita que as várias reformulações fazem o clube gastar mais do que os rivais, mas aposta que iniciar uma temporada com uma base facilita um bom desempenho nas competições. “A maioria dos jogadores que trouxemos custou ,barato. A nossa folha salarial é ridícula. Só com jogadores, gira em torno de R$ 330 mil. Não tem nem comparação com Atlético e Coritiba. Mas já estamos planejando 2012 e queremos fechar o ano com uma boa parte do atual grupo, pelo menos os que deram certo nesta Série B, para manter uma base. Se ficarmos com uns 20 jogadores e trouxermos mais uns cinco, seis da base, iniciamos a temporada do ano que vem com uma equipe pronta”, destacou, na esperança de que em 2012 o Tricolor ganhe outro títulos, menos o de time que mais contratou na temporada.

Dupla não poupou nem técnicos

A diferença entre Atlético, Coritiba e Paraná Clube quanto às contratações não se reflete apenas dentro de campo, mas na beira do gramado também. Praticamente na mesma proporção de jogadores, os times também trocaram de comando técnico.

Enquanto o Coxa mantém Marcelo Oliveira, que chegou antes mesmo do início da temporada, Furacão e Tricolor não passaram, em média, mais do que três meses com o mesmo treinador. A diferença, neste caso, é que o Rubro-Negro foi mais exagerado. Em quase dez meses, já teve seis técnicos. A lista começou com Sérgio Soares, passou por Leandro Niehues, Geninho, Adilson Batista, Renato Gaúcho e, por fim, Antônio Lopes.

Já o Paraná teve no ano quatro comandantes. O primeiro foi Roberto Cavalo, que cedeu o lugar para Ricardo Pinto. Depois, veio Roberto Fonseca, até que Guilherme Macuglia foi contratado no início do mês.

Isto pode explicar também o porquê de tantos jogadores contratados pelas duas equipes. A cada mudança no comando técnico, alguns nomes eram indicados para reforçar o time, enquanto os “favoritos” do ex-treinador eram deixados de lado.

Exemplos para isto não faltam. No caso do Atlético, foram escolhas de Sérgio Soares o volante Alê, o lateral-direito Marcos Pimentel e o atacante Henan. Já Adilson Batista trouxe o volante Paulo Roberto e o meio-campo Cléber Santana – que só passou a ser titular com Renato Gaúcho -, mas insistiu muito com o goleiro Márcio. Curiosamente, o único treinador que não indicou ninguém, enquanto havia possibilidade de contratação, foi Geninho. E é ele quem deve terminar o ano com o melhor aproveitamento. Já Antônio Lopes também não terá nenhum reforço, mas porque a janela já fechou.

No Tricolor a situação não é muito diferente. Roberto Cavalo fez a montagem do bom, bonito e barato, trazendo atletas desconhecidos, e amargou desde a primeira rodada a zona do rebaixamento do Estadual. Na era Ricardo Pinto, muitos nomes chegaram e alguns deram certo, como Júnior Urso e Welington, que tiveram bom desempenho com Roberto Fonseca. Já Guilherme Macuglia mal chegou e também trouxe nomes de confiança, casos do volante Itaqui, que já é titular absoluto, e do zagueiro Edson Rocha.

Estabilidade é o ideal

Algo que para o presidente do Paraná, Aramis Tissot, interfere no trabalho da equipe e até mesmo na montagem dela, uma vez que um novo técnico sempre vai pedir alguém de sua confiança no elenco. “Influencia sim. O Coritiba é o que menos contratou porque manteve a base do ano passado e precisou de poucos jogadores. Com uma base forte, fica mais fácil manter um bom trabalho. Eu não gosto de mudar de técnico, mas às vezes é necessário. Por mim, seria a mesma comissão durante o mandato de um presidente. Torço para que o Macuglia fique por muito tempo aqui”, apontou o dirigente.

Um caso que resume isto é o do próprio Coritiba. De agosto de 2009 pra cá, apenas dois treinadores comandaram o time. Ney Franco só saiu no final da última temporada devido ao convite para trabalhar na Seleção Brasileira, dando lugar a Marcelo Oliveira. Ambos passaram por momentos de turbulência, mas foram bancados pela diretoria, o que rendeu dois estaduais, uma Série B e o vice da Copa do Brasil. “A comissão técnica precisa ter uma sequência no trabalho. Mudanças geram um desconforto para os próprios atletas. O futebol exige resultados muito rápidamente, mas se você não dá tempo para o técnico mostrar suas qualidades fica difícil avaliar o trabalho”, diss,e o vice-presidente do Alviverde, Vilson Ribeiro de Andrade.

Kerlon e Lucas se destacaram como os “micos” do ano

Além das péssimas campanhas ao longo de toda a temporada, Atlético e Paraná Clube ainda arranjaram verdadeiros “micos” entre os jogadores contratados. Alguém se lembra dos zagueiros Onildo e Carlinhos? Ambos chegaram a ser titulares do Paraná. E o que falar de Taianan, George, Alan, Paulo Matos, Renato, Zé Paulo e Douglas, que também andaram pelo Tricolor?

No Atlético, os erros na tentativa de melhorar o elenco foram mais “leves”, mas nem por isso menos marcantes. Além de Edson e Hugo, que sequer jogaram, outros, como o lateral-direito Marcos Pimentel e os atacantes Henan e Wéscley são lembrados pela torcida mais pelo que não apresentaram do que pela ajuda que deram ao Rubro-Negro.

Porém, nada se compara aos “micos” em que se transformaram Kerlon e Lucas. O primeiro chegou como principal reforço do Paraná Clube, principalmente em meio a tantos desconhecidos que foram contratados, e causou impacto. Mas não conseguiu entrar em forma. Fez apenas cinco partidas, sem sequer marcar um gol e ainda desperdiçando um pênalti.

Já no Rubro-negro, Lucas retornou como a solução para o ataque, mas com a seca de gols acabou admitindo não estar em um bom momento e até encerrou a carreira. Meses depois, voltou atrás e retornou ao FC Tokyo, do Japão.