Coritiba vira S/A e vale 100 milhões

Agora, digamos assim, está no papel. Divulgado em alguns jornais de Curitiba na sexta-feira, o estatuto social do Coritiba Futebol S/A é o pontapé inicial da mais ousada iniciativa do clube em sua história. Como disse o presidente Giovani Gionédis em conversas com torcedores, é a tacada definitiva do Cori – se acertar, o futuro está garantido; se não, os problemas podem aumentar. E o futebol profissional do Coritiba já tem ‘preço’: exatos R$ 100.010.013,00.

A assembléia geral que oficializou as normas do clube-empresa aconteceu em 23 de agosto, reunindo os treze membros do conselho de administração. Os três diretores, os cinco membros titulares e os cinco suplentes. Todos eles fazem parte ou do Conselho Administrativo ou do Deliberativo do Cori, e tornaram-se automaticamente os sócios majoritários do Coritiba Futebol S/A. O presidente da empresa é Giovani Gionédis.

Diz-se sócios majoritários porque, a partir de agora, o clube-empresa se separa do clube social. O Coritiba Futebol S/A foi criado para gerir o “as atividades futebolísticas profissionais do Coritiba Foot-Ball Club, a exploração do desporto profissional, a organização desportiva para a participação de campeonatos e torneios regionais, nacionais e internacionais e a prestação de serviços a entidades desportivas”, como aponta o artigo 3º do estatuto.

Para servir de paralelo, o Coritiba Futebol S/A será para o Coxa como a Parmalat foi para o Palmeiras – uma empresa que a partir de agora vai administrar o futebol profissional do clube, assumindo suas dívidas e recebendo em troca o lucro possível das explorações da marca (que fica para a empresa por 30 anos), das negociações de jogadores e dos contratos de televisão, entre outros. Mas a diferença fundamental é que o Coritiba Foot-Ball Club (por meio de seus dirigentes) vai controlar a S/A, mantendo então o comando dos destinos do futebol alviverde.

Para arrebanhar dinheiro, a empresa vai colocar no mercado de ações (o processo de liberação, comandado pela Comissão de Valores Mobiliários, está em fase final) 49 milhões de ações ordinárias – com direito a voto -, cada uma no valor de um real. Também deverão ser colocadas à venda ações preferenciais, que terão o lucro que a empresa tiver, mas não dão direito a voto.

Para deter o controle acionário, o Coritiba Futebol S/A ficará com 51 milhões de ações, equivalentes a 51 milhões de reais – e que não serão colocadas à venda. Completando o ‘valor’ do futebol profissional do Cori, 10.013 ações foram compradas por conselheiros do clube e diretores da empresa – ato necessário para o início do processo de venda das ações ordinárias no mercado.

É criado, junto com a empresa, o expediente da Assembléia Geral, que terá poder decisivo nas atitudes globais do Coritiba Futebol S/A. Como informa o estatuto (em seu artigo 6.º), a Assembléia vai “deliberar quanto à alienação ou oneração de bens e celebração de negócios jurídicos em geral, cujo valor seja superior a R$ 5.000.000,00”.

Isso significa que os sócios (até aquele que comprar apenas uma ação) terão que ser ouvidos no momento em que a empresa vá tomar atitudes que envolva um valor maior de cinco milhões de reais – incluindo aí compra e venda de jogadores. A decisão será no voto, isto é, cada ação vale um voto e quem reunir mais leva a discussão.

Detalhes

O estatuto não prevê como será a venda de ações (se haverá venda direta ou apenas no mercado financeiro) e se os sócios do Coritiba terão alguma vantagem. A diretoria alviverde estuda lançar o projeto em sua totalidade mês que vem, provavelmente no dia do aniversário do clube (12 de outubro).

Quem é quem no Coritiba Futebol S/A

Diretor-presidente: Giovani Gionédis

Diretor administrativo-financeiro: Homero Halila Pereira

Diretor de relações com o mercado: Omar Akel

Membros titulares

Cléverson Marinho Teixeira

José Augusto Arruda

Luiz Henrique Barbosa Jorge

André da Costa Ribeiro

Ricardo Gomyde

Membros suplentes

Domingos Moro

Simão Blinder

André Macias

Ney Perracini de Azevedo

Jorge Wachelke

Entenda a nova empresa

a) Por que o futebol profissional do Coritiba vale R$ 100.010.013,00?

O valor foi definido por uma empresa de avaliações sediada em Porto Alegre, que avaliou os bens móveis e imóveis (como o Couto Pereira e o CT da Graciosa) do clube. Foi baseado nesse valor que se definiu o número de ações que seriam colocadas à venda.

b) O valor será sempre esse?

Não. O valor de mercado do clube será (como diz o parágrafo 1.º do artigo 11) “o valor médio apurado entre a avaliação com base no critério de fluxo de caixa descontado e avaliação com base no critério de comparação por múltiplos do EBITDA”. Quer dizer, é a conta envolvendo o que o clube gastou em um ano fiscal e o EBITDA – sigla em inglês para o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização.

c) O Coritiba está se adequando a alguma lei com isso?

Sim. São duas, por sinal: a primeira é a lei 6.404/76, que trata das sociedades anônimas; e a outra é a lei 9.615/98, mais conhecida como Lei Pelé, que trata da organização do desporto no país. Como a Lei Pelé pode ter seu texto alterado para a inclusão da responsabilidade fiscal dos dirigentes, algumas adaptações podem ser necessárias para o Coritiba Futebol S/A.

d) Qualquer pessoa pode comprar ações do Coritiba?

Sim. Provavelmente ainda em outubro a venda será iniciada (os detalhes serão conhecidos quando do lançamento do projeto). Mas o valor da ação ordinária (serão 49 milhões) está definido – um real.

e) O que são ação ordinária e ação preferencial?

A ação ordinária permite o direito de eleger a diretoria (conselho) da empresa que o emitiu. No entanto, quando ocorre uma distribuição de dividendos da empresa, os proprietários de ações ordinárias só receberão os mesmos depois que os proprietários de ações preferenciais tenham recebido o seu percentual fixo.

Já a ação preferencial dá ao proprietário deste papel o direito de receber um percentual fixo dos lucros, antes de distribuídos os dividendos da empresa. No entanto, estes não possuem direito de voto na eleição da diretoria.

f) Alguém pode comprar todo o futebol profissional do Coritiba?

Não. O estatuto prevê que 51% do controle continuará sendo do Coritiba Foot-Ball Club – ou dos sócios que comandam a empresa. A única brecha permitida seria a divisão igualitária com um outro sócio, desde que esse compre as ações dos demais acionistas.

g) Como ficam as dívidas do Coritiba?

Serão repassadas ao Coritiba Futebol S/A, que tem a obrigação de pagá-las, assim como o clube tinha que fazer. E, sendo empresa, o Coxa S/A está sujeito às punições da lei se não pagar.

h) E o futebol, como fica?

A idéia da diretoria é justamente incrementar o futebol profissional do Coritiba. Com o acréscimo de dinheiro vindo da venda de ações, a intenção é reformar o Couto Pereira, melhorar o CT e reforçar cada vez mais a equipe. Mas, como empresa, o Coritiba não poderá mais gastar além da conta, porque corre o risco de falência (como a Fiorentina, da Itália). Além disso, as iniciativas terão que ter retorno – qualquer empresa precisa ter lucro, e o Coxa S/A não será diferente.

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