Coritiba derruba o Grêmio e sobe na classificação

A fase é tão boa que às vezes nem é necessário jogar bem. Apesar de viver uma tarde complicada, o Coritiba venceu mais uma – desta vez o Grêmio, por 1×0, sábado, no Couto Pereira. Com dificuldades para vencer a marcação gaúcha, brilhou a estrela de Paulo Bonamigo: ele colocou Souza e Helinho, e foi de uma jogada de ambos que saiu o gol alviverde, que termina a rodada com a terceira posição na tabela do campeonato brasileiro – com o empate em 2 a 2 entre São Paulo, que caiu para quarto, e Atlético Mineiro, ontem à noite.

O Coritiba colocava em campo a sua formação titular, sem problemas médicos ou suspensões. Pela primeira vez no campeonato brasileiro, Paulo Bonamigo podia escolher onze jogadores entre todo o elenco – situação bastante confortável para quem entra na reta final da competição. Do outro lado, o Grêmio tentava escapar da crise, da briga com a imprensa e da lanterna.

Apesar de o Grêmio tentar se impor nos primeiros minutos, o controle tático da partida era alviverde – e os visitantes não se preocupavam com isso. O plano de Adílson Batista era atrair o Coritiba e depois forçar os contra-ataques. Na primeira jogada trabalhada, Caio rolou para Cláudio Pitbull, que chutou por cima. As duas equipes jogavam com três zagueiros, e Marcel ficava isolado entre Baloy, Claudiomiro e Roger.

A primeira jogada ofensiva do Coritiba foi de excelência técnica: aos 10 minutos, Marcel lançou Edu Sales, que deixou Roger sentado e cruzou de letra, mas Lima errou a cabeçada. Jackson, jogando em sua posição de origem, era o ?motor? coxa, auxiliando na marcação e iniciando as jogadas ofensivas. Aos 16, Lima acertou a trave ao cruzar – na volta, ele mesmo tentou o arremate, mas Baloy cortou.

O Grêmio abusava das jogadas violentas, principalmente com Leanderson, Roger e Tinga. O aumento das faltas era proporcional ao domínio alviverde, que conseguiu segurar o ataque gaúcho e tomar conta da partida. Quando subia ao ataque, o Cori colocava dez jogadores no campo adversário – apenas Fernando ficava na metade coxa do campo. Mesmo assim, os coxas não conseguiam chegar ao gol de Danrlei. E, mesmo fechado, era o Grêmio quem criava: aos 39, Caio quase abriu o placar.

No intervalo, Paulo Bonamigo pediu maior movimentação aos atacantes, para sair da marcação do Grêmio. Mas foi o time gaúcho que dominou os instantes iniciais do segundo tempo, aproveitando que a defesa coxa marcava de longe. O Cori parecia não saber como sair da retranca tricolor. A defesa bobeava, o meio-campo não conseguia criar e o ataque estava isolado. Com tal cenário, o público mais reclamava que torcia.

Para reforçar o ataque, Bonamigo colocou Helinho e Souza nos lugares de Lima e Edu Sales. Mas o Grêmio seguia assustando – aos 20 minutos, Anderson Lima cobrou falta à direita do gol alviverde. Logo depois, Marcel chutou de fora da área, mas longe de Danrlei. A falta de eficiência do ataque coxa se evidenciou aos 24 minutos, quando o Cori conseguiu o seu primeiro escanteio no jogo.

Além disso, os jogadores alviverdes não faziam o que Bonamigo pedia. O imobilismo tático era tão claro que o Coxa não conseguia sequer cobrar faltas com rapidez. E se a tragédia parecia iminente, foram os dois jogadores que entraram no segundo tempo que conseguiram marcar o gol alviverde – aos 30, Souza puxou contra-ataque e tocou para Helinho, que venceu Danrlei e marcou seu primeiro gol com a camisa coxa.

Com a abertura do placar, o Cori jogou o desespero para o outro lado, e com isso o Grêmio não conseguiu manter o mesmo nível de atuação. Com isso, os minutos finais foram menos angustiantes para os quase 15 mil torcedores que estiveram no Couto Pereira. E eles viram que a fase é tão boa que nem é preciso jogar bem para vencer.

Estrelas brilham no 2.º tempo

O adversário não era fácil de ser batido. Até porque não era só o Grêmio que estava no Couto Pereira no sábado. Evocados pela Semana Farroupilha, chimangos e maragatos cerravam os dentes para a batalha – e, se preciso fosse, Bento Gonçalves também seria escalado, possivelmente no lugar de Caio. Para vencer a guerra, o Coritiba contou com a ajuda decisiva de um paraense, que talvez nem tenha idéia do que fez para a alma coxa, e do estrago que causou no coração gremista.

Helinho jogou poucas vezes no Coritiba, pois enfrenta a concorrência de Edu Sales, que é um dos jogadores mais importantes do sistema de jogo do técnico Paulo Bonamigo. Mas nos últimos dois jogos, o atacante conseguiu marcar seu nome na campanha coxa – contra o Paraná, acreditou em uma bola perdida e começou o lance do gol da virada; e sábado foi o autor do gol do desafogo alviverde, de uma vitória que parecia longe.

É o triunfo da paciência. Quando chegou do Remo, Helinho estava precedido do cartaz de ser o melhor jogador do futebol paraense. Mesmo assim, demorou a ?estourar? no Alto da Glória. “Eu não tive pressa para jogar, sei que o Bonamigo estava me observando e que eu teria a chance na hora certa. Quando tive, fui feliz e pude ajudar”, comenta o atacante, com surpreendente tranqüilidade.

E agora ele se torna uma das grandes armas do Coritiba. “Eu tinha muita confiança nele. O Helinho já vinha treinando bem, e quando jogamos a partida em Itajaí (um amistoso contra o Marcílio Dias) ele foi o destaque. Era uma questão de tempo”, comenta Bonamigo, fiel ao seu estilo. Apesar disso, o treinador não deve escalá-lo de início na quinta, contra o Vasco, apesar de Marcel estar suspenso. A tendência é que Marco Brito, imediato do centroavante, seja escalado.

Durante os próximos dias (a começar por hoje), Bonamigo pretende corrigir as falhas que viu na equipe. “O time não se movimentou no ataque, muito porque tivemos problemas na transição ofensiva”, avalia. Apesar de constatar o problema, o técnico alviverde não fala sobre a má atuação de Lima. “Não vou ficar comentando individualidades. Acho que nós cometemos erros, e o importante é corrigi-los até a partida contra o Vasco”, diz.

Atrás, Bonamigo também viu problemas. “Senti nossa defesa bastante insegura no primeiro tempo”, confessa. Não só na primeira etapa, a marcação coxa estava distante, o que permitiu que o Grêmio fizesse o jogo da forma que queria. “Não podemos esquecer que o Grêmio teve uma atuação muito boa”, ressalva o treinador.

O que não esconde que o Coxa penou para chegar ao gol. “Nós temos que comemorar o resultado, principalmente porque tivemos capacidade de conclusão”, reitera Bonamigo. “Na única chance real que criamos, fizemos o gol”, concorda o volante Reginaldo Nascimento. E quando Helinho venceu Danrlei, chimangos, maragatos – e Bento Gonçalves, que rondava o Alto da Glória – tiveram que guardar seus ponchos e voltar para o pampa.

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