Coritiba começa hoje a viver uma nova realidade

A cara do Coritiba para 2006 começa a ser conhecida hoje, na primeira reunião da diretoria eleita na segunda com o comando do futebol – o assessor da presidência José Hidalgo Neto, o diretor Almir Zanchi e o superintendente Odivonsir Frega. Nesta conversa, que pode também contar com o técnico Márcio Araújo (ver matéria), será feita a primeira prévia sobre os jogadores do atual elenco que poderão ficar, e aqueles que devem sair. A maioria do grupo tem contrato se encerrando no final do mês, e poderiam seguir para outro clube sem qualquer ônus para os interessados. Mas há quem deixe bem claro que não quer deixar o Coxa agora e sim pretende permanecer para levar o time de volta para a primeira divisão.

Os jogadores vinculados ao clube foram liberados para as férias ontem, com a data de reapresentação marcada para 3 de janeiro. Alguns foram ao encontro das família já sabendo que vão continuar, como Ricardinho, Peruíbe e Rubens Júnior, que têm contratos com vigência mais longa. Outros se foram já com a certeza de que dificilmente vão permanecer, casos de Negreiros, Marcelo Peabiru, Élton e Caio – este interessa ao Cori, mas a negociação para a renovação é extremamente complicada.

Alguns ficam na expectativa de saber se interessam ou não para a diretoria e para o comando do futebol. ?Querer ficar, eu quero, mas não sei se querem que eu fique?, resume o meia Luís Carlos Capixaba, que rechaçou a possibilidade de defender o Grêmio em 2006. ?É estranho. Todo mundo fala, mas ninguém conversa comigo?, atira. Ele é um dos jogadores que ficam livres no final do ano que desejam permanecer no clube.

A ?turma? é liderada pelo capitão Reginaldo Nascimento. ?Eu pretendo continuar, dependendo da posição da diretoria. Mas eu quero fazer o possível para ajudar o Coritiba a sair desta situação?, reconhece o volante, que no ano passado teve proposta do Corinthians e pensou em sair do Alto da Glória. Pela declaração, imagina-se que a renovação de contrato, sempre complicada, deve ser mais fácil desta vez.

O goleiro Douglas é mais um que não nega o desejo de ajudar na ?ressurreição? alviverde. ?Nós temos uma dívida com a torcida, com a diretoria e com o clube como entidade. E só podemos pagá-la se ficarmos. Vou fazer de tudo para permanecer?, confessa o jogador, ainda abatido com o rebaixamento. ?Foi um momento muito triste, que a gente precisa apagar o mais rápido possível?.

Valorizado pelas últimas atuações, o meia-atacante Alcimar confirma que tem propostas para defender outras equipes em 2006. ?Eu fico feliz com isto, porque prova que fiz um bom trabalho no Coritiba?, afirma. Mas ele não quer saber de sair do Coxa. ?Se depender de mim, continuo. O clube é ótimo e nós temos todas as condições de voltar para a Série A no ano que vem. E eu quero participar disto?, finaliza.

Interesse

A diretoria do Coritiba quer acelerar ao máximo a montagem do elenco. ?Não podemos perder tempo. Falta pouco mais de um mês para o início do Campeonato Paranaense e queremos começar a temporada com um grupo formado?, diz o presidente Giovani Gionédis. ?Não temos tempo a perder. Temos, sim, tempo para trabalhar?, completa o vice-presidente André Ribeiro. A intenção do clube é encaminhar possíveis renovações até o final da semana.

Márcio Araújo tem 90% de chance de continuar

Márcio Araújo é o nome.

O treinador que tentou – e não conseguiu – a salvação do Coritiba no Campeonato Brasileiro deve ser mantido pela diretoria para a temporada 2006. Ele foi aprovado pela diretoria e pelo novo comando do futebol e espera-se apenas o anúncio oficial, que deve acontecer até a tarde de hoje.

Em oito partidas, Márcio Araújo teve três vitórias, dois empates e três derrotas, num aproveitamento de 45,83%. Tirando Antônio Lopes, que venceu um jogo e perdeu outro nos dois que disputou pelo Coxa no Brasileiro (as duas primeiras rodadas), foi o técnico com melhor rendimento entre os que trabalharam este ano.

Além da melhora técnica e tática, o treinador é elogiado pelo trabalho motivacional que fez com o elenco, que estava esfacelado quando ele chegou. Exemplo: ontem, na liberação dos jogadores para as férias, Márcio falou e levou vários às lágrimas. ?Não tem o que dizer dele, é ótimo. Além de tudo, é um homem de caráter?, elogia o zagueiro Vágner.

Com o bom trabalho, ele acabou avalizado pelo presidente Giovani Gionédis e tem a simpatia do novo comando do futebol -principalmente do assessor da presidência José Hidalgo Neto. ?Posso dizer que as chances dele ficar são de 90%?, admite Gionédis. Para completar, Márcio Araújo tem interesse em permanecer e tentar voltar com o Coxa para a primeira divisão. ?Tudo na vida se transforma em aprendizado. Apesar da tristeza, eu me sinto uma pessoa melhor e quero colaborar com esta recuperação?, resume o treinador.

Yamato não assume sozinho a culpa pelos reforços errados

Depois de cinco anos de trabalho no Coritiba, Oscar Yamato experimentou uma melancólica despedida. Demitido através da imprensa, na entrevista coletiva concedida pelo presidente reeleito Giovani Gionédis minutos após o rebaixamento à Série B, o ex-chefe do departamento de futebol poupa a diretoria, mas se diz injustiçado pelas críticas.

Oscar não assume sozinho a culpa pelas contratações equivocadas. ?Nenhum reforço veio sem aval da diretoria e da comissão técnica. Se houve erro, erraram todos?, falou.

Dos 22 atletas contratados esta temporada, poucos viraram titulares incontestáveis, como o meia-atacante Caio. Quase todos os outros, chamados genericamente de ?pangarés? por Gionédis, acrescentaram pouco ao clube. Yamato não acha que houve apenas falhas. ?Em todos os lugares do mundo há jogadores que dão certo num clube e não dão em outro. O Tiago, por exemplo, era disputado por muitos, inclusive o Atlético-PR. A vinda do Renaldo não foi contestada por ninguém.?

Apesar da demissão inusitada, Yamato diz não estar magoado com a diretoria

?A gente fica… chateado não, porque houve mais coisas boas do que ruim. A amizade com Giovani continua e confio que ele trará o Coxa de volta à elite?, disse.

A análise retrospectiva de Oscar aponta a venda de atletas importantes como Fernando, Rafinha, Miranda e Adriano como a principal causa do rebaixamento. ?Tentamos repor estas peças, mas não havia recursos financeiros. O dinheiro foi usado evitar a perda de patrimônio, o que é uma decisão de diretoria e tinha que ser respeitada?, disse. ?Mas, se estes jogadores ficassem e outros, como Marquinhos, Egídio, Flávio e Capixaba não tivessem sofrido contusões, certamente tínhamos elenco para chegar à Libertadores?, acredita.

A reportagem da Tribuna entrou em contato com Sérgio Ramirez, outro citado indiretamente por Gionédis como um dos responsáveis pelo mau desempenho no Brasileirão. O uruguaio, porém, preferiu não comentar as declarações do cartola e o rebaixamento do Coxa.

Oposição ainda acredita em reversão

A decisão apertada da eleição para a diretoria executiva do Coritiba ainda vai dar o que falar. A oposição, liderada por José Antônio Fontoura e que foi derrotada por apenas um voto, deve entrar hoje com um pedido de impugnação do pleito por conta da autorização de voto aos atuais dirigentes. Segundo os advogados da chapa Campeão de Novo, o estatuto do clube prevê que os membros da diretoria estão licenciados do Conselho de Administração e, portanto, não poderiam participar das sessões ordinárias. Para a situação, que venceu por 67 a 66, a reunião de segunda-feira tinha caráter especial, apenas eleitoral.

Esta é a questão básica – antes da permissão ou não do voto, a definição de que tipo de reunião, realizada na segunda-feira, se tratava. ?É claro que é uma reunião ordinária do Conselho de Administração?, disse Júlio Militão da Silva, presidente eleito do conselho. ?Esta é uma sessão especial. Se fosse ordinária, haveria outros assuntos em pauta. Não houve, apenas aconteceu a eleição?, rebateu o presidente Giovani Gionédis.

Ao dizer que é uma reunião ordinária, os oposicionistas apelam para o artigo 133 do estatuto do Coritiba, que diz textualmente o seguinte:

?O membro do Conselho de Administração, Fiscal ou Consultivo que for eleito para a Diretoria Executiva, ou de qualquer forma dela participando, será licenciado do respectivo conselho pelo período que estiver integrado à Diretoria Executiva ou seus órgãos de apoio?.

A reação da situação é alegar o fato de estar participando do processo eleitoral. ?Nós inscrevemos a chapa, ela foi aceita pela comissão delegada pelo Conselho de Administração. Se temos direito de participar da eleição, temos o direito de votar?, alegou Gionédis. Com o pedido de recurso apresentado, o caso vai para a mesa do Conselho de Administração, já sob comando de Júlio Militão, devendo depois ser encaminhado para a votação dos conselheiros.

Unidade

Enquanto se inicia a ?batalha jurídica?, alguns conselheiros das duas vertentes tentam começar a conciliação interna. Os resultados da eleição de segunda mostraram uma cisão no Coritiba – corroborada até por altercações entre adversários após o pleito. ?Agora o momento é de união, de todos partirem para o mesmo lado, que é o do clube?, resumiu Cleverson Marinho Teixeira, um dos mais respeitados conselheiros do Coxa.

Oposição reivindica vitória nas urnas

Os membros da chapa Campeão de Novo divulgaram uma nota à imprensa informando que se consideram vencedores da eleição. ?No entender da chapa de oposição, Coritiba Campeão de Novo, a eleição foi vencida por oito votos de diferença, já que os nove membros da diretoria executiva não poderiam ter votado, segundo o estatuto do clube?, diz o texto.

Os conselheiros liderados por José Antônio Fontoura afirmam ter consultado vários juristas sobre o assunto e todos deram posição favorável à chapa da oposição. ?Foi uma irresponsabilidade coletarem os votos dos membros do Conselho Executivo?, disse Tico Fontoura. Ainda hoje deve ser feito o recurso no Conselho de Administração. E o conselheiro espera assumir o Coxa na data marcada para a posse da nova diretoria executiva.

?A nação coxa-branca pode ficar tranqüila que o Coritiba estará em boas mãos a partir de 5 de janeiro.?

O presidente Giovani Gionédis, em entrevista à rádio Transamérica, disse que não vai mais comentar o assunto. ?Não vou ficar entrando neste mérito. É uma decisão administrativa, que cabe ao conselho. Vamos acompanhar a seqüência dos fatos, mas não quero pensar no Coritiba pelo lado jurídico?, afirmou o dirigente, que espera contar com o apoio de todos os conselheiros a partir de agora. ?Somos todos coxas-brancas?, resumiu.

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