Ufa! O Coritiba, depois de tanto pensar, decidiu que precisava contratar um meia-armador.
Às pressas, o clube acertou a vinda de Igor, que disputou o último campeonato brasileiro pelo Flamengo, e que fez sua última partida pelo rubro-negro carioca na quarta, quando do empate com o CRB em 4×4, pela Copa do Brasil. Foi preciso uma operação ?de guerra? para conseguir inscrever o jogador na Copa Libertadores da América – e ainda não se tem a confirmação do registro, que só será oficializado (ou não) na semana que vem.
O Coxa negociava há alguns dias com o meio-campista, e chegou a descartá-lo na quinta. Mas ontem Igor conseguiu uma liminar na Justiça do Rio de Janeiro conseguindo sua desvinculação do Flamengo – o motivo, claro, é a ausência de pagamento de salários. Com isso em mãos, o meia fechou contrato com o Cori, mas este só seria registrado caso fosse conseguida a inscrição para a primeira fase da Libertadores. A diretoria, inclusive, enviara à Conmebol uma lista prévia, com o nome de Rodrigo Batatinha no lugar do contratado.
Aí começou a luta alviverde. Fábio Zanetti, funcionário do departamento de futebol coxa, seguiu para o Rio para, ao lado dos procuradores de Igor, arrumar um meio de registrar o jogador na CBF. A inscrição era problemática: o trâmite feito pelo empresário do meia fora ?acelerado? demais, pulando alguns pontos decisivos para o processo de liberação por liminar.
Como o jogador era vinculado ao Flamengo e ao Rio Branco de Americana (dividido em partes iguais), os responsáveis deveriam, depois de conseguir a liminar, apresentá-la às federações paulista e carioca – só assim seria autorizada a liberação de Igor. Isso não foi feito, e coube aos procuradores tentarem encontrar uma saída para o caso, sem sequer deixar a sede da CBF, na Barra da Tijuca.
Para livrar-se das incumbências (que demandariam tempo demais), a idéia foi mandar por fax a liminar para as duas federações, e tentando a liberação das mesmas por telefone. Mesmo fazendo isso, o Cori ainda teve que esperar, já que apenas com o aval do advogado Valed Perry, um dos ?papas? do departamento jurídico da CBF, seria autorizada a contratação de Igor.
O cearense Igor Carlos da Silva Freire disputou dois campeonatos brasileiros (2002, pelo Figueirense, e ano passado, pelo Flamengo), e ano passado foi um dos destaques do time carioca. Ele deve ser apresentado na segunda-feira.
Um time modificado para jogar em Lima
Se é para surpreender, que se surpreenda em alto estilo. O Coritiba pode ser muito diferente na estréia da Copa Libertadores, terça, contra o Sporting Cristal, em Lima. As mudanças são claras, até pela lista de jogadores que viajarão ao Peru, que foi divulgada ontem. O zagueiro uruguaio Antonio Esmerode deve ser a grande novidade alviverde, que pode ter até improvisações.
A delegação, formada por 31 pessoas (vinte jogadores), teve nomes alterados durante toda a tarde de ontem. Esmerode foi o último a entrar, mas apenas a sua presença na lista já garante a estréia na terça. Por enquanto, o técnico Antônio Lopes não confirma nada – ele se irritou ao saber que a lista tinha sido liberada para os jornalistas. “Deixa a gente treinar e depois eu falo para vocês”, despista. Ele promete confirmar a equipe no treino desta tarde, no CT da Graciosa.
Esmerode vinha treinando entre os reservas há três semanas. Apesar de mostrar qualidades, não se contava com sua participação até o início da semana, quando ele conseguiu o visto de trabalho junto à Polícia Federal. Daí em diante, o zagueiro passou a ser uma opção real de escalação para Lopes – o que se confirmou com a boa atuação no treino de ontem, em que ele formou a defesa com Miranda e Nivaldo.
E a formação com três zagueiros deve ser a utilizada por Lopes. Esmerode não tem problemas em ser o líbero. “Já joguei assim no Uruguai, e não vou sentir”, comenta. As possibilidades mais reais recairiam em uma mudança simples, com a entrada do uruguaio ao lado de Danilo e Reginaldo Nascimento, que confessa não se sentir bem como zagueiro de ofício. “É meio estranho jogar assim em uma defesa com quatro jogadores”, diz. A outra opção seria a entrada de Nivaldo, com Nascimento passando para o meio-campo – sobraria Pepo.
Mas a mudança mais ousada seria a entrada de Ricardo na lateral-esquerda. Até aí, nada de mais – só que isso significaria a colocação de Adriano na direita. Antônio Lopes conversou muito com o “ex-Ceará” no trabalho de ontem, e as boas jogadas do atual reserva podem aparecer no Estádio Nacional de Lima. Como contraponto, o conservadorismo do treinador: ele tem como norma a manutenção de uma base, e tal mudança seria profunda demais para a cabeça de Lopes.
Além disso, Josafá deve ser o titular do ataque, formando ao lado de Luís Mário. A intenção seria a melhora do contra-ataque, ponto falho do time contra o Rio Branco – e que, segundo Luís Mário, é o segredo para derrotar os peruanos. “Quando joguei pelo Grêmio, ano passado, ganhamos o jogo (2×0) apenas com as jogadas de contra-ataque”, avisa o “Papaléguas”. A alteração no ataque é certa, já que Bruno sequer comporá o grupo que viaja amanhã.
Funcionários do Cori a ver navios
Que o Coritiba está com problemas de caixa, assim como quase todos os clubes de futebol do Brasil, não é novidade. Mas ontem um funcionário, que trabalha no setor administrativo do clube, revelou à Tribuna que a maior parte do quadro funcional que tem direito a salários de até R$ 1,2 mil, está se endividando junto a bancos, agiotas e financeiras, em virtude do constante atraso no pagamento de salários que o clube deveria fazer.
Segundo informou este funcionário – que prefere não se identificar por temer represálias -, o mês no clube não tem apenas 30 dias. Normalmente o atraso nos pagamentos tem variado entre 60 e 90 dias, e “isso tem atingido todos os departamentos”, revelou a fonte, lembrando que isso começou a se tornar corriqueiro no primeiro semestre do ano passado.
O que revoltou ainda mais os trabalhadores do clube do Alto da Glória, é que o presidente reeleito, Giovani Gionédis, concedeu entrevista à rádio Banda B, dias antes de sua posse, na qual afirmou que estava orgulhoso, pois todos os salários do clube estavam em dia.
“Muitos chegam em casa e, sem dinheiro no bolso, e nada podem comer. Até dá para segurar as finanças quando se ganha mais de três mil reais. Você faz dívida, mas se segura para não gastar muito pois sabe que atrasa. Mas com um salário entre R$ 500 e R$ 900, não tem como fazer isso. As dívidas do mês se acumulam e hoje em dia nem mesmo temos como fazer empréstimos, pois o nome da maioria está no SPC”, argumenta a fonte.
Outra falha da direção ocorreu para os funcionários que foram liberados para férias mas não receberam o pagamento referente ao período (o salário mais uma bonificação de 30%). Além de ter de enfrentar o período de descanso com salários atrasados, ainda não receberam o benefício, o que infringe a legislação específica neste sentido.
Só para ilustrar a situação de penúria, os funcionários receberam os salários de novembro, no dia 18 de dezembro. O 13.º salário, só foi pago no dia 14 de janeiro, enquanto o mês de dezembro ainda não foi repassado a nenhum dos trabalhadores do Alviverde.