Copa em busca de afirmação

Mais do que bom futebol e repercussão, a Copa das Confederações começa hoje, na França, sua busca pela afirmação. Poucas vezes uma competição oficial da Fifa foi tão questionada, tanto por jogadores quanto por dirigentes. Reclama-se sobretudo, do período de disputa, logo após o encerramento da temporada européia, quando todos já estão esgotados. E acusa-se os organizadores de promoverem apenas um torneio caça-níquel, já que o aspecto técnico fica comprometido pela ausência das principais estrelas, casos dos brasileiros Ronaldo, Rivaldo e Roberto Carlos e do francês Zidane.

O reflexo desse cenário é percebido na reação dos franceses. Paris, Lyon ou Saint-Etienne, não importa em qual das cidades-sedes se esteja, a realidade é a mesma: torcedores pouco empolgados, divulgação discreta do evento, repercussão apenas mediana nos veículos de comunicação e vendas de ingressos abaixo das expectativas. Aos poucos, os organizadores percebem o óbvio: a torcida, antes de ver um time, quer ver os ídolos, espécie rara na edição deste ano.

Então o que fazer para tentar motivar e animar o público? A alternativa dos promotores foi apelar ao emocional e mexer com o brio dos franceses. Diante da ausência de estrelas, a alternativa foi tratar a Copa das Confederações como a chance de a França superar o vexame que deu na Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão, realizada no ano passado e vencida pelos brasileiros.

Na oportunidade, os franceses chegaram à Ásia com o moral de serem os atuais campeões mundiais e foram eliminados ainda na primeira fase, sem marcar nenhum gol.

Tal abordagem é feita no site da Fifa e em todo material sobre o torneio. Só para se ter uma idéia, em seu pronunciamento oficial, o presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Claude Simonet, afirmou que a competição “é uma oportunidade para nosso time apagar da memória tal derrota e recuperar sua potencial posição de destaque”. Outros veículos de promoção usam expressões até mais fortes, como “humilhação” e “desgraça”.

O torneio

Problemas à parte, a questão é que a bola vai rolar e, como sempre acontece, o interesse de todos tende a aumentar conforme os resultados ocorram. A edição 2003 conta com oito países participantes, divididos em dois grupos de quatro: A (França, Colômbia, Japão e Nova Zelândia) e B (Brasil, Camarões, Estados Unidos e Turquia). A primeira rodada acontece hoje. No Stade de France, em Saint-Denis, às 13 (horário de Brasília), a Nova Zelândia enfrenta o Japão. Às 16 horas, já em Lyon (500 quilômetros de Paris), a França pega a Colômbia.

Já a estréia do Grupo B é amanhã. Às 14 horas, em Saint-Etienne (55 quilômetros de Lyon), o confronto entre turcos e americanos. Duas horas depois, dessa vez em Paris, no Stade de France, o Brasil inicia a competição contra Camarões. Os dois primeiros colocados de cada chave passam à semifinal, no tradicional 1.ºA x 2.ºB e 1.ºB x 2.ºA. Ambos os jogos acontecem no dia 26. Os perdedores disputam o terceiro lugar, dia 28, em Saint-Etienne, enquanto os vencedores fazem a final dia 29, às 16 horas, na capital. A torcida, pelo menos dos organizadores, é que Brasil e França cheguem à decisão. A esperança é de que possam explorar o aspecto de “revanche” do confronto, que relembraria a final da Copa do Mundo de 1998, quando os franceses venceram por 3 a 0, no mesmo Stade de France. O apelo mercadológico, dizem, seria enorme em todo o mundo.

História – A Copa das Confederações foi criada em 1997 para tentar viabilizar economicamente algumas federações pouco tradicionais no cenário internacional, além, é claro, de injetar mais recursos nos cofres da Fifa. O formato escolhido, como o próprio nome sugere, foi criar uma competição que reunisse os campeões das seis confederações continentais associadas à Fifa que, ao lado do atual campeão e da equipe representante do país-sede, formam oito times. “Nosso objetivo é dar condição a países onde o futebol está se desenvolvendo de poder jogar contra seleções tradicionais, o que impulsionaria ainda mais a modalidade nesses locais”, explicou o presidente da Fifa, Joseph Blatter.

A próxima edição está confirmada para 2005, na Alemanha, e vai funcionar como uma espécie de laboratório de preparação para a Copa do Mundo de 2006. Aliás, uma das proposta discutidas no último congresso da Fifa é de realizar a Copa das Confederações de quatro em quatro anos, sempre no ano anterior à disputa do mundial, exatamente para que o país promotor possa fazer seu “ensaio”.

O evento já teve três edições oficiais. Em 1997 foi realizado na Arábia Saudita e o Brasil levou o título ao passar pela Austrália na final. Em 1999, a sede foi o México e os donos-da-casa ficaram com o troféu ao baterem os brasileiros na decisão. Já em 1999, a edição asiática (Coréia do Sul e Japão) foi fatídica para o time do, então treinador, Émerson Leão. O Brasil terminou em quarto (os franceses foram campeões ao derrotarem os japoneses) e o técnico brasileiro acabou demitido pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, ainda no aeroporto de Narita.

Houve ainda duas edições disputadas em 1992 e 1995, ambas na Arábia Saudita, mas que são consideradas como campeonato intercontinental. Os respectivos campeões foram Argentina e Dinamarca.

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