O futuro do Coritiba está nas mãos de cinco pessoas. São os membros da mesa diretora do Conselho de Administração, que recebem hoje a defesa do atual comando do clube e prometem para no máximo amanhã o parecer sobre o recurso impetrado pela oposição, que pretende impugnar nove votos da eleição e conseqüentemente vencer o pleito realizado na segunda passada. Sob o comando do advogado Júlio Militão da Silva, os conselheiros vão avaliar as duas peças jurídicas e decidir quem é que tem razão. E Militão garante que o estatuto do Coxa será cumprido à risca.
Conselheiro do Coritiba há 30 anos, e sócio do clube desde 1951, Júlio Militão da Silva assumiu a presidência do Conselho de Administração ainda na segunda, logo após a tumultuada eleição. Assim como Giovani Gionédis, ele venceu o pleito por um voto de diferença – a peculiaridade foi o fato dele estar na oposição. ?Realmente foi uma eleição inusitada. Foi decidida por um voto nos dois conselhos e com resultados opostos?, comenta.
Mesmo ligado a José Antônio Fontoura, Militão se afastou da disputa política
logo que assumiu o conselho. ?Não podia mais ficar próximo a um lado ou a outro. Tenho trinta anos de ligação com o Direito, minha obrigação é lutar pela decisão mais justa. Quando converso com o Tico Fontoura, falamos apenas do trâmite do recurso. Vamos tratar do assunto como magistrados?, diz.
Após o pedido de recurso, entregue na noite de quinta, o advogado repassou imediatamente o texto à atual diretoria, que tem até hoje para entregar a defesa. E já está marcada para as 18h uma reunião do ?conselhã??.
?No mais tardar na manhã da quarta nós já estaremos informando à sociedade a nossa decisão?, avisa Júlio Militão.
A pressa se deve à necessidade de dar uma resposta. ?Todos esperam o posicionamento da mesa diretora. Não só os conselheiros, assim como os torcedores e sócios do Coritiba, e também a imprensa?, diz o presidente do Conselho de Administração, que foi cronista esportivo por vinte anos.
?Não podemos deixar o clube esperando por uma definição?, afirma.
E ele garante que o imobilismo transparecido nos últimos dias não corresponde à verdade. ?Posso dar garantia que o clube não está parado. Temos um trabalho em andamento, o Campeonato Paranaense começa no dia 11 e é necessário trabalhar. Toda e qualquer decisão tomada pela atual direção será ratificada pelo conselho?, assegura.
Júlio Militão não quis adiantar possíveis caminhos para o recurso da oposição. ?Qualquer declaração minha pode ser interpretada como uma tendência. Só poderemos falar do assunto quando tivermos as duas peças jurídicas. E todas as decisões estarão no acórdão que divulgaremos na quarta-feira?, desconversa.
As possibilidades seriam as seguintes: a recusa em aceitar o recurso e manutenção do resultado favorável a Giovani Gionédis; a impugnação dos votos e a vitória de Tico Fontoura; a realização de novas eleições; o envio da matéria para o Conselho Consultivo; ou a decisão de seguir para o pleno do Conselho de Administração, que decidiria no voto.
Seja qual for o posicionamento da mesa diretora do ?conselhão?, Júlio Militão da Silva diz que ela será tomada de acordo com as normas do Estatuto do Coritiba. ?A lei de um clube é o seu estatuto. E nós temos a obrigação de segui-lo à risca quando vamos tomar uma decisão deste porte?, resume o presidente, que foi um dos autores da nova versão do texto (aprovado em 1995), ao lado de Cléverson Marinho Teixeira e Domingos Moro.
Membros
A mesa diretora do Conselho de Administração é formada pelos seguintes conselheiros: Júlio Militão da Silva, presidente; João Gualberto de Sá Scheffer, 1.º vice-presidente; Dirceu Lamóglia, 2.º vice; Jair Cirino dos Santos, 1.º secretário; e Pierre Alexandre Boulos , 2.º secretário.
Oposição confiante na aceitação do recurso
Era esperada para hoje a definição dos oposicionistas. José Antônio Fontoura, candidato da chapa Campeão de Novo, pretendia informar qual seria a resposta dele e de seus correligionários para a proposta de união com o grupo do presidente Giovani Gionédis. Mas o conselheiro preferiu esperar a chegada de dois membros da chapa para consultá-los e dar, então, o posicionamento final.
A tendência é que não haja composição, apesar de Tico Fontoura não querer antecipar nenhuma decisão. ?Eu deixarei as reticências. No momento, não quero me declarar, pois pretendo esperar os dois companheiros que estão em viagem e que também têm o direito de opinar sobre o assunto. A decisão está tomada, mas quero aguardar?, diz o candidato, que entrou com um recurso no Conselho Administrativo pedindo a anulação de nove votos dados à situação e a mudança do resultado do pleito de segunda.
Os oposicionistas estão confiantes na aceitação do recurso, mas darão um posicionamento oficial antes da definição da mesa do Conselho de Administração. ?Não sei se nossa manifestação vai mudar alguma coisa no atual momento político do clube. Mas é uma posição estudada, conversada com muitos companheiros e tomada pela maioria?, avisa Fontoura.
As conversas sobre um governo de coalizão não chegaram a um ponto comum. Muitos conselheiros tentaram agir como mediadores, lutando pela unidade do Coxa. ?Eu gostaria muito que isto acontecesse?, reconhece o presidente do Conselho de Administração Júlio Militão da Silva.
Os integrantes da atual diretoria também estão confiantes. Os advogados ligados da situação entregam hoje a peça de defesa ao ?conselhão? e, segundo conselheiros próximos a Gionédis, o texto deve conter dados que definiriam a situação a favor da manutenção do resultado do pleito. Inclusive pode ser apresentado um documento de antes da eleição autorizando os atuais dirigentes a votarem. ?Nós vamos mostrar a legalidade do processo realizado na segunda-feira?, afirmou o vice-presidente do Coxa, André Ribeiro, em entrevista à rádio Banda B.
Márcio sabe amanhã se fica
Coincidência ou não, o anúncio da permanência (ou não) do técnico Márcio Araújo e de sua comissão técnica no Coritiba ficou – assim como a resposta do recurso da oposição – para amanhã. A novidade é que o comando do departamento de futebol deve passar não só o posicionamento sobre o treinador, mas também a decisão sobre quais jogadores interessam ao clube para a temporada 2006.
Mesmo com o imbróglio político, o assessor da presidência José Hidalgo Neto, o diretor de futebol Almir Zanchi e o superintendente Odivonsir Frega continuaram a se reunir no final de semana. Ontem, novamente eles conversaram durante todo o dia, contando também com a participação do auxiliar Cláudio Marques e do coordenador das categorias de base Dirceu Krüger – em pauta também está a participação do Coxa na Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Apesar do adiamento, é quase certa a renovação de Márcio Araújo com o Coxa. A manifestação oficial da diretoria, que descartou qualquer possibilidade de Rafael Camarotta integrar-se à comissão técnica, reforça a posição do técnico e de seus auxiliares diretos Nílton Santana e Luiz Henrique.