Colombiano amplia denúncias sobre suborno que eliminou Brasil na Copa de 78

Buenos Aires – O colombiano Fernando Rodríguez Mondragón identificou o falecido vice-almirante argentino Carlos Lacoste como um dos autores do suposto suborno que ocasionou a derrota da seleção do Peru por 6 a 0 contra a Argentina, no Mundial de 1978, em um dos jogos mais polêmicos da história do futebol.

A partida fez com que o Brasil, invicto em todo o campeonato e do mesmo grupo da Argentina (anfitriã), não chegasse à final (por diferença de gols), disputando, assim, o terceiro lugar contra a Itália. Foi a única vez que o Brasil venceu todos os jogos e não foi campeão.

Em entrevista publicada nesta quarta-feira (12) pelo portal Terra Magazine, Rodríguez Mondragón, filho do narcotraficante Gilberto Rodríguez Orejuela (ex-chefe do cartel de Cáli), ampliou a magnitude de sua denúncia da semana passada, quando confirmou a existência da negociação e suborno que envolveram a Argentina e a Federação Peruana de Futebol (FPF).

O colombiano apontou o goleiro argentino Carlos Quiroga e o atacante Juan Muñante, ambos naturalizados peruanos, como dois dos quatro jogadores da seleção do Peru que foram beneficiados pela compra da partida, segundo suas próprias provas.

Mondragón garantiu que os outros dois foram "um defensor e um volante, que também eram peças-chave no time". "Mas na verdade, todos os jogadores da seleção receberam, logo depois, pagamentos extras" por parte da FPF, que também recebeu dinheiro pelo "acerto", disse Mondragón.

A FPF teria pedido ao tio do colombiano quatro jogadores "de experiência e liderança" que facilitassem a derrota, "e depois pagou a todos os jogadores, como incentivo, extras de US$ 50 mil para cada um". "Tenho os montantes totais daquilo que foi dado a cada jogador", afirma Rodríguez Mondragón.

O colombiano afirmou que Muñante, um desses quatro jogadores escolhidos inicialmente, chutou uma bola na trave quando o jogo ainda estava 0 a 0, mas na verdade queria chutar fora, e quase fez um gol sem querer.

Rodríguez Mondragón explicou que o cartel de seus parentes não deu dinheiro para a negociação ilegal, mas fez a ponte entre o regime militar argentino e a FPF.

"Existe um erro de interpretação da notícia que dei à rádio Caracol. O cartel [de Cáli] não colocou dinheiro", afirmou o colombiano, esclarecendo que foi seu tio, Miguel Rodríguez Orejuela, quem o fez, concretizando a intermediação para que funcionários da ditadura militar argentina pudessem se reunir com os dirigentes da FPF, em Lima.

O acordo de compra da partida teria acontecido na sede da FPF, em Lima, no bairro de Miraflores, dois dias antes do confronto realizado no dia 21 de junho de 1978, em Rosario (Argentina). Mas ele afirmou que seu tio Miguel não participou da reunião de Lima, apesar de ter obtido todos os detalhes do encontro.

O resultado da partida permitiu que a seleção anfitriã superasse o Brasil nos critérios de desempate, avançando assim para a final do Mundial, quando venceu a Holanda e foi coroada campeã.

Da reunião, disse Rodríguez Mondragón, participaram pelo menos "o presidente e o tesoureiro da Federação Peruana". E do lado argentino, Carlos Lacoste, "um sócio e também militar", e uma terceira pessoa "representando a Associação de Futebol Argentino [AFA]".

Lacoste foi o "homem forte" do Mundial de 78: era vice-presidente do Ente Autárquico Mundial 78 (EAM 78), foi ministro da Ação Social e, inclusive, presidente da Argentina durante o breve período de dezembro de 1981, respaldado pela ditadura militar (1976-1983).

Ele também foi vice-presidente da Confederação Sul-americana de Futebol e, entre 1980 e 1984, da própria Fifa, impulsionado pelo então presidente, o brasileiro João Havelange.

Alguns anos depois, Havelange chegou a defender Lacoste diante da justiça argentina, ao declarar que ele lhe havia emprestado dinheiro para que pudesse comprar um imóvel no luxuoso balneário uruguaio de Punta del Este.

Segundo Rodríguez Mondragón, havia grandes fluxos de comissões ilegais com os passes de jogadores no America de Cáli, time colombiano controlado pelos irmãos Rodríguez Orejuela.

Foi o empresário argentino Carlos Quieto quem convidou seu tio, Miguel Rodríguez Orejuela, para intermediar o contato entre Argentina e FPF, cujos dirigentes já conhecia por causa de outros negócios de futebol.

"Vou publicar os nomes e telefones das pessoas que estavam na agenda de meu tio, que guardava com muito ciúmes suas coisas. O nome de Lacoste vai aparecer no livro [o segundo de sua autoria, sobre histórias do narcotráfico]. Os bons negócios de meu tio logo foram retribuídos com alguns jogadores argentinos que chegaram ao América [de Cáli]", disse Mondragón.

Rodríguez Mondragón também disse que acredita que os jogadores argentinos não sabiam do suborno e da compra do jogo, e ainda comentou que eles poderiam ter feito os quatro gols necessários para chegar a final sem o acerto.

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