COI admite crise, mas mantém programa da tocha olímpica

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, admitiu nesta quinta-feira (10) que o movimento olímpico vive uma "crise", depois dos inúmeros protestos durante a passagem da tocha olímpica pelo mundo. Apesar disso, ele descartou a hipótese de suspender a corrida de revezamento que tanta confusão está causando.

Os protestos contra o governo chinês, a favor dos direitos humanos na China e contra a ocupação no Tibete, estão marcando a corrida de revezamento da tocha olímpica. Houve manifestação desde o começo, em Olímpia, na Grécia, quando a chama foi acesa. Mas os maiores incidentes foram em Londres e Paris.

"É uma crise, não há dúvidas", admitiu Rogge nesta quinta-feira (10), durante reunião do Comitê Executivo do COI, em Pequim. "Mas já superamos tormentas piores", completou o dirigente, lembrando do atentado terrorista na Olimpíada de Munique, em 1972, e também dos boicotes nos Jogos de 1976, 1980 e 1984.

Rogge, no entanto, garantiu que a hipótese de suspender a viagem da tocha, como estava sendo cogitado por alguns membros do COI, está descartada. "Isso definitivamente não está nos planos", avisou o presidente da entidade, que admitiu, porém, algumas mudanças. "Estamos estudando melhoras no trajeto, mas não se discute interromper ou trazer diretamente para Pequim."

Depois dos problemas enfrentados em Londres e Paris, Rogge viu com alívio a passagem da tocha por São Francisco, na última quarta-feira. Apesar do enorme número de protestantes nas ruas da cidade norte-americana, não foi registrado nenhum incidente grave – mesmo porque, houve forte esquema de segurança, o percurso foi cortado pela metade (passou de 10 para 5 quilômetros) e a tocha chegou a ser escondida da população em alguns momentos.

Mesmo aliviado com a falta de violência em São Francisco, Rogge lamentou toda a situação. "Não foi a celebração cheia de festa que desejávamos", admitiu o presidente do COI, que espera mais um dia de calmaria nesta sexta-feira (11), quando a tocha olímpica irá passar por Buenos Aires, na Argentina.

Quando perguntado se estava arrependido por ter escolhido Pequim como sede dos Jogos Olímpicos, Rogge lembrou de um "compromisso moral" dos chineses com o COI. "Pequim tinha a melhor candidatura e, naquela ocasião, as autoridades chinesas prometeram que a Olimpíada ajudaria a promover mudanças sociais no país, incluindo os direitos humanos", revelou o dirigente, explicando que não houve "nenhuma promessa contratual" sobre esse tema. "Foi um compromisso moral."

Regras

Diante da onda de protestos contra o governo chinês, o COI deve fazer um livro para controlar o comportamento dos atletas durante a Olimpíada de Pequim, que acontecerá em agosto. A idéia é evitar manifestações em competições e cerimônias de premiação.

Rogge afirmou que os limites das manifestação serão estudados pelo Comitê Executivo da entidade, mas adiantou que a intenção não é censurar os competidores. "A liberdade de expressão deve ser absoluta. É um direito do ser humano, e os atletas devem tê-lo", disse o dirigente, que garantiu que, caso sejam feitos protestos, os atletas não perderão os títulos ou medalhas. "Definitivamente, não haverá esse tipo de sanção."

Mudanças

Enquanto isso, cidades por onde a tocha olímpica ainda passará tomam precauções para evitar novos incidentes. Nesta quinta-feira (10), por exemplo, a cidade de Jacarta, na Indonésia, anunciou que o trajeto local será diminuído, no evento programado para o dia 22 de abril.

"O Comitê Olímpico da China, por meio da embaixada do país aqui na Indonésia, pediu que diminuíssemos a extensão do percurso, por causa dos protestos que têm acontecido em vários países. Nós concordamos", afirmou Sumohadi Marsis, responsável pela organização do evento em Jacarta.

Assim, do programa inicial de 15 quilômetros, que passaria pelas principais ruas de Jacarta, a tocha olímpica deve percorrer apenas uma pequena parte, nas imediações do principal estádio da cidade.

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