Capital dos Jogos é uma cidade fortemente armada

A cidade dos Jogos-Pan-Americanos, São Domingos, é militarizada. Um simples passeio pelas ruas da capital da República Dominicana faz o visitante notar homens de fardas camufladas, verde e marrom, portando armas como escopetas 12 e fuzis M16, que saltam aos olhos. “É um país militarizado, provavelmente com mais generais do que no Brasil”, afirma Debrair da Silva, cônsul do Brasil na República Dominicana – a população é de 8.581.477 e a área, 48.730 quilômetros quadrados.

A República Dominicana ocupa dois terços da ilha Hispaniola, no Caribe. Seu vizinho é o miserável Haiti. Debrair explica que essa presença militar ostensiva é constante, mas está maior para garantir a segurança dos membros da família pan-americana. As Forças Armadas contam com a ajuda de especialistas em segurança de Israel, EUA e Cuba – esses últimos, com segurança redobrada nos Jogos. “Os dominicanos estão acostumados com armas. Quanto maior e mais bonita, mais prestígio. Há milhares de lojas de armamento. Todos os guardas de casa trabalham com escopetas. É uma tradição. Antigamente, na década de 40, do ditador Rafael Trujillo, usar arma era um sinal de poder. Davam até tiro para cima…”

O cônsul relata uma cena que presenciou logo que chegou ao país, há três anos. “Levei minha filha ao médico e um sujeito ao meu lado na sala de espera tinha um neném no colo e uma pistola na cintura.”

Observa que muitas pessoas não têm preparo para portar armas. Mas acrescenta que há um paradoxo em relação a essa questão: não acontecem muitos crimes com bala no país. “Acho que é assim: você sabe que eu estou armado. Eu sei que você está armado e ninguém atira em ninguém…”

Diferente do que ocorre atualmente no Brasil, em que o desarmamento é o assunto do momento, na República Dominicana, o governo não tem o menor interesse em mexer nessa questão. Debrair diz que das 8 milhões de pessoas, que moram na República Dominicana, 6 milhões têm armas. Os dominicanos vivem em uma democracia. No ano que vem haverá eleições presidenciais. “Quem manda mesmo aqui é o Exército. Mas a polícia tem a sua independência, aliás o chefe da polícia é um general”, observa Debrair.

Gabriel Grunberg, de 50 anos, atleta do tiro esportivo, modalidade pistola de ar, afirma que segurança não é demais. “Há cerca de 7 mil estrangeiros aqui e é preciso garantir a integridade de todos. Como você acha que será no Rio em 2007?”, perguntou o atirador. Stenio Yamamoto, de 42 anos, também representante da pistola de ar e livre, comentou que um dos acompanhantes da delegação do Brasil anda armado com uma Taurus, de fabricação brasileira. “Me sinto mais seguro com os militares na rua”, disse o atleta-dentista, que lembra de tanques de guerra na edição da Eco 92, no Rio.

Para José Eduardo Teixeira, do tiro rápido e policial civil (trabalha na Garra, Grupo Armado de Repreensão a Roubos e Assaltos), os estrangeiros se assustam com a quantidade de escopetas nas ruas porque não estão acostumados a vê-las com freqüência em seus países. “A polícia não teria condições de dar segurança aos atletas sozinha. O Exército é bem-vindo”, declarou o esportista, que fardado e dentro da viatura da Garra, anda com uma submetralhadora 9 milímetros, uma espingarda calibre 12 e um fuzil de assalto (arma rápida) calibre .223. Mesmo de folga tem duas pistolas presas ao corpo. “Quando comprei a minha primeira arma, em 1985, uma calibre 38, minha mãe ficou sem falar comigo seis meses mesmo sabendo que meu pai, um pedreiro, também tinha arma. É uma questão de costume. Eu prefiro estar armado.”

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