Briga do Atlético agora é pela Sul-Americana

O Atlético jogou com o freio de mão puxado e não saiu de um modorrento 0 a 0 com o esforçado Sport, na tarde de ontem na Arena. Mesmo atuando com um jogador a mais desde os 22 minutos do 2.º tempo, o Furacão não soube superar a boa marcação do adversário e terminou o jogo lamentando o resultado e enaltecendo a postura tática do Sport. Com o empate, o clube paranaense desperdiçou a grande chance de continuar na briga direta por uma das vagas à Libertadores.

As duas equipes entraram em campo utilizando o mesmo padrão tático (3-5-2) e, por isso, os esquemas batiam de frente e se anulavam. Apesar de ter o domínio do jogo, o time da casa não conseguia chegar com perigo à meta defendida por Magrão, a não ser em bolas alçadas na área e cobranças de falta. O Atlético sentiu a falta de um ala-direito específico, pois com a presença de Alan Bahia improvisado, a equipe perdeu uma de suas principais jogadas. Assim, o jogo rubro-negro se concentrou muito pelo meio, o que facilitou a marcação para o Sport.

As melhores chances de gol atleticanas foram em cobranças de falta. Aos 17 minutos com Michel e aos 43? com Netinho, que acertou o travessão. Ao Sport coube apenas um único lance de perigo, num belo chute de longe de Carlinhos Bala, que assustou Viáfara.

Na etapa final, os dois técnicos resolveram arriscar e colocaram mais atacantes. No Atlético, Alex Mineiro substituiu Alex Fraga e, no Sport, Anderson Aquino entrou no lugar de Júnior Maranhão. O jogo ganhou em velocidade e ficou mais aberto. Isso até os 22 minutos, quando Dutra fez uma falta boba em Alan Bahia e levou o segundo amarelo. Com a expulsão do atleta, o Furacão tentou pressionar, mas não encontrou espaços para finalizar. Geninho tirou um atacante para recompor seu sistema defensivo e passou o restante do jogo na retranca.

Necessitando da vitória, Ney Franco tornou o Atlético extremamente ofensivo com a entrada de Evandro e Pedro Oldoni. Michel foi recuado para completar o trio de zaga e o Furacão foi pra cima. Porém toda a pressão e o apoio da torcida não foram suficientes para furar o bloqueio pernambucano e a partida terminou sem gols.

Com o empate e os demais resultados da rodada, o Atlético adiou o sonho de voltar à Libertadores e agora se concentra para obter uma das vagas à Sul-Americana.

36ª Rodada do Campeonato Brasileiro

Atlético 0 x 0 Sport

Local: Estádio Joaquim Américo, Arena da Baixada, em Curitiba

Atlético: Viáfara, Rhodolfo, Rogério Correa e Alex Fraga (Alex Mineiro aos 12? do 2º); Alan Bahia (Pedro Oldoni aos 32? do 2º), Valencia, Claiton, Netinho e Michel; Marcelo Ramos (Evandro aos 32? do 2º) e Ferreira. Técnico: Ney Franco.

Sport: Magrão, César Lucena, Gustavo e Durval; Luisinho Netto, Everton, Júnior Maranhão (Anderson aos 11? do 2º), Romerito e Dutra; Carlinhos Bala e Da Silva (Reginaldo aos 21? do 2º (Igor aos 27? do 2º). Técnico: Geninho.

Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (RJ)

Auxiliares: Hilton Moutinho Rodrigues (FIFA-RJ) e Marcelo Fonseca Duarte (RJ)

Cartões amarelos: Alex Fraga e Valencia (A); Durval, Da Silva, Luisinho Netto (S)

Cartão vermelho: Dutra(S) aos 22? do 2º

Público pagante: 14.358

Público total: 15.724

Renda: R$ 219.680,00

Méritos pra pegada do Sport

Jogadores e técnico do Atlético preferiram enaltecer o sistema defensivo do Sport ao invés de criticar a baixa produtividade da equipe demonstrada ontem. De acordo com o zagueiro Rogério Correa, o time lutou até o final, mas não deu para conquistar os três pontos. ?(A queda de rendimento) foi devido a postura do Sport. O Geninho armou bem a sua equipe?, afirmou o defensor. Para o improvisado Alan Bahia, ?tem que dar mérito ao Sport, pois eles marcaram muito?.

O comandante Ney Franco disse que seu time se portou bem na marcação, porém criou muito pouco. Ele destacou que o Atlético nunca desistiu de atacar, mas que foi bem bloqueado pelo time pernambucano. ?No 2.º tempo tentamos alternativas para deixar o time mais ofensivo, mas não tivemos competência para fazer o gol. O Sport soube neutralizar nossa fensividade?, declarou. Para o treinador foi um jogo muito equilibrado e o resultado justo. Nesta semana, Franco deve se reunir novamente com a diretoria do clube para acertar a renovação de seu contrato. Não há data específica para a reunião, mas o técnico espera que tudo se decida nos próximos dias.

O Brasileirão entra em recesso e o Furacão volta a jogar somente em 25 de novembro, contra o Flamengo, no Rio de Janeiro. A meta agora é uma vaga para a Sul-Americana.

Ídolo do Furacão é apaixonado por futebol

Rodrigo Feres – especial para aTribuna

Arquivo
 ?Se pudesse começar de novo, seria jogador de futebol. Não pelo dinheiro, mas pelo prazer.?

O ídolo de várias gerações rubro-negras, Barcímio Sicupira Júnior, o maior artilheiro da história do Atlético, com 157 gols, retrata a história não contada e faz uma projeção do Atlético do futuro. O craque da oito, em um bate-papo descontraído, conversou com exclusividade com o Paraná-Online.

Paraná-Online: O que mudou no futebol da sua época para os dias de hoje?

Sicupira: Era completamente diferente. O futebol de semi-amador passou a ser extremamente profissional. O treinamento é um absurdo. Treinar em dois períodos quase que todo dia faz o jogador ir à exaustão. Depois, jogo quarta e domingo, e viagem, se tornam muito cansativos. Na verdade, o futebol ficou fácil pra quem sabe menos. Tem uma palavra que eu não aceito que é motivação. O cara recebe pra isso. A motivação tem que ser freqüente, ele joga pelo salário dele no fim do mês. Não tem que se jogar de uma forma contra o time de Loanda e outra contra o Santos. Antigamente era muito mais difícil. O salário não era o que é hoje e cada time tinha de seis a sete craques. Era muito mais técnico e jogava quem sabia jogar. No meu tempo os dois laterais do Atlético não mudavam nem de roupa. Nesse time atual só o Valencia marca. Qualquer dia o colombiano vai ter um infarto. O Claiton vai e não volta. É que nem balde furado. O que precisa é de um ídolo, como o Alex Mineiro. Um, dois ou três. É pra vender a camisa, pra fazer o torcedor ir ao estádio. Isso é imprescindível para o sucesso no futebol.

Paraná-Online: Quais eram as diferenças, e principalmente as dificuldades, daquele Atlético em que você jogou para o de atualmente?

Sicupira: Não tem termo de comparação. O Atlético daquele tempo sobrevivia. O de hoje é uma potência. É um trabalho feito com seriedade e é tudo do Atlético. Com a estrutura que foi montada, daqui a pouco todo mundo vai querer vir jogar aqui. Depois de terminado o projeto do CT e do estádio, vai ser um dos maiores clubes do mundo. Se continuarem com essa linha de pensamento, sem teimosia e revelando bons jogadores, tem tudo pra continuar dando certo. Minha época passou e fiz a minha parte. Sempre me dei muito bem com a torcida e acho que a torcida do Atlético faz a diferença e é diferente. A acústica da Arena propicia isso e não tem como o jogador não se inflamar. Eu sou a favor do Petraglia. Claro que ele fez algumas coisas que não deram certo, mas que é um dos maiores dirigentes do Brasil, ninguém pode negar. Eu acho que ele já devia estar preparando alguém pra ser seu sucessor. Vai chegar um dia em que ele vai ter cem anos e vai ter que parar.

Paraná-Online: Você fez 157 gols pelo Atlético, o maior artilheiro da história do clube. Sua posição era meio-campo. Como se explica esse faro de artilheiro?

Sicupira: (risos) Vocês dizem, eu não sei, porque nunca contei meus gols. É um recorde que dificilmente vai ser batido porque ninguém vai jogar tanto tempo quanto eu joguei novamente. Deve se levar em consideração que naquela época o número de jogos era muito menor. Eu era meia-direita, mas se jogava no 4-2-4. Tinha os pontas abertos e os que chegavam pelo meio. Pegava muito rebote, era muito oportunista, chutava muito bem. Eu devo ter um recorde de gols de bicicleta. Fiz uns dez. O segredo é aproveitar as oportunidades e muito treinamento e dedicação. O jogador tem que treinar toda situação de jogo, porque uma hora ela vai aparecer. Bola sempre foi comigo mesmo.

Paraná-Online: Você tentou ser técnico uma vez, mas não deu certo. Por quê?

Sicupira: Eu me decepcionei. Não era pra mim. Ter que ouvir chamarem o Rubens Minelli e o Ênio Andrade de burro é brincadeira. Eu tinha um filho e uma vida bem estruturada em Curitiba. Não podia estar um dia em Belém, outro em Porto Alegre, Campinas. A família pesou muito na minha decisão. Na seqüência comecei a ser comentarista e sou até hoje.

Paraná-Online: Do que você tem mais saudades do futebol e qual foi o seu melhor momento?

Sicupira: Minha carreira inteira foi muito boa. Meu melhor momento foi quando eu fui pro Rio, jogar no Botafogo. Por ter um lugar naquele time e por jogar ao lado de feras como Nílton Santos, Didi, Gérson, Zagallo, Jairzinho e Garrincha não precisa dizer mais nada.

Aquele time não perdia pra ninguém. Jogamos três vezes contra o Santos de Pelé, na Venezuela, e ganhamos as três. Nós excursionávamos pela América porque todo mundo queria ver o Botafogo. Uma vez, chegamos ao México 2h da manhã e tinha mais de 5 mil pessoas esperando pra ver o Garrincha. Quando a gente queria se livrar de alguma coisa empurrávamos o Garrincha. Ele ficava bravo, mas levava na boa. Foi uma época muito boa. Se eu pudesse começar de novo, queria ser jogador de futebol. Não por dinheiro, mas por prazer.

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