Auditores do STJD criticaram andamento das investigações

?No final, aconteceram três punições a mais, mas houve uma absolvição.? O resumo do procurador-geral do STJD, o paranaense Paulo Schmitt, parece simplista, mas resume o pensamento dos que queriam penas exemplares no julgamento do ?Caso Bruxo?, quinta, no Rio de Janeiro. Entretanto, o que se viu e ouviu no Superior Tribunal de Justiça Desportiva foram críticas veladas ao andamento das investigações e até mesmo quanto a alguns vereditos da casa paranaense.

Apesar de reduzirem as penas de alguns dos acusados (Marcos Mafra, Antônio Salazar Moreno e Johelson Pissaia saíram da eliminação para a suspensão de dois anos,

e Sandro da Rocha foi absolvido), os auditores do STJD manifestaram estranheza sobre alguns posicionamentos de seus colegas locais, principalmente em relação às absolvições no TJD-PR do ex-diretor de árbitros Antônio Carvalho e do ex-árbitro Amoreti Carlos da Cruz.

Carvalho confirmou nos depoimentos do ?Caso Bruxo? que tinha recebido dinheiro do Engenheiro Beltrão, fato divulgado pela Tribuna,que acabou entrando na investigação. O ex-dirigente afirmou que era uma verba proveniente de uma palestra dada aos jogadores da equipe, o que ?convenceu? os auditores paranaenses, que absolveram-no por seis votos a um.

?Quando eu vi que ele foi absolvido, e que tinha sido por este placar, eu me assustei. Não entendi porque isto aconteceu?, disse o relator do caso no STJD, Eduardo Machado Costa. Ficou claro em seu voto que ele percebeu uma falha de interpretação no primeiro julgamento ou mesmo alguns lapsos na análise de documentos e provas testemunhais. Outro auditor, José Mauro Couto de Assis, além de criticar, lembrou de outro detalhe. ?Dizer que foi palestra? Pela mãe do guarda!

E o clube, o Engenheiro Beltrão? Não foi envolvido no caso?, questionou, ouvindo então uma negativa de Machado Costa.

No caso de Amoreti, o relator tomou como principal ponto para condená-lo à eliminação (o que acabou ratificado no voto) o fato de, em vários depoimentos, o ex-árbitro ser apontado como um dos integrantes de um esquema de preparação das escalas.

?Em seu estabelecimento, perto do Estádio Couto Pereira (na verdade, é no estádio), aconteciam reuniões, definições de escalas e até programas de rádio. E de novo o acusado acabou absolvido por seis votos a um. Não quero comentar a decisão do TJD do Paraná, mas eu fiquei preocupado?, afirmou.

Mas o paranaense mais criticado pelo auditor Eduardo Machado Costa foi o árbitro Evandro Rogério Roman.

O relator do ?Caso Bruxo? não usou nem o depoimento dele nem os que foram ao seu lado fazer denúncias contra outros juízes. ?Para mim, o depoimento dele e nada é a mesma coisa. Não tem a menor credibilidade?, atirou. ?Ele esperou o caso se agitar para depois tentar buscar notoriedade e tentar um atestado de bom-mocismo?, completou Machado Costa.

Outro bastante citado pelo relator foi o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura.

Para Machado Costa, o dirigente agiu rápido quando soube das denúncias veiculadas na ESPN Brasil, tanto para teoricamente auxiliar nas investigações quanto para se eximir de qualquer responsabilidade. ?Ele foi o mais esperto na história toda?, resumiu.

Approbato não aceita pressão da CBF

A principal casa da Justiça esportiva está no meio de um fogo cruzado. É o que se pode concluir depois das polêmicas de quinta-feira, quando o atual presidente, (interino) Rubens Approbato Machado, ameaçou renunciar e foi demovido da idéia pelos auditores e membros das comissões disciplinares. Além da possível interferência da CBF, outro ?velho conhecido? está trabalhando nos bastidores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – o ex-homem-forte da entidade Luiz Zveiter, que faz força para Approbato permanecer no cargo.

O atual presidente só está onde está porque Zveiter foi obrigado a sair por ordem do Conselho Nacional de Justiça. Vice-presidente na mesa diretora anterior, Approbato Machado conta com a simpatia do ex-dirigente para continuar no comando do STJD. Em contrapartida, a CBF sabe que tem uma boa oportunidade para reaproximar-se do tribunal – as relações entre os poderes já foram bem melhores, assim como as do presidente Ricardo Teixeira com Zveiter.

Daí a reação de Rubens Approbato. ?Temos que ter uma boa relação com todos os poderes, mas nunca uma subserviência?, reclamou, em conversa com jornalistas. Falando a Juca Kfouri, o presidente do STJD confirmou que o nome apontado pela CBF para comandar o tribunal é mesmo o de Francisco Mussnich, como informado ontem pela Tribuna.

Sandro da Rocha quer apitar novamente

Dos nove envolvidos no ?Caso Bruxo?, seis estiveram representados no Rio de Janeiro. E estes não podem reclamar do desempenho de seus advogados. Foram sete mudanças de veredito, comparando os julgamentos do TJD-PR e do STJD. E, se alguns acabaram punidos (como Antônio Carvalho, Fernando Homann e Amoreti Carlos da Cruz), quatro tiveram a pena reduzida – um deles, Sandro da Rocha, foi o grande ?vencedor? da noite de quinta no Rio de Janeiro.

Sandro foi o terceiro absolvido (além dele, Valdir de Souza e Carlos Jack Magno). Mas o árbitro tem um diferencial em relação aos outros dois: ele chegou ao STJD eliminado, e saiu dele livre para voltar à arbitragem, se quiser. Pelo que se viu após o julgamento, é esta a intenção dele. ?É um jovem, tem 32 anos, precisa voltar para o quadro de árbitros da Federação?, argumentou o advogado dele, Domingos Moro, que também defendeu Homann, Magno, Antônio Salazar Moreno e Marcos Mafra. Moro adiantou que Sandro pode entrar com um requerimento junto à Comissão de Arbitragem para voltar ao quadro estadual.

Os dois outros juízes que foram acompanhar ao vivo o julgamento – Mafra e Salazar -tiveram reações distintas, apesar de ambos terem a pena reduzida de eliminação para dois anos de suspensão.

O primeiro manteve-se calmo, chegando a cumprimentar os auditores depois da sessão.

Já o segundo não se conformou com o resultado, chegando a passar mal e obrigando o presidente da sessão, auditor Virgílio Val, a interromper o julgamento por alguns minutos.

Para Moro, o resultado foi, no final das contas, positivo. ?Nós conseguimos restaurar um pouco da dignidade destes homens, que são pais de família e precisam de respeito?, comentou o advogado, que classificou o julgamento de ?senhora sessão?. O outro advogado presente, Vinícius Gasparini, defendeu Johelson Pissaia e, se não saiu plenamente satisfeito, ao menos viu seu representado ter sua pena reduzida para dois anos de suspensão.

Vitória

Também aconteceu na quinta o julgamento do recurso do Vitória, que queria a anulação dos jogos apitados por Paulo José Danelon na Série B, o que afetaria todo o calendário do futebol brasileiro para 2006, pois obrigaria a realização de novas partidas e, caso necessário, de toda a fase final da Segundona. Mas o STJD não deu provimento ao pedido dos baianos, que foram derrotados por cinco votos a dois.

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