Atlético tenta se levantar pra sair da rabeira

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Marcão diz que tudo teria sido diferente
se o Furacão tivesse jogado na Arena.

Por mais que o discurso pregue concentração total no Brasileiro, uma derrota como a de quinta-feira inevitavelmente deixa feridas. A perda do título da Libertadores, embora reconhecida como justa pelos próprios rubro-negros, ainda ecoa na cabeça de todos. E o tempo é curto para recuperação – domingo, às 16h, o vice-campeão continental enfrenta o Atlético-MG, no Mineirão, em jogo crucial para sair da lanterna.

A delegação rubro-negra deixou a capital paulista ontem à tarde e foi direto a Belo Horizonte. Na bagagem, algumas lamentações pelo 4 a 0 diante do São Paulo. O capitão Marcão lembrou do espaço que o Atlético cedeu aos contra-ataques do tricolor paulista, assim que o time sofreu o primeiro gol. "Falhamos justamente na marcação, um de nossos pontos fortes", disse o lateral, que não esqueceu um dos fatores que causaram a perda do título. "Tudo seria diferente se o primeiro jogo fosse na Arena", acredita.

O goleiro Diego lamentou que o clube fique marcado negativamente pelo placar dilatado – foi a maior diferença de gols numa final de Libertadores, empatada com as finais de 1978 e 1993. "Mas só tomamos o terceiro e o quarto gols porque não havia mais alternativa e partimos para cima. O 4 x 0 dá a impressão que o São Paulo foi muito superior, o que não é verdade. Tanto que fizemos um bom jogo e empatamos no Beira-Rio", falou o goleiro.

Logo após a goleada no Morumbi, o camisa 1 atleticano disse que a frustração pelo vice-campeonato deve ser canalizada em forma de raça. É a síntese do novo discurso atleticano: recuperar o moral através do Brasileirão. Uma tarefa difícil, como o próprio Antônio Lopes antecipava ao anunciar que a comissão técnica fará um trabalho psicológico especial com os atletas.

Hoje, Lopes define a equipe que pega o Galo. Se vencer, o Furacão, com 6 pontos, ultrapassa o adversário (que tem 8) e deixa a lanterna do Brasileirão pela primeira vez desde a terceira rodada.

Desmanche à vista

O fim da Libertadores deve desencadear mudanças no elenco do Atlético. A primeira já estava definida desde o começo do ano: a saída de Fernandinho, que fez contra o São Paulo seu último jogo pelo Furacão.

Fernandinho valorizou-se bastante ao marcar o gol do título do Mundial sub-20 de 2003, pela seleção brasileira. Mas explodiu mesmo no ano passado, quando tornou-se peça-chave na campanha do vice nacional. O Shakhtar Donetsk – mesmo time ucraniano que levou Ivan e Jádson – não perdeu tempo e pagou cerca de 8 milhões de euros (ou R$ 23 milhões) pelo jogador. O valor e mesmo a negociação não são confirmados pelo Atlético.

O tiro, porém, saiu pela culatra. Fernandinho sofreu uma lesão no pé, permaneceu meses parado e voltou bem abaixo da forma habitual. Na finalíssima da Libertadores, entrou no segundo tempo e teve outra atuação apagada.

Um indicativo de remodelação no elenco pode ser a lista de atletas que retornaram direto de São Paulo para Curitiba: além de Fernandinho, o lateral Marín, o meia Leandro, o atacante Jorge Henrique e o zagueiro Tiago Vieira não seguiram para Belo Horizonte. O clube nega a possibilidade de corte. No lugar deles, seguiram para Minas o zagueiro Paulo André, o lateral-esquerdo Beto, os meias Cléverson e Rodriguinho e o atacante Caetano.

Um tremendo salto de qualidade

Armindo Berri

A decisão com o São Paulo só aumentou a exposição da marca do clube.

O título de campeão da Libertadores elevaria o Atlético ao patamar dos maiores clubes do Brasil, não há nenhuma dúvida. Mais do que ultrapassar a divisa nacional, assumiria o posto de dono da hegemonia estadual sem comparações, tal o peso do título de melhor da América.

Mesmo assim, o vice-campeonato, histórico para o Paraná de todas as gentes, não está sendo desprezado pelo clube e torcida, envolvidos diretamente numa briga com o maior rival para se saber quem é mais soberano no ranking do futebol do Estado.

Durante anos prevaleceram os números construídos pelo Coritiba ao longo de sua vitoriosa história, como o título do Brasileiro de 1985 e os 32 títulos estatuais, além das conquistas do Torneio do Povo (1973) e o Fita Azul (1972).

O Atlético sempre figurou como segunda força do Estado. Mas esta realidade começou a mudar ainda nos anos 90, quando começou a tirar da trilha a soberania do Paraná Clube.

De 1995 para cá, enquanto o Coritiba se restringiu às conquistas do campeonato paranaense, o Atlético foi campeão do Torneio Seletivo da Libertadores de 1999, campeão brasileiro de 2001, vice-campeão nacional em 2004, além de vice continental. Isso rendeu à equipe a terceira participação na Libertadores.

O crescimento rubro-negro vem sendo imposto com uma seqüência de conquistas no campo. De 1998 para cá, a equipe conquistou um título por ano e em todos os anos, com exceção de 2004, quando teve que se contentar com o vice estadual e o vice brasileiro: campeão da Copa Paraná (98), campeão do Torneio Seletivo da Libertadores (99), tricampeão paranaense (2000, 2001 e 2002), campeão brasileiro (2001), campeão da Copa Sesquicentenário (2003), campeão estadual e vice da América (2005).

Era Petraglia

O salto de qualidade é resultado da expansão do patrimônio e o domínio absoluto em campo. A era Petraglia, inaugurada em 1995, com a volta do time à primeira divisão, deu ao clube referências de dono do pedaço. Isso levou a parcial e poderosa imprensa paulista a classificar o Rubro-Negro (ao lado do Santos) como "os clubes que mandam no século".

Para o ego atleticano, não é mais errado dizer que seu clube fez em oito anos o que o Coritiba levou 80. O crescimento no patrimônio e imagem transformaram o clube em referências nacional e internacional, com a construção de um centro de treinamento modelo e um estádio moderno.

Paralelamente, o Atlético se atirou no competitivo mercado internacional, buscando know-how para aparelhar seu CT e estádio. Em troca, passou a competir com os grandes clubes fora do País: além de fornecer o primeiro paranaense campeão mundial, foi o primeiro clube nacional a colocar no clube mais poderoso do mundo – o Manchester United – um jogador brasileiro (Kléberson, para os dois casos). Enquanto isso, o CT passou a fazer intercâmbio permanente, com delegações de vários países, permitindo negócios em penca.

Em 2004, o clube passou a ser o maior exportador de jogadores do Brasil. Dezoito jogadores deixaram o País. Isto já acontecera em 2003. Simultaneamente, inaugurou sua primeira escola de futebol fora do Brasil, na China, justamente no seio da economia que mais cresce no mundo. Recentemente, o Atlético foi precursor de uma modalidade de marketing comum em outros países, a "naming rights", que é ceder seu espaço (no caso o Estádio) a uma marca famosa internacional. Pela jogada, o estádio Joaquim Américo virou Kyocera Arena, que rende aluguel durante três anos. O próximo passo será a conclusão da própria Arena, elevando a capacidade para 40 mil pessoas, visando a Copa do Mundo de 2014. Até lá, no mesmo terreno onde está o Colégio Expoente, deverá estar em funcionamento a primeira Universidade do Futebol do Brasil.

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