Alex terá que brigar com Kaká por uma vaga de titular na seleção

O meia curitibano Alex está na cidade, em passagem relâmpago. O craque revelado pelo Coritiba e que encantou a torcida palmeirense e cruzeirense, arruma as malas para uma nova empreitada: vestir a camisa do Fenerbahçe, da Turquia. Antes, porém, ele tem novo compromisso com a seleção brasileira. No mês que vem, ele estará no Peru defendendo o Brasil na Copa América. Nesta entrevista ao Paraná-Online, uma das maiores revelações do futebol paranaense dos últimos tempos fala sobre a nova experiência, antigas conquistas, seleção brasileira e, de quebra, refaz uma promessa: encerrar a carreira com a camisa do Coritiba, seu time de infância.

Paraná-Online

– Tribuna -Você teve uma experiência frustrada na Itália, quando foi comprado pelo Parma. Foram apenas cinco jogos e dois gols marcados. O que deu errado?

Alex

– Na verdade, minha experiência na Itália não deu certo porque o Parma e Parmalat passavam por problemas financeiros e a idéia era comprar jogadores e depois emprestar, para lucrar com isso. Para piorar, eles passaram a não pagar e comprei briga pra conseguir jogar. Quando voltei, em 2001, o último treinador queria que eu ficasse, mas acabou não havendo acordo, um pouco em função da briga que eu tive com o clube. Naquela época, estava bem adaptado à cidade e à cultura italiana. Agora, na Turquia, espero ter uma nova chance de me firmar no mercado externo. (Ainda sob contrato com a Parmalat, Alex foi emprestado ao Flamengo e ao Palmeiras)

Paraná-Online

– Tribuna -Você é um jogador extremamente habilidoso e no futebol turco sabe-se que a técnica não manda no jogo. Isso pode prejudicá-lo?

Alex

– Certamente a questão da habilidade me preocupa um pouco, porque o futebol turco é meio parecido com alemão, priorizando a força à técnica. Mas a proposta do Fenerbahçe foi realmente muito interessante do ponto de vista financeiro. Minha idéia inicial era acertar com o Barcelona. Os dirigentes estavam interessados e o Ronaldinho Gaúcho estava dando uma força. Jogar no futebol espanhol era ideal, mas como não tenho dupla cidadania e eles já têm muitos estrangeiros, a transação ficou inviável. Além das conversas com o Barça, havia mais sete clubes interessados, de Portugal e Espanha, mas de menor porte. Do Fenerbahçe, não queria ouvir sequer a proposta, apesar do Figger (o empresário Juan Figger) insistir. As portas foram se fechando e decidi pesquisar sobre o futebol turco. Eles fizeram uma boa proposta e me conquistaram. Se não fosse muito vantajoso, nem sairia do Cruzeiro.

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– Tribuna -O futebol turco não é televisionado e comentado aqui no Brasil. Você não teme que jogando lá reduza as chances na seleção brasileira?

Alex

– De fato, a visibilidade do futebol turco é menor, mas o Parreira me conhece bem. Acho que a desvantagem maior é mesmo a questão das diferenças técnicas e da cultura local. No futebol turco, também existe a fama de maus pagadores, mas nisso estou confiante. Afinal, foram alguns meses de conversas. Estou indo pra lá agora, volto para a Copa América e me mudo em definitivo após a competição. Minha esposa Dayane e minha filha Maria Eduarda vão depois da Copa e isso me ajudará na adaptação.

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– Tribuna – Qual a importância para você de estar no grupo de vai disputar a Copa América?

Alex

– Na verdade, a Copa América perdeu um pouco da magia, agora que é disputada de dois em dois anos. Em 99, quando fui campeão, havia um sentimento diferente, talvez pela perda da Copa da França, no ano anterior. A base era a mesma do mundial e teve um significado especial, como um sentimento de consolo. Hoje, a seleção brasileira não leva o time principal, assim como adversários do peso da Argentina. Isso faz perder um pouco o encanto, mas sei que serei importante no grupo e vou com muita disposição.

Paraná-Online

– Tribuna – De certa forma, você acredita na Copa América como uma chance a mais de conquistar uma vaga na equipe titular, já que o apoio maciço da torcida você já tem?

Alex

– Não, necessariamente. Lógico que a disputa da Copa América me dará uma nova chance de mostrar meu potencial e que todo o apoio da torcida me deixa feliz. Entretanto, o Parreira já deixou bem claro qual time considera titular e este time tem Kaká. Minha briga é direta com ele. Por isso, quando Ronaldinho Gaúcho se machucou, eu sabia que não entraria, mesmo com toda a expectativa criada pela torcida. É uma questão de posicionamento.

Paraná-Online

– Tribuna – Hoje você “briga” com Kaká, mas já brigou com muita gente. É complicado defender a seleção com tantas feras nos gramados?

Alex

– No Brasil, a concorrência é sempre muito forte. Tenho certeza que se eu jogasse em alguma seleção européia, das que estão disputando a Eurocopa, seria titular. Mas no Brasil não é fácil. Quando comecei, há 12 anos, nas seleções de base, tinha Rivaldo e Djalminha na principal. Agora tem Kaká, Diego disputando. É uma briga boa. O Brasil revela novos talentos a cada ano. Hoje, na disputa do Brasileiro, tem jogador 86, 85. Quando me profissionalizei, com 17, era uma raridade no meio de atletas experientes.

Paraná-Online

– Tribuna -O que doeu mais para você: ficar fora do grupo que disputou a Copa do Mundo de 2002 ou ser eliminado nas oitavas-de-final das Olimpíadas de Sydney?

Alex

– Certamente, foi ser eliminado nas oitavas-de-final de final nas Olimpíadas, porque aquilo estava nas nossas mãos, tinha como influenciar. No caso da Copa do Mundo de 2002, fiquei decepcionado, mas foi uma decisão do treinador (Luiz Felipe Scolari), na qual eu não poderia interferir. Mas não foi minha última chance e ainda vou disputar um mundial.

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– Tribuna -Você teve uma boa passagem pelo Cruzeiro em 2001, mas acabou dispensado por orientação do técnico Marco Aurélio. No ano passado, a história foi diferente e você acabou sendo o herói do título brasileiro. Foi a volta por cima?

Alex

– Quando saí do Cruzeiro a primeira vez nutri o desejo de voltar, porque gosto muito do clube. Tive essa oportunidade e não deixei passar em branco. O fato de ter sido importante na conquista inédita do Brasileirão e de termos ganhado tudo o que disputamos, foi emocionante. Agora, o pessoal do Atlético Mineiro não tem como diminuir o Cruzeiro, pois o time também tem o título brasileiro agora.

Paraná-Online

– Tribuna – Você demonstra muito carinho pelo Cruzeiro e pelo Palmeiras. Dá para dizer que apesar de você ter “nascido” coxa-branca e ter começado no Alviverde seu coração hoje é dividido?

Alex

– Não, não dá. Quando eu parar de jogar, voltarei a ser torcedor do Coritiba, apesar de não esconder o carinho pelo Palmeiras e pelo Cruzeiro. No Palmeiras, conquistei três título inéditos e no Cruzeiro levantei a taça de campeão brasileiro, deixando o time de igual para igual com o Atlético Mineiro. Mas ainda vou voltar ao Alto da Glória e encerrar minha carreira no Coritiba, disso eu tenho certeza. É projeto de vida.

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