Agassi, uma história de adversidades e sucesso

São Paulo – Nunca seus pais, Mike e Elizabeth, assistiram a um jogo seu no players box, um espaço nas principais quadras que é reservado a familiares, amigos e comissão técnica. Uma cena tão comum entre os jogadores de tênis, mas que jamais aconteceu com Andre Kirk Agassi, verdadeiro nome de um dos maiores e mais carismáticos tenistas de todos os tempos, com uma história de vida marcada por várias adversidades e muito sucesso.

O mais perto que seu pai chegou foi assistir pela televisão do players lounge, ainda no antigo estádio Louis Armstrong, em Flushing Meadows, a final do US Open de 1994, em que Agassi conquistou um de seus 8 títulos de Grand Slam. São dois nos Estados Unidos (1994 e 99), quatro no Aberto da Austrália (1995, 2000, 2001e 2003), mais um em Roland Garros (1999) e outro de Wimbledon (1992).

A distância de seus parentes mais próximos reflete um início de vida de infortúnios. Seu pai, Mike, chegou aos Estados Unidos como um ex-boxeador iraniano e que disputou pelo seu país de origem as Olimpíadas de 1952. Por causa do boxe, foi parar em Las Vegas, onde prestava serviços em cassinos. Ao voltar para casa do trabalho, acordava os filhos ainda de madrugada e os fazia treinar tênis até a exaustão.

Tam, uma das irmãs de Andre (a outra chama-se Rita), passava por freqüentes apuros e não eram raras as vezes que vomitava em quadra. O irmão mais velho, Phillip, também não agüentou a rigidez do pai e logo afastou-se do esporte, embora tenha tentado trabalhar como técnico de Andre no início da carreira.

O único a demonstrar nervos de aço foi mesmo Andre, que já no meio de sua carreira profissional foi quem deu suporte à mãe e a uma das irmãs que tiveram, em períodos próximos uma da outra, de enfrentar doenças graves.

Andre chegou à academia de Nick Bolletieri, aos 16 anos, como um garoto prodígio. Em seu livro autobiográfico My Aces, My Faults (alguma coisa como "Meus acertos, Meus erros"), o treinador descreve Agassi como um garoto de Las Vegas briguento e raçudo. "Queria que escrevessem seu nome com acento no final, André, pois dizia que esta era a origem", diz ele no livro.

Bolletieri conta ainda que o menino era fascinado pelos seus longos cabelos. Ora o pintava de vermelho, ora de verde. Conta-se que ao cortar o longo rabo de cavalo, que usou até quando pôde para disfarçar a calvície, combinado com bonés, Agassi guardou os fios em uma caixa que tem até hoje.

A vaidade fez Andre Agassi pagar caro por suas ações. Não que tenha entrado em dificuldades financeiras, mas andou por lugares e ambientes que não eram os seus. Depois de um caso com a atriz e cantora Barbra Streisand – muitos anos mais velha do que ele -, o tenista investiu num relacionamento com a também atriz Brooke Shields. Os dois se conheceram por fax.

Agassi se perdeu de amor por Brooke Shields, criou barriga e perdeu o foco no tênis. Atordoado com a separação, viu sua carreira desviar-se. Virou cliente, dos mais assíduos, dos restaurantes mexicanos. Entre burritos, fajitas, nachos e cervejas bem geladas, seu físico estava bom para jogador de bilhar. Para tenista, não. Seu ranking despencou e quando tudo parecia um fim de carreira melancólico, ele ressurgiu das cinzas e voltou a liderar o ranking mundial e a conquistar títulos do Grand Slam.

Agassi mostrou o seu lado briguento e raçudo, como já havia previsto Nick Bolletieri. Chegou ao seu preparador físico Gil Reyes e pediu desesperadamente ajuda, uma saída. Com horas e horas de treinos em academia, boca fechada e a contratação do técnico Brad Gilbert, sua vida mudou… e para melhor.

Família

De um jeito ou de outro, a família está sempre ligada à vida de Andre Agassi. O tenista costuma dizer que um homem só é forte se souber dividir e só vai estar feliz se fizer mais. Em outubro de 2001, ele dividiu sua vida com Stefanie Graf, dona de 22 títulos de Grand Slam, e nos anos seguintes fez mais. Nasceram seus filhos Jaden Gil (homenagem a Gil Reyes), em 2001, e depois Jaz Elie, em 2003.

Steffi e as crianças hoje ocupam um lugar no players box. Pai dedicado, ele abraça seus filhos com carinho e amor ao final das partidas. E com a esposa, costuma fazer jantares apaixonados, trocando carinhos e gentilezas, como a de puxar cadeiras em restaurantes.

Na quadra, Agassi provou estar em plena forma, mesmo aos 35 anos. Por isso, quando o assunto é aposentadoria, esquiva-se com uma frase de pai de família. "Tenho de trabalhar. E o que sei fazer é jogar tênis. Por isso, vou continuar trabalhando", acentuou Andre Kirk Agassi após a final do US Open de 2005, quando foi derrotado pelo suíço Roger Federer.

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