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O amor dos farmacêuticos Francelise Bridi Cavassin, 37 anos, e Eduardo da Silva Barbosa, 40, transcende o relacionamento de um casal. Juntos há nove anos, eles levam esse amor para as causas humanitárias que atendem, por intermédio da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF veja explicação no quadro). Diferente da maioria dos casais, que relaxa em viagens de férias, Francelise e Eduardo vão doar o seu conhecimento profissional em causas humanitárias ao redor do mundo.

Francelise é professora universitária e, durante as férias (dezembro a fevereiro), sai em missões pelo MSF. Eduardo, ao contrário, passa o ano viajando em missões. Por isto, o casal se vê pouco. Este ano, por exemplo, se viram um total de sete semanas. Mas eles não ligam, pois entendem que a causa que defendem é algo maior.

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Edital

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Edu fez seu primeiro trabalho para a entidade no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 2008. Ele ficou por um ano. “Eu comecei a pesquisar sobre o MSF e vi que é uma entidade muito respeitada ao redor do mundo. Lá eu também encontrei um respeito pelo meu trabalho como em nenhuma outra empresa por onde passei”, conta Eduardo.

Nesta época, Fran já tinha se candidatado para ser voluntária da entidade, escondido da família. Mesmo já tendo duas pós-graduações e atuado de coordenadora de farmácia hospitalar, não foi aprovada, porque não tinha experiência com HIV. Então ela analisou as exigências e começou a montar um currículo direcionado.

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Em 2010, Eduardo foi recrutado para sua primeira missão como expatriado (quando o voluntário atende missão em outro país) em Serra Leoa. Ele já estava lá trabalhando quando o MSF Brasil fez uma exposição nas capitais brasileiras, para divulgar a entidade. Fran se voluntariou para arrumar a exposição em Curitiba.

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Recadinho

Na exposição, havia um mapa mundi com as fotos de brasileiros que estavam em missões ao redor do globo. Era possível escrever recados de incentivo aos voluntários. “Era muita gente. Então eu selecionei só os três colegas de profissão e escrevi um recado igual para todos. Três meses depois o Edu me mandou um e-mail agradecendo a mensagem”, disse Fran.

A partir disto, os dois começaram a trocar e-mails. Já que o sonho dela era sair em missão, passou a perguntar muitas coisas a Edu, o que fez ela criar uma admiração muito grande por ele. Em fevereiro de 2011, Edu voltou de Serra Leoa e convidou Fran para visita-lo no Rio de Janeiro, onde morava. Seriam apenas três dias, já que ele estava escalado para outra missão de quatro meses na Somália. Ela foi, o amor surgiu e o namoro começou.

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Safari

Relacionamento do casal começou em um safari na África. Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná

Em quase toda missão de MSF, os expatriados ganham uma semana de folga. Então Edu convidou Fran para fazer um safari com ele na África. Foi a segunda vez que os dois se viram pessoalmente. A terceira foi quando Edu encerrou a missão e veio a Curitiba conhecer a família dela.

A partir daí, a felicidade de Fran se completou. Primeiro ela foi aprovada para a sua primeira missão, de sete meses na Índia. Depois, ela já estava na Índia e Edu na Ucrânia, quando ambos aproveitaram a semana de folga para se encontrarem em Istambul, na Turquia, onde ele a pediu em casamento.

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Noivos, eles queriam se conhecer melhor e, meses depois, conseguiram algo que é muito raro em MSF: trabalharem “juntos”. Na verdade, eles foram para a mesma missão, na Serra Leoa, por 12 meses. Mas Edu trabalhava num local e ela em outro, visto que MSF não permite certos relacionamentos dentro do ambiente de trabalho. Mesmo assim, conseguiam se ver nas horas livres e se conhecer melhor, já que estavam noivos e tinham convivido pouco pessoalmente. Na volta da viagem, compraram uma casa juntos, se casaram e Edu veio morar em Curitiba.

O que é o MSF?

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias sociais (guerras, epidemias, etc.) ou naturais (terremotos, furacões, etc.). Também é missão de MSF chamar a atenção do mundo para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos. MSF não tem fins lucrativos, é apolítica e suas ações são 96% custeadas por doações. Quer ser doador? Veja no site do MSF.

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Unidos pela causa

O amor dos farmacêuticos Eduardo e Francelise só aumentou, pois segundo Fran, ela cultiva uma admiração enorme por Edu. E ele acha maravilhosa a forma como ela se entrega às causas humanitárias. E por isto o relacionamento dá certo, mesmo o casal passando tanto tempo distante.

“Um dá força ao outro, incentiva a ir às missões, porque há muita gente no mundo que precisa deste trabalho”. Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná

“Um dá força ao outro, incentiva a ir às missões, porque há muita gente no mundo que precisa deste trabalho. Muita gente não entende, nos critica por deixar o parceiro longe tanto tempo. Mas nossa visão é outra. E as missões são tão intensas, o trabalho é tão envolvente, que não dá tempo de pensar muito na saudade”, diz ela, que sacrifica até mesmo Natal, Ano Novo e o aniversário de Edu, que é dia 23 de dezembro, em prol das missões, visto que ela só pode sair quando está de férias da faculdade que dá aulas. “E a minha experiência com as causas humanitárias enriquece muito o meu trabalho em sala de aula”, diz ela.

“A saudade aperta mesmo quando eu vejo ela passando pelo check in do aeroporto. O coração aperta. Às vezes ela quer estar junto no meu aniversário. Mas a gente sabe o quanto as missões precisam e um dá força ao outro”, diz Edu, com um olhar apaixonado.

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Foto: Arquivo Pessoal

Família

Sobre filhos, Fran e Edu dizem que ainda não possuem uma resposta. “O amor que a gente desenvolveu é além de nós dois. A gente se conheceu nesse mundo. A gente tem essa criançada que atendemos mundo afora. Nós cuidamos de muitos filhos por aí e nos sentimos muito amados por eles”, explica Fran.

Sorrisos que valem a pena

O casal conta de uma experiência muito feliz que tiveram em Serra Leoa. Bem na frente do estoque de medicamentos que trabalhavam havia um menino de quatro anos, que passava o dia vendo o pai costurar. Um dia, o pai do garoto perguntou se tinham algum dinheiro para lhe dar, para pagar o transporte até a clínica do MSF, do outro lado da cidade, pois o filho estava doente. “Era coisa assim de uns R$ 5. A gente deu e ele levou a criança. Dias depois, o menino apareceu com uma sacola cheia de frutas para nos presentear. E uma cartinha de agradecimento, que ele pediu para um dos nossos colegas traduzir do idioma local para o inglês”, conta Fran.

“No Natal, compramos um presente pra ele. Era um joguinho. Quando entregamos, ele pegou o pacote na mão e ficou olhando para o pai, sem saber o que fazer, porque não sabia o que era. Eles não possuem estas tradições por lá. Foi então que o pai disse que era um presente e que ele poderia abrir. Ele já sentou com um sorriso enorme, começou a brincar. Nas despedidas, a gente às vezes atravessa campinhos de futebol cheios de crianças te abraçando. São sorrisos que valem a pena”, diz Edu.

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Dificuldades

É claro que nem tudo é “lindo” nas missões. Em locais de guerra, desnutrição infantil ou surto de ebola, por exemplo, os expatriados lidam com muitas coisas tristes. Em algumas comunidades atendidas não há saneamento básico. Até mesmo os voluntários tomam banho de caneca e fazem as necessidades na latrina. “Com tudo isso a gente aprende a não julgar, aprende a valorizar muitas coisas, não faz tempestade em copo d’água. Nossa magnitude de problemas como casal é outra”, explica a farmacêutica.

Apesar de tudo, o casal diz que tem gerenciado tudo isso de forma tranquila. “O MSF tem toda uma equipe de apoio, psicólogos, psiquiatras. Qualquer ‘abalo’ seu já tem uma equipe pronta pra te atender. Se você sente saudades da família na hora eles já abrem o Skype pra você falar com quem quiser. E se você não aguentar, pode voltar pra casa”, explica Fran.

Edu já não trabalha tanto na “linha de frente” como Fran. Sua tarefa, com a qual ele faz carreira em MSF, hoje em dia é a de gerenciar os estoques de medicamentos. “Existe a preocupação de que esteja tudo em ordem, que não falte medicamentos, pois a maioria vem de navio e demora de três a quatro meses para chegar. Tem que ter tudo programado, previsto com antecedência. E não podemos pedir a mais, para ter de ‘reserva’, pra não estragar. Tudo em respeito ao dinheiro do doador, pois um dinheiro ‘gasto a mais’ poderia estar indo para outra missão. A responsabilidade é enorme”, explica Edu.

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