Curitiba

Unidos pela paixão por carros clássicos, pai e filho viram ‘melhores amigos’

Paixão e dedicação do jovem Augusto fez Swami voltar para a sala de aula. Paixão compartilhada por carros aproximou pai e filho

Dizem que, em família, muita coisa passa ‘de pai para filho’, não? Mas quando essa máxima se inverte, e os filhos inspiram os pais, percebemos o quanto a relação familiar pode ir muito além da compreensão normal. Esse é o caso de Augusto Rieper Silva, de 19 anos, que completou o curso técnico em Manutenção Automotiva no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e acabou despertando em seu pai o interesse em voltar a estudar. Depois de mais de 30 anos longe das salas de aula, Swami Faria da Silva, 57, decidiu que ainda era tempo de aprender.

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Os dois dividem entre si uma grande paixão: carros antigos. “Tudo começou com uma bicicleta antiga que eu vi à venda e resolvi comprar para reformar. Ficou bonita e fui além. Comecei a olhar carros, até que, em 2015, fizemos a maior das nossas aventuras”, contou Swami.
Decididos a comprar um carro antigo para reformar, pai e filho foram até o interior do Rio Grande do Sul buscar um Ford Prefect 1938. “Joguei a metade do valor que o vendedor pedia e ele aceitou, então fomos até lá e comprei o carro, que estava dentro de um barracão”.

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Swami lembra que, quando eles viram o carro, parecia estar bem cuidado. “Mas trouxemos para Curitiba e, quando começamos a mexer, descobrimos que precisava de uma boa geral. Resolvemos fazê-lo do zero e dali em diante começamos a fazer as coisas juntos. Corri atrás de peças e decidimos fazer o carro do jeito original, mas dando o nosso toque como podíamos”.

O empenho acabou fortalecendo ainda mais a parceria dos dois e isso foi reconhecido e premiado em todas as exposições que a dupla participou, devido à raridade e originalidade do carro. “Guto acompanhou ativamente a restauração do nosso ‘velhinho’. Me acompanhava nas visitas à oficina, nas decisões de quais peças trocar e até mesmo de qual cor pintar”, contou Swami. O carro ficou tão perfeito que os dois conseguiram até se integrar a grupos internacionais dedicados ao veículo.

Necessidades especiais de Augusto acabaram levando a família a um caminho que mostrou um amor em comum entre pai e filho. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Necessidades especiais de Augusto acabaram levando a família a um caminho que mostrou um amor em comum entre pai e filho. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Ares de inspiração

Quando Augusto foi concluir o ensino médio, os pais procuraram uma escola que oferecesse também opções de carreira. “Mas no caso dele nós precisávamos encontrar uma escola que também se preocupasse com uma questão específica, já que o meu filho tem dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Foi quando encontramos o Senai”, lembrou Swami. Lá a família encontrou a opção de conciliar a conclusão do ensino médio no Colégio Sesi e o curso técnico em Manutenção Automotiva no Senai, na unidade Boqueirão. “Assim, Guto teve a oportunidade de conciliar um hobby e vislumbrar um mercado para atuar no futuro”, explicou o pai, destacando que a paixão pelos carros motivou diretamente o rapaz a escolher o curso técnico.

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Além de reforçar a paixão, o curso a multiplicou. No fim do ano passado, Augusto terminou sua formação e a história poderia parar por aí, né? Mas não parou. Em abril deste ano, o pai dele, diretor-presidente de uma multinacional, se matriculou no mesmo curso. “Como eu trabalho o dia todo resolvi fazer o semipresencial, que estuda em casa e faz aulas aos sábados. De qualquer forma, ter visto como foi o curso para o meu filho, ainda mais com a questão da dislexia, me motivou a voltar a estudar, mesmo tanto tempo depois”.

Segundo o pai de Augusto, que é formado em engenharia mecânica, voltar pra sala de aula (ele se formou em 1984) tem sido uma experiência única. “Muito interessante. Acabei convidando alguns amigos e um deles aceitou. Então estou eu e meu amigo, que somos os ‘mais velhinhos’, no meio da garotada. Tem o contraste, mas ao mesmo tempo em que vemos que temos experiência, tem uns meninos que já estão num nível bem à frente”, brincou Swami.

Relação fortalecida

Atualmente, a dupla já trabalha a reforma de um novo carro: uma pick-up F100 1964. Desta vez, a ideia é transformá-lo em um ‘Hot Rod’, que seria um carro moderno, seguro e veloz, com aparência de um automóvel antigo. “Este é o nosso ‘dino’, de dinossauro, por ser grande e barulhento. Como não temos uma oficina, contamos com ajuda de um mecânico que faz o trabalho, mas o carro vai ficar muito show”, disse Swami, reforçando ainda que pensa em montar alguma coisa, como uma oficina de restauração, mais para frente, para que possa trabalhar ao lado do filho.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

A paixão por carros, além de inspirar o pai a fazer um novo curso, ainda os aproxima mais a cada dia. “É difícil o dia que vamos dormir sem conversar ou trocar mensagens sobre veículos, corridas, drifts, ou seja, tudo que tem motores e rodas”, disse o pai. Já para Augusto, que fala muito pouco (mais por timidez do que pela dislexia em si), a relação com seu pai só melhorou. “A gente sempre foi parceiro, mas agora ficamos ainda mais amigos”, comentou o rapaz. “Pra nós foi uma surpresa e isso fez com que ele se desenvolvesse muito. Deixamos de ser pai e filho para sermos amigos”, completou o pai.

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Conquista celebrada

A gerente de educação profissional do Sistema Fiep, Vanessa Sorda Frason, disse que o Senai enxerga com bons olhos o que aconteceu com pai e filho. “Isso só mostra às pessoas que nunca é tarde e sempre há coisas a serem aprendidas e desenvolvidas. Nesse caso, eles aliaram um hobby da família a uma formação técnica e acabaram se unindo muito mais enquanto pai e filhos e desenvolvendo uma atividade que é agradável para os dois”.

Vanessa destacou que, no caso de Augusto, o atendimento foi diferenciado, mas ­ assim como disse à Tribuna do Paraná o próprio rapaz ­ ele era visto como um aluno comum em sala de aula. “Trabalhamos com uma metodologia de inclusão desses alunos, então todo o processo pedagógico de trabalho em equipe, de desenvolvimento de projetos, favorece o atendimento destes alunos. Existe, sim, um acompanhamento especial, mas quando há necessidade. O que buscamos é incluir estes alunos no dia-a-dia das necessidades pedagógicas”.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná.
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná.

Segundo Vanessa, as relações familiares são fundamentais para o aprendizado. “Trabalhamos sempre para o desenvolvimento profissional e que todas as competências sejam potencializadas. Temos inúmeros casos de alunos que saem do sistema e conseguem alcançar novos voos. A nossa ideia é sempre colocar os alunos no mercado de trabalho para desenvolver todas as competências possíveis”, concluiu a gerente de educação, destacando ainda que as inscrições estão abertas para o segundo semestre.

Para conferir a unidade mais próxima e encontrar mais informações sobre matrículas, acesse os sites do Sesi ou do Senai, ou entre em contato por telefone 0800-648-0088.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504