Vamos viajar pelos sabores do mundo?

machboos

Por Gisele Rech (@giselerech)

Nos idos da Copa do Mundo de 2018, quando eu ainda era editora de esportes na Tribuna e já transitava pelo jornalismo gastronômico, ensaiamos uma coluna que promovesse diálogo entre o futebol e a comida, mas, a rotina alucinante da redação, deixou o projeto na gaveta.

O consolo, digamos assim, foram algumas demandas de pautas sobre comidas nos estádios sul-americanos durante a Libertadores de 2019. Os estádios de futebol, aliás, são, com o perdão da brincadeira, prato cheio para que, como eu, adora um bom petisco. Jamais esquecerei o pão com bife da Vila Capanema ou o suco de lulo, uma frutinha cítrica comum na Colômbia, que provei no estádio do América de Cali.

No Bom Gourmet, da Gazeta do Povo, onde estive nos últimos anos, aprimorei minha vocação para a escrita de gastronomia, que hoje é objeto de estudo da minha investigação de pós-doc em Lisboa, de onde escrevo para você, leitor!


Começamos a nossa Viagem Gastronômica, uma extensão do quadro que mantínhamos no Mundo Bom Gourmet, na Mundo Livre FM, falando da comida dos países que disputam a Copa do Mundo de 2022. E, convenhamos, assunto é o que não falta, né?

E, vejam só! Nosso primeiro encontro já veio com tom desafiador. Como o Brasil só estreia na próxima quinta-feira (24), nada mais justo que começar a nossa série de publicações falando um pouco da gastronomia do Catar, ou, catari, usando o devido gentílico. Há dois dias do mundial, a cervejinha foi proibida nos estádios, mas, eu garanto: comida por aqui não vai faltar! A abertura será no domingo, entre Catar e Equador.

Apesar de já ter viajado bastante em busca de novos sabores, ainda não tive oportunidade de ir a o Catar para desvendar as delícias gastronômicas de lá. Mas, como a minha vertente investigadora está afiada, descobri algumas coisas interessantes após alguma pesquisa.

Pela posição geográfica que ocupa, ao Oeste da Ásia, tem influência da gastronomia de países como Índia, Líbano e da porção mais ao norte da África. Por isso, a comida e os pratos do país que sedia a Copa do Mundo de 2022 costuma ser bem temperada e aromática, com a ajudinha de ingredientes como cardamomo, cravo e cominho. Este último, é sempre bom lembrar, é um ingrediente-chave na preparação do barreado, um dos símbolos da gastronomia dos paranaenses.

Só para citar alguns pratos bem tradicionais do Catar, temos o doce Balaleet, feito com aletria ou macarrão cabelo de anjo, temperado com açúcar, cardamomo e água de rosas, que leva uma omelete no topo. Tem também a Saloona, um ensopado de carnes que pode, segundo pesquisas preliminares que carecem ser aprofundadas (voltaremos ao tema), incluir carne de camelo, inerente à cultura dos beduínos, os nômades das arábias.

Mas, qual não foi minha surpresa e alegria ao descobrir que a receita compartilho com vocês tem aquela coisa linda que é a culinária afetiva. A chef Noon Al Mazroei começou a cozinhar ainda menina, colada ao fogão da avó. Foi com a matriarca que ela aprendeu a fazer o Machboos, um dos pratos mais tradicionais do Catar e que lembra, até certo ponto, a nossa galinhada – ah, os diálogos da gastronomia!

A gente reproduz aqui a receita da chef catari e convida você a se arriscar na cozinha e contar o resultado aqui no Viagem Gastronômica. Em tese, todos os ingredientes são acessíveis, exceto o limão negro, ou loomi, que é o limão convencional seco, com um fundo entre o fermentado e o defumado.

É, claro, que, quando nos deparemos com algo desconhecido, fomos atrás na Cipria, a maior referência quando o assunto é tempero e especiarias em Curitiba. Mas, como o produto não tem uma versão industrializada, não pode entrar legalmente no Brasil. “Não tem muito o que substituir. Talvez, o limão em conserva”, sugere Saulo Calliari, o mestre por trás da Cipria.

Já assuntei com alguns chefs aqui de Portugal, que me garantiram que, por aqui, o limão negro chega, tranquilamente. Vamos tentar! E, por aí, quem aceita o desafio?

Bora cozinhar!

Foto: Canva

Machboos                                                                      

  • 1 frango inteiro
  • 2 xícaras de arroz basmati
  • 1/2 xícara de cebola branca em cubinhos
  • 1/2 xícara tomates picados
  • 1/4 xícara de salsa picada
  • 1 colher de sopa de alho ralado
  • 1 colher de gengibre ralado
  • 2 pimentas verdes
  • 4 colheres de sopa de bazar do Catar (mistura de especiarias)
  • 1/4 xícara de óleo vegetal

Massala

  • 1 xícara de sementes de cominho
  • 1 xícara de sementes de coentro
  • 1/2 xícara de gengibre em pó
  • 1/2 xícara de canela em pó
  • 1/2 xícara de cúrcuma em pó
  • 1/2 xícara de pimenta preta moída
  • 1 colher de sopa de açafrão moído
  • 1/2 xícara de limão negro moído (loomi) ou o que, na sua opinião, pode substituir o ingrediente raro

Preparo do prato

Pique a cebola em cubinhos e misture com o gengibre, o alho e a pimenta;

> Adicione a mistura em uma panela com óleo aquecido em fogo médio e doure;

> Acrescente a massala*, o sal e o tomate e deixe no fogo até os ingredientes murcharem;

> Corte o frango ao meio e coloque na panela, virando para que os dois lados peguem o tempero;

> Adicione 3 xícaras de água fervente e reduza o fogo para baixo, tampe e cozinhe por 40 minutos;

> Transfira o frango para uma assadeira e leve ao forno a 180 °C por 10 minutos ou até dar uma leve dourada;

> Retire metade da água que sobrou na panela e adicione o arroz. Cozinhe até que o arroz tenha absorvido todo o líquido e esteja cozido. Transfira o arroz para uma travessa e coloque o frango por cima.

Preparo da massala

Asse o cominho e coentro até dourar. Passe por um moedor ou amasse com um pilão. Misture bem com os demais ingredientes e está pronta a sua mistura mágica, que vai dar todo o sabor catari ao prato.

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