Maior toró na cidade. O pronto-socorro vira ponto de encontro dos acidentados no trânsito. Atropelamentos, colisões, quedas de moto, engavetamentos. São dias de cão para o resgate, para o hospital e, claro, para os feridos. É a ambulância que não consegue chegar, o gesso que não seca, o centro cirúrgico lotado, a unidade intensiva socada de motociclistas.
Segundo pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, em dias chuvosos os acidentes no trânsito mais que duplicam. Reflexo, em parte, da água infiltrando o cérebro de muitos condutores. Não, não é apenas culpa da pista escorregadia, do prejuízo da frenagem ou da visão reduzida pela chuva. Em dias assim, o que torna o nosso plantão um inferno é o câncer do excesso da velocidade.
Chamo isso de Síndrome de Senna.
Acreditando ser como o famoso piloto, o cara tem a convicção de dominar a técnica de guiar na chuva em alta velocidade. Peço perdão se você for um desses condutores, mas quer saber? É você quem atropela, machuca, mutila e mata as pessoas. Dentro da sua falsa percepção de bom condutor existe um perigoso personagem do trânsito. E quando assume o risco da direção rápida em situações adversas, você fica a um passo – talvez menos – de se tornar aquilo que a nossa sociedade mais despreza.
Hoje um portador dessa síndrome invadiu uma calçada no Boa Vista, atingindo um senhor em um ponto de ônibus. Pelos ferimentos, o automóvel estava com muita pressa. Agora, o paciente está em uma maca no corredor porque não há vaga no centro cirúrgico. Fraturas diversas, suspeita de lesão medular e uma instabilidade hemodinâmica que deixa a gente de cabelo branco. E embora receba um potente analgésico na veia, seus olhos transmitem uma expressão de dor que sequer me atrevo a imaginar.
O condutor foi liberado pela polícia no local do acidente. Isso deveria me espantar de alguma forma, mas não. Enquanto consideramos esse tipo de sujeito um criminoso em potencial, ele desfila por aí como um verdadeiro piloto profissional.
Vai lá campeão, nos impressione. Uma hora você consegue.