O Cobom aciona para ocorrência grave com trabalhador da construção civil. Trata-se de mais um QDL em Curitiba. As Quedas de Laje, ou quedas de plano elevado, têm ocorrido com certa frequência. Em parte, talvez, pelo boom imobiliário que a cidade tem experimentado.
É horário de rush, não há tempo a perder. A guarnição ganha rapidamente as ruas com ambulância e auto busca para salvamento. Faço uma oração enquanto mastigo nervoso minhas pastilhas para o estômago. As luzes e as sirenes tentam abrir caminho pela ignorância de muitos motoristas que estão se lixando para a preferência das viaturas.
É emergência, cara. Se não entende a magnitude da palavra, pelo menos tente imaginar que poderia ser alguém importante para você. No final das contas, o trajeto de cinco minutos leva quase meia hora.
– Viaturas 8345 e 9179 no local – comunicamos pelo rádio.
Os colegas do resgate montam rapidamente os dispositivos para um rapel improvisado. O operário encontra-se em um fosso escuro de uns quatro metros de profundidade. Ao que parece, estava sem capacete e a tela de proteção do segundo piso encontrava-se solta. Sim, esse é o dia a dia da nossa construção civil.
Com a lanterna vejo que ele se encontra em decúbito ventral, em um silêncio que assusta.
– Já era – penso comigo.
A descida é complicada, mas quando consigo alcançar o paciente sorrio aliviado por ele estar consciente. Apesar da intensidade da dor, ele não apresenta sinais de choque ou de sangramento ativo. Diversas escoriações e prováveis fraturas de pelve e de fêmur. A pelve, imobilizamos com lençol. Para o fêmur usamos o tracionador. Colar cervical, tábua longa e o trabalhador está pronto para ser suspenso pela corda.
A caminho do hospital vou pensando se alguém realmente se importa com a segurança desses operários. E mais, fico imaginando se algum dia a realidade deles vai melhorar.
Inocência a minha, né?
Olha só
Em 2012 nosso Corpo de Bombeiros registrou, apenas em Curitiba, 950 quedas de plano elevado. Dessas, 15 pessoas foram a óbito (Fonte: CB-PMPR).