Mal-vindo

Algo ruim acontece.

Essa onda gigante de crise econômica tem acertado a todos com força. Alguns aguentarão firme, mas muitos já estão se afogando.

Honestamente, não me lembro de ter visto tantos pacientes do “particular” vindo bater na porta da saúde pública. Hospitais, pronto-socorros, unidades básicas de saúde… diariamente assistimos assustados a uma multidão de recém-desempregados que, além do precioso e necessário trabalho, também acabaram ficando sem plano de saúde.

É difícil dar as boas vindas no SUS. É difícil estar no SUS.

Não que os convênios de saúde sejam grande coisa, pelo contrário, mas esse inchaço nas filas da rede pública piora algo que já estava ruim há muito tempo.

Como explicar para um infartado que o cardiologista, que ele precisa consultar sem falta amanhã, só irá atendê-lo daqui a uns nove meses? Ou então, como pedir ecografia para uma gestante, sabendo que muitas só serão chamadas para o exame após darem à luz? E como prescrever um medicamento que não tem na farmácia básica, sabendo que a família não terá condições de comprá-lo? Mais que isso, como explicar que o medicamento comprado é diferente – e melhor – do que a ’farinha’ muitas vezes entregue pelo SUS?

Muitos falam que a nossa saúde pública apresenta ilhas de excelência de atendimento, como no caso dos transplantes e vacinação. Talvez estejam certos. Tão certos quanto dizer que a maioria dos pacientes está bem longe dessas ilhas, mergulhados no descaso de um oceano sem fim.
Pois é, sejam todos bem-vindos.