Nunca houve uma vedete tão escandalosa quanto ela

Ela era filha de paranaense, nasceu em São Paulo e passou o resto da vida no Rio de Janeiro. Ela foi terrível. É impossível descrever para o mundo permissivo de hoje o que significou entre os anos 30 e os anos 60 a presença de Elvira Pagã – vedete de corpo escultural, considerada na época escandalosa, despudorada, imoral, desbocada, desaforada e outros adjetivos. Ela foi a primeira mulher na vida de Daniel Filho, cujos pais produziam seus espetáculos no Teatro Follies de Copacabana. Foi a primeira mulher a usar biquíni no Brasil, em 1950, na praia de Copacabana. E foi a primeira mulher famosa a posar nua – e ainda mandava fotos para amigos e admiradores no fim do ano como cartão de Natal. E foi a primeira mulher a fazer plástica nos seios no Brasil. No fim da vida virou sacerdotisa.

Elvira Olivieri Cozzolino era filha de paranaense com um norte-americano. Ela nasceu no dia 6 de setembro de 1920 em Itararé e morreu no dia 8 de maio de 2003, no Rio de Janeiro para onde a família, que era pobre, se mudou entre os anos 20 e 30. A sua vida atribulada começou aos 13 anos quando se casou com um milionário chamado Eduardo Duvivier, que tinha 39 anos. O casamento foi anulado algum tempo depois. No território amoroso e sexual as proezas de Elvira Pagã variam entre inacreditáveis e impublicáveis – ela confessou mais tarde que sua vida foi uma orgia sem fim. Desta orgia participou até o ator americano Errol Flynn, que Elvira, já na velhice e ainda desbocada, dizia ter “uma coisa enoooorme”.

Mas Elvira não ia com qualquer um, ela quem escolhia – por refugar um delegado carioca ela acabou perseguida por vários anos e foi em cana várias vezes e até espancada. Antes de ser vedete, foi cantora do rádio com a sua irmã Rosina e participou de oito filmes, dos quais três são considerados clássicos do cinema nacional. Lançou 13 discos e escreveu vários livros, muitos dos quais difíceis de serem compreendidos porque se trata de sua interpretação da Civilização Atlântida e de seres extraterrestres, pilares da seita que fundou depois que abandonou os palcos. Com Rosina, ficou conhecida como Irmãs Pagã, dupla de sucesso no rádio até o dia em que ela brigou acusando a outra de roubar seu caderno de endereços.

A dupla se desfez e a irmã foi morar nos Estados Unidos, onde casou com um político e morreu no dia 3 de fevereiro de 2004 em Los Angeles, aos 94 anos. Rosina dublou filmes para Walt Disney e fez filmes sem importância. Foi ela quem fez a voz da cadela no filme de Walt Disney “A Dama e o Vagabundo”. Embora atritadas, Rosina sustentou Elvira depois que ela abandonou a vida artística e resolveu virar sacerdotisa. Antes de virar sacerdotisa, a experiência religiosa mais forte de Elvira se resumia em colocar trabalho de macumba na porta do camarim de outra vedete famosa na época – e que foi assassinada -, chamada Luz del Fuego, que também usava o mesmo expediente contra a rival. Quem ficava apavorado com aquela guerra de macumba eram os colegas das duas. Del Fuego, por sinal, ficou famosa também por posar pelada, com um detalhe: enroscada em uma cobra. Del Fuego também era maluca e fundou o Partido Naturista Brasileiro.

Não raro, Elvira ia parar na cadeia. Como em 1951, porque pulava Carnaval em trajes sumários – quase nua. Cadeia e manchetes de jornais eram frequentes em sua vida. As manchetes do tempo em que Elvira Pagã estava no auge eram semelhantes a estas, que são reais: “Elvira Pagã atacada por tarado no interior do camarim”, “Policial depravado é repelido pela vedete”, “Elvira Pagã cria um caso político”, “Elvira Pagã é barbaramente espancada”, “Elvira Pagã cumprirá pena na Penitenciária de SP”, entre outras. Doidona e imprevisível, ela expulsou de sua casa a turma do Pasquim. “Aquele tarado do Ziraldo disse que encheu uma piscina de tanto pensar em mim”, contou ela certa vez. Não vou nem escrever do que ele encheu a piscina. Com tanta piração, quem acabou virando fã dela foi a cantora Rita Lee. Que também é maluca, mas nunca teve um corpo escultural.