Paraná emancipado, capital escolhida; o presidente provincial e o 1° jornal

Busto de Zacarias na praça que leva o seu nome, no Centro de Curitiba. Foto: Marcelo Elias (Arquivo)

Tudo se resolveu nos altos escalões. Até mesmo o nome do atual estado foi determinado de cima para baixo. Foi assim que se definiram os rumos da província recém-emancipada do Paraná. O termo, que em guarani significa Rio Grande ou Grande Água ou “rio semelhante ao mar”, não chegou a ser sequer alvo de consulta dos moradores da época, que foram surpreendidos com a decisão do Império.

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O rio Paraná era muito distante da então futura capital, Curitiba. Como escreve o jornalista Jorge Narozniak, para chegar lá o caminho mais fácil para um morador de Curitiba era pegar um navio em Antonina ou Paranaguá, fazer escala em Montevidéu e Buenos Aires, subir pelo Rio da Prata e, aí sim, entrar nas águas do Rio Paraná. Era uma localidade totalmente distante da população. Nessa época, esse rio era praticamente desconhecido por parte da população local, que habitava majoritariamente a região leste do estado.

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Em 1853, quando o atual território do Paraná se separou da província de São Paulo, o baiano Zacarias de Góes e Vasconcelos tornou-se o primeiro presidente provincial do Paraná. Aos 38 anos, ele e sua esposa Carolina foram recebidos com festa pela população.

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Escolheu como a primeira sede do governo o Sobrado Bittencourt, próximo da atual Rua Barão do Rio Branco, em Curitiba. Apesar de ficar no cargo apenas até maio de 1855, Zacarias teve a dura missão de organizar a província. Encomendou estudos para a construção de estradas que ligassem Curitiba ao litoral, determinando a construção da Estrada da Graciosa, que só foi completamente concluída em 1873.

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Também dividiu a província em três comarcas: Curitiba, Paranaguá e Castro. Criou ainda uma companhia policial para dar segurança à sociedade. Além de incentivar a edificação de várias escolas primárias. Zacarias escolheu Curitiba como capital por ser a cidade mais ao centro, entre Castro e Paranaguá – mesmo que as duas localidades fossem mais povoadas no período, como escreve José Francisco da Rocha Pombo.

A capital, nesse período, tinha um pouco mais que 200 casas e, segundo o historiador Renato Mocellin, 5.819 habitantes, dos quais 473 eram escravos. A localização curitibana facilitaria, na visão de Zacarias, a administração da província.

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Durante esse período, em que ainda havia anúncios nos jornais sobre a venda de escravos, a capital sequer tinha farmácia. Um ano depois da

instalação da Província, através de um ofício, Zacarias autorizou José da Silva Murici, do Serviço Sanitário do Exército, a fornecer medicamentos à população pobre da capital. Foi nesse período que Cândido Lopes editou o primeiro jornal do Paraná, ‘19 de Dezembro’, que serviu para a publicação dos atos legais do governo provincial. O ‘19’ também publicava o Folhetim, uma espécie primitiva das novelas dos dias atuais.

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No entanto, mesmo sendo sede da Comarca desde 1812 e considerada “cidade” desde 1842, a estrutura curitibana era extremamente precária: esgoto à céu aberto, falta de escolas e de medicamentos e estradas intransitáveis e sem calçada eram constantes. Era necessário, mais do que nunca, começar a buscar investimentos para estruturar a capital do estado e proporcionar condições mínimas para a população viver. Coube ao Zacarias assumir as rédeas desta missão.

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