Existiam índios em Curitiba? Uma história de mais de 10 mil anos

Imagem gerada por inteligência artificial / BING

Um território tomado por aproximadamente 200 mil indígenas. A maioria pertencente aos ancestrais dos atuais povos Kaingang, Xokleng, Xetá e Guarani (que na época eram chamados Carijós devido à plumária dos adornos que usavam). A história do que conhecemos hoje como estado do Paraná remonta há mais de 10 mil anos. Antes da “descoberta” dos colonizadores europeus, a área era habitada por indígenas que foram surpreendidos com a chegada do homem branco.

Os primeiros povos que chegaram ao Paraná eram oriundos das terras andinas e amazônicas. Nesse período, conforme detalha a pesquisadora Cláudia Parellada, arqueóloga do Museu Paranaense, o clima era mais frio e seco, com a vegetação predominante de campos e cerrados. Faziam grandes lanças para caçar aves, pequenos mamíferos e roedores, além de praticarem a pesca.

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Os primeiros ocupantes eram caçadores-coletores e nômades, mesmo aqueles que produziam seus alimentos. Estes, pela natureza das suas atividades, permaneciam nos lugares por períodos mais prolongados.

Tal mobilidade explica a rápida dispersão do grupo pelo território, criando uma falsa impressão de que o ocupavam completamente. Segundo Cláudia, as variações climáticas explicam parte das rotas seguidas por alguns grupos para facilitar a busca por alimentos. Além disso, disputas de poder, mudanças por mortes e capturas também motivaram as constantes migrações indígenas.

Em Curitiba

Antes da chegada dos colonizadores na região de Curitiba, a região onde hoje fica a capital paranaense era dividida entre as etnias Jê e Tupi-guarani. Os registros dos primeiros povoadores europeus que se fixaram em terras curitibanas – Baltazar Carrasco dos Reis e Mateus Leme – datam de 1661. Nesse período, escravizar índios era, infelizmente, habitual na região – como em todo o Paraná.

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“A escravização de indígenas e a constante procura de metais teriam, por consequência, ainda na primeira metade do século 17, a ocupação portuguesa em terras do litoral e do primeiro planalto paranaenses”, ressaltam Altiva Pilatti Balhana, Brasil Pinheiro Machado e Cecília Westphalen.

O historiador Gustavo Pitz ressalta que durante este processo de invasão/ “colonização”, os indígenas que não morreram em conflitos ou por infecções virais e bacterianas, ou que não foram escravizados, fugiram. “Muitos se deslocaram para terras mais distantes de Curitiba, como os Kaingang, que se concentraram cada vez mais em Ponta Grossa e Guarapuava”, escreve.

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No entanto, antes do início da colonização portuguesa na atual capital paranaense, praticamente toda a Região Norte de Curitiba pertencia aos indígenas da família linguística Jê, provavelmente com aldeias kaingang e Xokleng. Na Região Sul de Curitiba, estavam concentradas as etnias da família linguística Tupi-guarani (possivelmente guaranis, mbya e nandeva). Essas informações constam no livro Missões: Conquistando almas e territórios”, no qual os autores Cláudia Inês Parellada e José Luiz de Carvalho publicaram um mapa da distribuição dos povos indígenas no Paraná nos séculos 16 e 17.

A ocupação do planalto de Curitiba iniciou, cerca de 4 mil anos atrás, com a chegada dos indígenas Proto-Jê, ou Itararé-Taquara, que, além de serem ceramistas, viviam em aldeias e são os antepassados das etnias kaingang e xokleng-laklãnõ.

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Por 2 mil anos, as populações da família linguística Jê ocuparam sozinhos esse território, o que explica a profusão de vestígios arqueológicos deles em todas as áreas. As ondas migratórias da família Tupi-guarani começam a aparecer, para se ter ideia, no início da contagem do calendário gregoriano, na época de Cristo.

O próprio nome “Curitiba” possui origem indígena e deriva dos termos Curiytiba e Curityba, vindos do guarani e tupi, que significam abundância de pinheiros. Curiy (pinheiro) + Tuba (sufixo de bastante).

Atualmente

O Paraná tem 30.460 indígenas autodeclarados, de acordo os dados do Censo 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação com os dados do Censo anterior, de 2010, o Estado registrou um aumento de 14% na população indígena, que era de 26.559. O número representa 0,27% da população total do Paraná, que é de 11.443.208 habitantes. Em 2010, a participação da comunidade indígena na população total do Estado era um pouco menor, em 0,25%.

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