O nascimento do transporte coletivo de Curitiba; das carroças aos bondes

Bonde elétrico. Foto: Nani Gois/SMCS ARQUIVO

Se atualmente Curitiba ainda é considerada uma das referências nacionais e, até mesmo, mundiais quando o assunto é transporte coletivo, o começo foi marcado por uma certa desordem. Durante as primeiras décadas do século 20 uma confusão tomava conta das ruas.

O crescimento do tráfego naquela época misturava no mesmo ambiente pedestres, automóveis, bondes elétricos, bicicletas e carroças de tração animal, como mulas e cavalos. Para tentar colocar ordem nesse cenário, uma lei municipal de 1919 determinou que veículos, tanto os automotivos quanto os de tração animal, devessem andar pelo lado direito da via a fim de não prejudicar a circulação dos bondes.

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A preocupação com os bondes fazia todo sentido. Manter carro era privilégio de poucos. O uso dos bondes era, assim, a principal alternativa para grande parte da população se locomover pela cidade.

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O primeiro transporte coletivo de Curitiba teve o modelo importado da França, segundo o pesquisador Raul Urban, um dos autores de “A História do Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba”. “Tinha 16 bancos de madeira, para dois passageiros cada, mas a maioria viajava em pé. O peso de cada bonde era de 1,2 mil quilos vazio. Com a capacidade total de, em média, 50 passageiros, o peso chegava a duas toneladas e atingia uma velocidade média de 5,4 km/h”, conta.

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A empresa Ferro-Carril Curitibana, dirigida por Boaventura Clapp, foi a responsável por implantar os bondes na capital paranaense. A atividade era exercida mediante contrato entre Clapp e a Câmara Municipal.

O bonde foi inaugurado em 8 de novembro de 1887. Esse primeiro bonde, que era de tração animal, ligava o Boulevard 2 de Julho (atual início da Avenida João Gualberto) ao bairro do Batel. Em 1903, já se transportavam 680 passageiros por ano.

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Em 1895, oito anos após a criação da pioneira “Empreza Ferro Carryl Curitybana”, os bondes passaram ao controle do italiano Santiago Colle. Em 1911 chegou o material destinado para a eletrificação dos bondes. Teria início uma verdadeira revolução no setor para a época. No ano seguinte, houve a implantação dos trilhos. Em abril de 1912 chegaram à capital do Paraná os 29 primeiros bondes motorizados e, a partir de agosto, foram realizados diversos testes dos novos equipamentos.

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Em janeiro de 1913 os bondes elétricos tiveram as linhas inauguradas e começaram a circular oficialmente em Curitiba. Isso não significou o imediato abandono dos bondes movidos à tração animal. Os dois modelos conviveram durante um breve período, mas não tardou para que todas as linhas se eletrificassem.

A chegada dos bondes elétricos, que eram fechados e contavam com tecnologia francesa – cobrando tarifa de 300 réis –, inaugurou um novo ciclo na história local dos transportes. No fim da década de 1920, mais precisamente em 1928, as primeiras lotações e auto-ônibus começaram a perambular na cidade por iniciativa da recém-criada Companhia Força e Luz do Paraná.

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Mas neste primeiro momento as pessoas ainda preferiam os bondes devido às tarifas mais caras cobradas pelas lotações. Os bondes só deixariam de circular em 1952, quando foram substituídos totalmente pelos ônibus.

A partir de então, o resto é história. Vieram diversas inovações, como as canaletas exclusivas e as estações-tubos, que revolucionaram o setor e colocaram Curitiba como referência na área.

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