Mudar ou… mudar

Manoel Almeida Neto

Não há outra alternativa. O modelo atual é o mesmo do final da década de 60, quando surgiram as primeiras empresas privadas de saúde. Nesses quase 40 anos o Brasil e o mundo mudaram radicalmente.

As operadoras de planos de saúde (OPS) continuam com o foco na doença. Desconhecem hábitos de vida, vícios, condições habitacionais, de relação e padrão alimentar dos seus clientes, que hoje respondem por 40% das causas de morte no mundo.

A obesidade mórbida, por exemplo, já compromete mais de 500 mil pessoas no mundo e 1,5 bilhão estão acima do peso normal.

Doenças decorrentes do fumo e álcool ceifam milhões de vidas todos os anos. As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), dentre elas a aids, avançam de forma avassaladora, principalmente nos países mais pobres, como é o Brasil. Apesar das notícias otimistas que são divulgadas, estima-se no Brasil um total de 650 mil pessoas infectadas com HIV, sendo que aproximadamente 12 mil morrem a cada ano.

Isso tudo sem falar em câncer de mama, ginecológico, de próstata e intestino, não obstante terem diagnóstico cada vez mais acessível, ainda incidem numa proporção inaceitável.

Mudar ou… mudar. Esta é a questão primordial, sem a qual a saúde suplementar brasileira tem destino irreversível como os montepios dos anos 60s, que desapareceram e deixaram os seus clientes literalmente "falando sozinhos". O foco é a saúde. As carteiras devem manter-se sadias tanto quanto possível.

Para isso, é indispensável a aplicação de alguns programas já disponíveis:

Promoção à saúde – segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), representa uma estratégia de mediação entre as pessoas e seus ambientes, sintetizando escolhas pessoais e responsabilidade social em saúde para criar um futuro saudável. Veja que isso demanda apenas conhecimento de gestão e relacionamento entre as OPS e seus clientes;

PPPF – Programa de Parceria de Produtos Farmacêuticos – que já existe no mercado e visa facilitar o acesso dos clientes para adquirirem os produtos farmacêuticos para seu tratamento a preços acessíveis. Hoje, 80% dos brasileiros que vão a médicos não compram os remédios receitados, ou seja, continuam doentes, gerando elevados custos para as OPS.

Gerenciamento de casos crônicos e doenças – programa também intimamente ligado à competência de gestão e ao conhecimento. Com ele, além de melhorar a qualidade de vida dos usuários, as OPS reduzem custos com re-internações, exames e terapias, pois movimentam as pessoas para a linha da vida saudável.

Outros programas devem ser aplicados com o intuito de tornar a vida dos usuários mais saudável e, quando isso efetivamente acontecer, poderemos dizer que as OPS comercializam planos de saúde e não, como hoje, que só disponibilizam planos de doenças.

Manoel Almeida Neto é presidente do Instituto da Gestão em Saúde.