Carli Filho no banco dos réus (finalmente)

Amanhã começa um dos julgamentos mais esperados dos últimos anos. Senta no banco dos réus do Tribunal do Júri o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho. Já são nove anos desde o acidente de trânsito que matou dois jovens, na madrugada do dia 7 de maio de 2009. Até hoje o caso arde na justiça, como ferida aberta.

Isso só acontece porque a justiça brasileira permite um imenso número de manobras recursais. Nenhuma das adotadas pela defesa do réu, diga-se de passagem, foi ilegal. Mas permitiram, até agora, a liberdade do acusado. Que pode até ser absolvido. Sem que tudo isso levasse tanto tempo.

O interesse pelo desfecho da história é enorme. No Tribunal do Júri, é da sociedade a responsabilidade de julgar, representada por sete jurados. 45 pessoas já foram eletronicamente sorteadas. A lista tem 25 titulares e 20 suplentes. Todos devem comparecer amanhã. Momentos antes do início da sessão, um novo sorteio definirá os sete componentes do conselho de sentença.

Cartas finais

A defesa tentou esgotar todas as possibilidades de evitar que o julgamento acontecesse. A última estratégia foi tentar tirar as sessões de Curitiba, alegando que a comoção popular é muito grande, a ponto de influenciar decisivamente os jurados contra o réu.

Mas, se a culpabilidade é decidida pela sociedade, como tirar do palco principal do acontecimento o poder de deliberação?

Para os não ambientados ao mundo jurídico, tudo isso assusta muito. Ao mesmo tempo que defendemos o estado democrático de direito e o irrestrito cumprimento das leis, concordamos que muitas delas precisam ser revistas. Códigos de processos podem e devem ser modernizados.

O instituto na ampla defesa não pode servir de justificativa para um caso se arrastar anos e anos. Isso faz a sociedade sangrar e desmoraliza o Poder Judiciário.

Esta terça-feira marca, portanto, o início da cicatrização de uma grande ferida. A previsão é que a sentença saia em dois dias. Fim da história? Não. Novos recursos são possíveis no Tribunal de Justiça. Mais um bom tempo, portanto, de indefinição. Mas pelo menos a sociedade curitibana terá cumprido o seu papel.