Quando a bola é coadjuvante

Passando a Copa do Mundo a limpo, pouco antes das oitavas, meia dúzia de três ou quatro pontos chamam a atenção e ficam na memória.

Um, os torcedores coreanos contratados para fazer figuração junto às torcidas mais nanicas. Uma claque absolutamente disciplinada, capaz de animar até o show do Faustão. Aplaudem até fratura exposta.

E aquela câmera de televisão montada no alto de uma grua, atrás da trave, o que é aquilo? Manipulada por coreaninho postado no gramado, ela não perde um lance, fica por cima dos acontecimentos. Aqui no Brasil, conhecemos a traquitana, onde o operador fica lá no alto, feito um macaco.

Pois sim, assistimos a debacle francesa e argentina: pau a pau, ganharam os argentinos pela dramaticidade, pela cena do Batistuta chorando, sentado no meio fio do campo – lembrando a expressão de Nelson Rodrigues.

Mas o ponto alto desta Copa, até porque fica realmente no ponto mais alto, são as gigantesca telas de televisão postadas acima do público, uma em cada extremo do estádio. É o terceiro olhar do torcedor, um totem que tudo vê, tudo mostra, tudo julga.

Passam a impressão, as telonas, que o momento do riplei é a melhor parte do espetáculo, onde o público confere que valeu o preço do ingresso. E confere, especialmente, que a maioria da arbitragem não é do ramo.

Vamos anotar: têm um grande futuro, as gigantes telonas. Em breve, o torcedor vai também interagir – eta, palavrinha de torrar! – com ela, em pleno andamento da partida.

– O atacante estava ou não estava na banheira? Disque 000999000, pelo celular – e a opinião da maioria vai pra telona.

– Intervalo da partida, quem o torcedor acha que deve ser substituído? Disque 000999000 e aquele beque do Felipão vai pro banheiro mais cedo.

– Atenção torcedores: esta criança, de nome King Hu-Hai, está perdida no estádio. Quem conhecer, informar pelo celular 000999000 – na telona, a cara do guri, no maior berreiro.

– Atenção, distinto público: vamos escolher a mais bela torcedora presente: Estelita, 18 aninhos, modelo e atriz, representando a seleção da Argentina – e aparece a gigantesca imagem da loiraça, para o delírio da galera. Maria da Glória, 19 anos, universitária, representando a seleção do Brasil – urros e apupos, quando aparece o close dos poderosos seios da morena do interior paulista. Será um sucesso: mais redondas que a bola, é delas que a galera gosta.

Muito mais, as telonas podem incrementar a presença do público nos estádios, especialmente no Brasil.

No campeonato nacional, por exemplo, jogam Gama e Arapiraca: a partida é pra boi dormir, mas o público sai ganhando, na maior diversão, pois no telão está passando o filme vencedor do ultimo Oscar, com Julia Roberts e mais tudo o que a galera gosta.

Até domingo, véspera de mais uma animada madrugada, pela telinha.