Pitonisa e o mico-de-sete-cabeças

Se Deus é brasileiro, a sacerdotisa Pitonisa também nasceu no Brasil. Sobre a nacionalidade do Todo-Poderoso, há controvérsias. Sobre a origem brasileira de Pitonisa, não resta a menor dúvida. Basta observar milhares dessas brasileiras prognosticando o futuro da nação: – Serra vai pro segundo turno com o Lula e – agora vai! – o petista será eleito presidente! – O time do Felipão, por eliminação, está condenado a ganhar o penta! – Com quem a Jade ia ficar, isso todas as pitonisas já sabiam, bem antes da Glória Perez.

Está comprovado, em se tratando de política, nossas pitonisas costumam antecipar o futuro, até porque a maioria delas é do PFL. Mas, em se tratando de Copa do Mundo, é bom ficar com uma chuteira na frente, outra atrás. Nossas pitonisas costumam chutar muito e bem pior que atacante da Costa Rica. Usando a cabeça, então, são desastrosas.

Mesmo arriscando pagar um mico, daí por que apostei também um jantar, com um vizinho de redação, que não passamos pela Bélgica nesta segunda-feira. Não que eu considere o time da Bélgica um fenômeno, no sentido que empregam ao Ronaldinho. Eles apenas formam um timinho típico do futebol europeu, quase uma versão vermelha dos bonitinhos da Itália. O que considero um fenômeno, isso sim, são os beques do Felipão. Um fenômeno no sentido de uma anomalia da natureza. Um mico-de-sete-cabeças, que não sabe usar nenhuma delas dentro e nas imediações da pequena área.

Assim, pitonisa brasileira que também sou, vou torcer para pagar o jantar e o mico. Pagar um mico tão grande quanto o mico que os jornalistas Carlos Alberto Pessoa e Walmor Marcelino pagaram em 1970.

Meses antes da Copa no México, os nobres e brilhantes colegas, também pitonisas, lançaram um livro retumbante: Por que o Brasil NÃO vai ganhar o tri.

Não lembro, o título pode até não ser exatamente esse. Mas o espírito da obra era bem este: uma antecipada prova escrita do fracasso brasileiro no México.

Deu no que deu, um mico-leão-dourado. Quase o mesmo mico que pretendo pagar, mas não tão dourado, caso o mico-de-sete-cabeças passe pela Bélgica amanhã de manhã.

MAMÃE, OLHA EU AQUI

O paranaense Kléberson já levou o título de Papagaio de Pirata desta Copa do Mundo. Pode observar: foto do Ronaldinho chegando ao hotel, tá lá o Kléberson no fundo, carregando uma mala. Outra foto, com o goleiro Marcos defendendo um chute do Rivaldo, tá lá o Kléberson encostado na trave. Não se assuste, portanto, se aparecer no jornal uma fotografia das agências internacionais mostrando as atrocidades da Palestina e, à direita de um tanque israelense, no fundo, o Kléberson.

Até quarta-feira, quando pretendo pagar o jantar – e o mico – no restaurante Tortuga, na maior felicidade.