Em Tempo – Um casamento que voou pela janela

Adaptando uma velha piada, é o caso do casamento do Tavinho com a Dorita. Passados quase dez anos entre tapas e beijos, assim sem mais nem menos, optaram pelos tapas.

Não por parte do Tavinho, que era só de paz e madrugadas de tragos com os amigos. Bem ao contrário da Dorita, do lar, com cara de poucos amigos e boa de muque.

Assim, a convivência ficou impossível: dia sim, dia também de boêmia, Tavinho tinha que arrumar uma nova explicação pra tantas manchas da testa pra baixo. E o que era pior: tanto levava porrada, que virou folclore entre os vizinhos. Uma vergonha, mas separar de Dorita, isso nunca, jamais!

Daí que ele apelou para um amigo psicólogo, que aconselhou:

– Tavinho, para contornar essa situação, pelo menos no âmbito da vizinhança, faz o seguinte: sempre que ela te enfiar a mão na cara, não grita de dor, não reclama, que cabrito bom não berra. Inverte a situação: ela bate e você faz de conta que está batendo. Você leva o tapa, mas devolve no berro: – Apanha, vagabunda! Se levar um joelhaço dela, retruca: – Isto é pra você aprender, ordinária!

Tavinho aprendeu e fez a lição de casa. Sempre que recebia um tapa na orelha, respondia alto à altura: – Apanha, desgraçada!

E assim passavam os dias: Dorita batia, Tavinho interpretava que batia e a vizinhança se convencia que, enfim, tinha homem na casa.

O plano, bem combinado entre o psicólogo e o coitado do Tavinho, até que deu certo. Só não convenceu Dorita, a boa de muque.

Naquela madrugada, Tavinho cumpriu o expediente de sempre: chegou no trago, altas horas da madrugada e foi bater o ponto com a Dorita, que esperava na porta da cozinha: um tapa na cara, um soco no olho, um joelhaço. Quase rotina.

Cansada de bater e ele fazer o papel de macho, uma Dorita enfurecida resolveu acabar de vez com a farsa: pegou Tavinho pela cintura e – vupt! – jogou o traste pela janela, lá do décimo oitavo andar do apartamento.

Na queda, a vizinhança ainda ouviu as últimas palavras do Tavinho:

– E fique sabendo, ordinária!… nunca mais volto pra casa!

O senador Bornhausen é quase Tavinho, quando jura que nunca mais volta pro velho e bom lar, doce lar!

Até domingo, na maior paz.