Curitiba está até o teto

Esse mundo é mesmo uma bola e não é só na Copa do Mundo. Correr o mundo pelas asas de qualquer companhia aérea virou produto quase de armazém popular, disponível para qualquer mortal. Qualquer mortal com cartão de crédito no bolso, ora pois! Voar no circuito França, Oropa e Bahia, qualquer um, até uma criança, com a devida autorização do juizado de menores, faz. O que não é pra qualquer um é conseguir voar pra Curitiba e botar o pé na terra. Neste início de semana, todo mundo que olhou pro céu viu: no céu de Curitiba, passarinha voava de costas, tantos aviões circulavam além neblina de São José dos Pinhais.

O congestionamento aéreo na “Terra dos aviões” era tamanho, que deve inspirar agências de turismo e companhias aéreas a oferecer, para esta temporada de inverno, um tentador e surpreendente pacote:

– Conheça Curitiba nas nuvens, com opção de um hotel cinco estrelas em São Paulo, Foz do Iguaçu, Porto Alegre, Florianópolis ou qualquer outro ponto do sul do Brasil que disponha de aeroporto. Com teto!

No aeroporto de Guarulhos é anunciado assim o vôo para Curitiba: Senhores passageiros do vôo 123 para Curitiba, partida pelo portão 4. Retorno pelo portão 5.

Os comandantes das aeronaves já decoram o texto:

– Esta aeronave deve sobrevoar Curitiba durante os próximos 30 minutos e a aterrissagem será realizada logo a seguir. No aeroporto de Joinville.

A tripulação de bordo já se acostuma com o cardápio para os vôos com destino a Curitiba. Assim que a aeronave decola do Rio de Janeiro, é servido um café da manhã. Com direito a almoço no mercado público de Florianópolis.

Se alguém duvidava que Curitiba é uma cidade de primeiro mundo, o nosso aeroporto é a prova provada: é a única capital do sul do mundo onde o passageiro, antes de desembarcar no destino pré-combinado, ainda tem direito a milhagem extra para qualquer outra capital brasileira, com mordomias e custo zero.

Diálogo em Fortaleza:

– Vai viajar pra onde?

– Bem, comprei passagem para Curitiba, onde vou fechar negócios com uma empresa distribuidora de coco verde. Mas não tenho certeza.

– Como assim, não tem certeza se vai vender coco verde?

– É que se o aeroporto de Curitiba continuar sem teto, tô pensando em fechar negócio com uma distribuidora de Foz de Iguaçu, Joinville, São Paulo…vai depender do teto.

Pois é: se Curitiba já tinha os sem-terra, os sem-casa, agora temos os sem-teto. O cidadão sem-teto é facílimo de identificar. É um camarada engravatado, falando feito desesperado num celular. E arrancando os cabelos.

Mas não tem nada, não. O curitibano, que apesar da neblina também é brasileiro, sempre dá um jeitinho e faz do limão uma limonada:

– Querida, estou aqui em São Paulo e só vou poder voltar pra casa amanhã. Chego, se chegar, pro almoço.

– Já sei, vai dizer que está sem teto!

– E não esta?

– Só se está faltando teto nos motéis de São Paulo. Aqui em casa estou arranhando os chifres no teto faz tempo, seu canalha!

Até sexta-feira, com ou sem teto.