A Hipsterização de tudo

Por mero descuido – ou por qualquer outro motivo -, de uns tempos para cá, tudo o que não é genuinamente massivo passou ser chamado de “hipster”, palavra que parece ter sido promovida a sinônimo de alternativo. Essa caracterização, que beira o pejorativo, começou com a música – dando a pecha de Los Hermanos a Antony and the Johnsons -, passou pela moda e, como era de se esperar, desembocou na literatura.

Para os que se preocupam com rótulos, o grande ícone hipster da literatura é David Foster Wallace, escritor norte-americano, ainda pouco conhecido no Brasil (o que o torna ainda mais hipster) e que, no auge de seu tormento pessoal, cometeu suicídio. Dono de uma prosa complexa e pouco popular, Wallace escreveu “Infinite jest”, “Piada infinita”, em tradução livre, considerado o verdadeiro oráculo literário de todo jovem hipster – e também dos graduados – que deve ganhar em breve (ou nem tanto) uma edição brasileira, sob o alforje do curitibano Caetano Galindo, responsável pela terceira e, até agora, mais recente tradução de “Ulysses”, de James Joyce.

Entretanto, a grande questão é: o que faz de um livro algo hipster? A resposta mais correta é que tudo o que foge do lugar comum causa estranheza e essa estranheza precisa ser codificada e rotulada, gerando, não só os conflitos, mas também uma partidarização desnecessária. Obviamente, os quiproquós literários não são de hoje e também não acabarão tão cedo, porém, dar a um clássico moderno como “Infinite jest” uma carga tão pesada só o afasta do público que, entre trancos e barrancos, poderia se deliciar nas mais de mil páginas desse livro.

Mas o mais importante é que, ao criarmos um estereótipo, para qualquer coisa, inclusive a pessoas, criamos uma segregação que não precisa acontecer e que não tem sentido.