Bar que quase acabou na pandemia mantém cardápio raiz em novo bairro de Curitiba

“Sou o último dos moicanos no bar, levo o sobrenome da família, e iremos completar 70 anos de tradição com comida boa e preço justo”, assim descreveu Jair Teodoro Obrzut, o responsável por comandar o boteco que tem alimentação bruta na estufa, cardápio na parede e petiscos como rim de porco e calibre 12. É o Obrzut, comércio aberto em 1955 no bairro Orleans, em Curitiba, e atualmente, na Rua Moacir Vieira Gomes, no Campo Comprido.

O Obrzut é daqueles botecos que a comunidade conhece e abraça. Se passar no antigo local em que permaneceu por mais de 60 anos, nas imediações do Viaduto do Orleans, na Virgínia Dalabona, ponto importante da urbanização de Curitiba, é impossível alguém não conhecer a fama do bar. 

Vale voltar aos livros de História do Paraná para lembrar que nas décadas de 50, 60 e até 70, não existiam grandes opções de restaurantes e postos de gasolina a cada 20 ou 30 quilômetros como se tem hoje em dia. O caminhoneiro ou mesmo o turista aproveitava para fazer tudo o que dava em um local em que se tinha uma boa comida, combustível e banheiro. O local perfeito nas proximidades da BR-277 era o Obrzut, fundado por Teodoro Obrzut, um descendente polonês. Aliás, as origens do bairro são da antiga Colônia Orleans, fundada pelo presidente provincial Adolfo Lamenha Lins, em 1875 com cerca de 30 famílias de imigrantes poloneses, originalmente batizado de distrito de Nova Polônia.

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“Ali foi parada de ônibus e de caminhoneiros. Existiam poucos postos na cidade, as pessoas comiam e seguiam viagem. A tradição era o pão com pernil, bolinho de carne, cachorro quente, filé de porco, orelha de porco e linguiça caseira. Vendia quase 400 sanduiches por dia, fora os bolinhos de carne. Abria na madrugada e fechava perto das 21 horas”, relembra Jair, filho de Teodoro. 

O pai tentou evitar que o filho ajudasse no dia a dia do bar. Certa vez, ao receber a negativa de Teodoro, Jair trabalhou algumas horas em um mercadinho que ficava na frente do Obrzut. “Com 9 anos, eu comecei a ajudar no bar. Eu pedi, mas não me deixou trabalhar. Atravessei a rua, e fui em um mercadinho chamado Colonial, a dona deu a chance. Na hora do almoço, o pai viu eu saindo, e descobri que naquela tarde, ele pediu a minha demissão no mercadinho. Aí ele me colocou no bar ao lado dos meus irmãos”, disse Jair. 

Com o passar dos anos, os filhos começaram a participar do negócio ativamente. Jair e o irmão Narciso aumentaram o espaço do Obrzut, mas seguindo a tradição de bar raiz. Balcão imenso, estufa com várias opções de comida, molhos, bolinhos de carne, bolovo, vinas, ovos, um banquete perfeito para matar a fome de qualquer um.

“Aquele balcão tinha geladeira. Tenho saudades, móveis pesados. Para ser retirado, o balcão precisou de oito homens fortes para arrastar e fazer uma alavanca para colocar no caminhão. A gente marcava os pedidos a lápis no balcão,  depois apagava quando o cliente ia embora. Era atração”, recorda Jair. 

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Rim de porco e invasão policial atrás da onça

O Obrzut mantém o cardápio original com iguarias como o rim de porco, filé de bucho, carne de onça; os azedos (anchovas, rollmops, ovos, pepino), e sanduíches gigantes como o X-Infarto e X-Tudo. Sem dúvida, o rim é o prato que atrai os curiosos. “Antigamente, o pai matava o porco, hoje compro de um frigorífico de Campo Largo, na Região Metropolitana, um média de 5 a 7 quilos por semana. O rim é bem cozido, molho de tomate e cebola. Come no pão ou direto no garfo. Antes se vendia muito, os jovens acham estranho, assusta um pouco”, brincou Jair que tem na equipe de trabalho a esposa Silvia, o Gabriel, Dirlene, Eder, Emerson e Noely.

Com quase 70 anos vendendo refeições e bebidas, as histórias no balcão dariam um livro com muitas palavras e poucas imagens. Uma dessas foi quando Jair e o irmão Narciso decidiram colocar uma placa anunciado carne de onça. Deu polícia e risada no fim. “Trouxemos da Toca do Tatu a carne de onça. Começou a vender bem, dois policiais entraram no bar perguntando se a gente tinha liberação para vender onça. Meu irmão explicou o que era, e eles foram embora com uma cara nada animadora para risada geral dos clientes”, contou Jair que ainda vende o famoso Calibre 12, vinas aceboladas que parecem um zagueirão da seleção de 74, terceira colocada na Copa do Mundo.

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Do Orleans para o Campo Comprido

A alteração no endereço ainda causa lamentação. O Obrzut estava sendo planejado para atender 800 pessoas, mas veio a pandemia da Covid-19. O fechamento do bar destruiu os planos e o local foi vendido. Para não acabar de vez com a história, Jair procurou outro espaço, e chegou a levar o pai Teodoro para conhecer o atual lugar. “Trouxe meu pai aqui quando ele já estava bem doente. Ele deu um crucifixo que havia recebido do meu avô, e hoje está me abençoando lá de cima”, emociona-se Jair ao falar do pai falecido. 

O cenário é de bar raiz. Mesa no lado de fora, tambores para o cliente colocar a gelada e papo descontraído. No lado interno, cartazes pregados na parede com os pratos, balcão com conservas, estufa com pernil, costela de boi ensopada, salsicha alemã, fatias de bacon, costelinha de porco, tendo acima garrafas antigas e imagens de santos. Que a proteção divina siga abençoando a família Obrzut, os últimos moicanos dos botequeiros.

Serviço: Obrzut 

Endereço: Rua Moacir Vieira Gomes, 49 – Campo Comprido

Telefone: 99624-0487

Instagram:  @obrzut__bar

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