Vozes do golpe – Parte 3

O jornalista Vladimir Herzog (1937-1975) foi um dos símbolos da luta contra o regime militar. Nascido na Croácia, ele veio para o Brasil com a família para fugir do massacre contra os judeus ocorrido por lá durante a Segunda Guerra Mundial. A história desse homem que lutou contra a ditadura está retratada no livro Meu querido Vlado, de Paulo Markun.

Markun e Herzog trabalhavam juntos na TV Cultura e o emocionante relato da amizade dos dois, um “novato” na profissão e o diretor de jornalismo da Fundação Anchieta, é recontada pelo jornalista com pano de fundo do militarismo e, principalmente, a prisão de Vlado, em 24 de outubro de 1975 – ele morreria um dia depois.

A justificativa para prender o croata foi sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), ilegal na época. A denúncia partiu de uma ala descontente com a sua gestão na TV Cultura e culminou em uma convocação para um depoimento na sede do DOI-CODI. Como negou as acusações de participar do PCB, Herzog foi torturado e não resistiu à violência que sofreu.

Inicialmente, a morte foi divulgada como suicídio, mas logo a possibilidade começou a ser refutada. O rabino Henry Sobel, que preparava o corpo de Vlado para o funeral, percebeu no corpo as marcas da tortura. Segundo a tradição judaica, os suicidas devem ser enterrados em um lugar diferente, no entanto, com a constatação da tortura, ele foi levado a um tradicional cemitério israelita, o que significava desmentir a versão oficial para a morte.