Vozes do golpe – Parte 2

O livro deste sábado não é – essencialmente – sobre o regime militar. No entanto, tem importantes capítulos a respeito. Noites tropicais, de Nelson Motta, é um dos maiores e melhores relatos sobre a música a partir da bossa nova, “inaugurada” com o disco Chega de saudade, lançado por João Gilberto, em 1958.

Nelson Motta, mais que coautor de Como um onda e Dancing days, é uma das figuras mais importantes da cultura brasileira e vivenciou diversos momentos da música tupiniquim, incluindo os anos de chumbo do governo militar. Com um certo toque do humor, o jornalista consegue reconstruir episódios não tão felizes para Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que precisaram deixar o Brasil e se refugiar na Europa.

Um dos relatos mais impressionantes é, justamente, do compositor de A Banda, que tinha suas músicas barradas pela censura só por conter seu nome como autor. O que fez Chico Buarque? Inventou um heterônimo, ao melhor estilo de Fernando Pessoa, chamado Julinho de Adelaide, morador de uma favela carioca que nasceu dos beliscões e pisadelas entre um alemão e uma negra. Com essa artimanha, Chico conseguiu ganhar tempo e emplacar alguns sucessos.

Claro, Noites tropicais vale muito também por outros capítulos, mas descobrir como fizeram os maiores compositores do nosso país para sobreviver nos e aos anos de ditadura é uma maneira interessante de entender e compreender o que foram e o que significaram aqueles tempos.